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Ex-ministro de Tony Blair convoca Lula a interceder por Ucrânia no jornal Le Monde

Em coluna assinada no jornal francês Le Monde deste sábado (19), Denis MacShane, ex-ministro do Reino Unido para a Europa e as Américas durante gestão de Tony Blair, convoca o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva a se posicionar a favor da Ucrânia na cúpula dos BRICS que acontece na África do Sul, entre os dias 22 e 24 de agosto. 

Vladimir Putin e Luiz Inácio Lula da Silva em foto de 2010 em Moscou.
Vladimir Putin e Luiz Inácio Lula da Silva em foto de 2010 em Moscou. CARL COURT / AFP
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Em uma espécie de carta aberta à Lula, MacShane começa relembrando como conheceu o ex-metalúrgico no início dos anos 1980, quando ele liderava o movimento grevista do ABC paulista, que, segundo MacShane, ajudou a acabar com o regime militar no Brasil.

“Querido Lula, nos conhecemos quando eu era responsável pela América Latina no governo britânico, há 20 anos. (…) Com a criação do Partido dos Trabalhadores, o Brasil finalmente tinha um partido progressista de estilo europeu que mostrava que a democracia brasileira poderia trazer justiça social como a Europa. Pedi aos meus camaradas nos sindicatos europeus para apoiar suas greves e escrevi para a imprensa de esquerda europeia em apoio ao Partido dos Trabalhadores”, recorda.

Na coluna, o ex-parlamentar britânico fala de seu apoio aos sindicatos de operários na Polônia e seu trabalho junto à líderes sindicais na África do Sul durante o regime do apartheid. Acrescentando que em todas as partes do mundo o nome Lula inspirava “a ideia de que aqueles que possuem capital deveriam ser forçados a compartilhar parte de sua riqueza e poder com cidadãos e trabalhadores”.

Denis MacShane, ex-parlamentar do Partido Trabalhista Britânico e ex-ministro de Assuntos Europeus e América Latina do Reino Unido.
Denis MacShane, ex-parlamentar do Partido Trabalhista Britânico e ex-ministro de Assuntos Europeus e América Latina do Reino Unido. CARL COURT / AFP

"Putin odeia a União Europeia"

MacShane cita que o “novo campo de força nos assuntos mundiais” esperado dos BRICS nunca aconteceu. Neste ponto, ele traz à tona o objetivo de sua carta ao presidente Lula: a guerra na Ucrânia.

“Putin odeia a União Europeia. Ele quer ver a UE dividida em pequenos Estados-nação rivais e briguentos que ele possa corromper e eliminar um por um. É por isso que ele invadiu a Ucrânia”, enfatiza MacShane.

O britânico acredita, entretanto, que Vladimir Putin não esperava a reação do povo ucraniano contra os russos. Nem mesmo que as nações europeias se uniriam em apoio à Ucrânia, “abrindo seus lares para milhões de refugiados ucranianos e fornecendo apoio político, financeiro e militar” contra o que MacShane chama de "novo fascismo".

Denis MacShane critica Lula pelo fato de, segundo ele, o presidente brasileiro ter atribuído a co-responsabilidade pela invasão [russa] a Volodymyr Zelensky: “é tomar um incendiário, Putin, por um bombeiro”, acusa. Ao mesmo tempo, afirma entender a “relutância” de Lula em ser visto como parceiro de Washington e da OTAN.  

“Aproveite para pedir a Putin que deixe o território da Ucrânia”

O ex-parlamentar britânico pondera as intenções de Lula na parte em que recorda o envio de Celso Amorim para discutir propostas de paz com Putin: "Você fez de tudo para se mover em direção à paz. Mas o Kremlin insiste em seu direito de realizar um Anschluss [termo que faz referência à anexação da Áustria pela Alemanha logo antes da Segunda Guerra Mundial] em grande parte do território ucraniano", denuncia.

"Por favor, na conferência de líderes do BRICS na África do Sul, de 22 a 24 de agosto, aproveite esta oportunidade para pedir a Putin que deixe o território da Ucrânia. A ONU será mais forte se a agressão de Putin for derrotada. Apoie a ONU, apoie seus amigos na Europa, apoie a paz e o respeito pelas fronteiras", apela MacShane.

Ele finaliza com um questionamento à Lula: "Junto com muitos membros da esquerda democrática na Europa, eu o apoiei por décadas. Podemos recuperar esse Lula e deixar apenas a esquerda radical e a direita antidemocrática da América e da Europa ouvirem as mentiras de Vladimir Putin?".

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