Imprensa francesa analisa pressões internas para ampliação do Brics
A 15ª Cúpula do Brics, até dia 24, em Joanesburgo, é analisada sob vários ângulos pela imprensa francesa. O jornal Libération mostra que diante da perspectiva de ampliação do bloco de países formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o governo brasileiro é contra este projeto defendido por Pequim e Moscou pelo receio de ter sua influência diluída dentro do grupo e, por consequência, no cenário internacional.
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O embaixador Rubens Barbosa, entrevistado pelo Libération, contextualiza essa posição antiga do Brasil, embora o presidente Lula declare estar aberto a discussões. Barbosa pontua que, ao longo dos anos, os países do Brics têm obtido avanços na cooperação econômica, citando, por exemplo, a reforma do sistema de cotas de governança do Fundo Monetário Internacional, modificado em 2015 para dar mais representatividade aos países em desenvolvimento.
A cooperação política, por outro lado, está se mostrando mais complexa. "Os Brics são países muito diferentes, por isso é difícil chegar a uma política externa comum", diz Rubens Barbosa nas páginas do Libération. O exemplo mais recente é o da guerra na Ucrânia. O Brasil foi o único dos cinco a condenar a invasão russa na ONU, embora, assim como seus parceiros, não tenha apoiado as sanções ocidentais. Essa posição reflete a tradição diplomática de não alinhamento da diplomacia brasileira, que poderia sofrer com a ampliação, caso países mais próximos da Rússia e da China ingressassem no grupo, explica o jornal francês.
Ana Garcia, do Brics Police Center, também entrevistada pelo Libération, aponta que o interesse de Pequim e Moscou em ampliar o Brics é reduzir ao máximo a necessidade de negociar com os países ocidentais, o que não interessa para Brasil e Índia.
Interesse em integrar os Brics
Ao menos 22 países formalizaram o interesse em ingressar no Brics, entre eles a Argélia, ex-colônia francesa no norte da África. "Mas, ao anunciar que finalmente é o ministro das Finanças – e não o próprio presidente – que representará o país na cúpula, a agência de imprensa oficial disse quase tudo", observa o jornal Le Figaro. Por enquanto, a Argélia, rica em reservas de gás natural, deve aderir apenas ao Novo Banco de Desenvolvimento do Brics, por meio de uma contribuição financeira.
A revista L'Express destaca que a ausência de Vladimir Putin na cúpula, motivada pela possibilidade de ele ser preso por crime de guerra se fosse à África do Sul, revela que o presidente russo é o único responsável pelo isolamento que ele mesmo criou.
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