Cientistas querem 'alertar sem causar pânico' sobre derretimento acelerado na Antártica
Enquanto eventos climáticos extremos - como incêndios, ondas de calor, enchentes - são observados em diversas partes do mundo, o derretimento acelerado das geleiras na Antártica faz soar mais um alerta na já complexa questão ambiental. Neste contexto, especialistas em clima criticam mensagens alarmistas, que desinformam a sociedade e não motivam ações concretas, apesar do agravamento real das mudanças climáticas.
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A partir desta segunda-feira (14), cientistas de todo o planeta se reúnem na Austrália para discutir a rápida e talvez irreversível diminuição destas superfícies de gelo. Um fenômeno que pode desencadear um ciclo devastador, acelerando o aquecimento global e o aumento do nível dos mares.
"A Antártica derrete de maneira alarmante" ressalta o título na capa do Libération desta segunda-feira. A edição afirma que, desde o início das medições, nunca esta superfície de gelo esteve tão pequena como em 2023. A cúpula de quatro dias na cidade australiana de Hobart pretende alertar para os riscos que este processo no continente branco representa para o destino da humanidade.
Ainda no mês de maio deste ano, a ONU já havia lançado um importante sinal de alerta, quando por unanimidade os países membros da Organização Meteorológica Mundial decidiram classificar como "prioritário" o estudo das mutações da chamada criosfera.
Uma enorme ameaça
A redução acelerada deste sistema é considerada a informação mais revelante de 2023 para os pesquisadores: apesar do inverno do hemisfério sul, o bloco que se forma pelo congelamento de água salgada do mar tem uma considerável dificuldade em se reconstituir.
Em julho, esta superfície somava 13,49 milhões de km², cerca de 15% a menos de área que a média calculada durante o período de referência para este único mês.
Esta é a menor superfície desde o início das medições feitas por satélite em 1979, de acordo com o Centro Nacional Americano de Dados Sobre a Neve e o Gelo (NSICD, na sigla em inglês).
Uma enorme ameaça para o ecossistema, advertem os especialistas, começando por causar uma disfunção da cadeia alimentar, que afeta a princípio as pequenas espécies até chegar no homem.
Outra consequência devastadora é o desequilíbrio das águas profundas e frias da Antártica, o que interfere diretamente na circulação dos oceanos em todo o mundo, e, por consequência, nos fenômenos meteorológicos.
Contra o alarmismo
Na esteira dos anúncios catastróficos, o jornal Le Parisien se pergunta "Como alertar sobre o clima sem causar pânico?". Os cientistas pedem que não se exagere uma situação já suficientemente grave, e convidam as pessoas a se concentrarem nas soluções.
A ameaça da desaparição das bancadas de gelo da Antártica até 2030 e suas terríveis consequências, o risco da corrente oceânica Gulf Stream entrar em colapso em 2025 e lançar o planeta Terra no inteiro no caos, temperaturas da atmosfera e dos oceanos em níveis recordes. A lista extensa pode soar como o anúncio do fim do mundo para muitos, mergulhando a sociedade em uma sensação de desespero.
Mas essa estratégia de "esperar pelo pior" não é apoiada por unanimidade por especialistas. Eles afirmam que mensagens alarmistas não contribuem em nada para sensibilizar o público, e ainda menos para influenciar as políticas públicas a favor do clima.
Eles alegam que o modelo de "comunicação catastrófica", ao contrário de mobilizar as pessoas, gera a inércia causada pelo medo. E insistem: ao invés de uma comunicação que leva ao pânico, é preciso sugerir medidas concretas, estimulando a ecoansiedade em níveis saudáveis, incentivando as pessoas a agirem.
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