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Talibãs mandam fechar milhares de salões de beleza no Afeganistão

Milhares de salões de beleza geridos por mulheres encerraram suas atividades nesta terça-feira (25), devido à entrada em vigor de um novo e arbitrário decreto dos talibãs. A decisão priva as afegãs de um dos últimos espaços onde ainda podiam trabalhar e frequentar, após a imposição de uma sequência de medidas que ameaçam a liberdade de ir e vir, e mesmo de existir, em quase dois anos de regime.

Mulher passa diante de um salão de beleza fechado nesta terça-feira (25) em Cabul, no Afeganistão.
Mulher passa diante de um salão de beleza fechado nesta terça-feira (25) em Cabul, no Afeganistão. AFP - WAKIL KOHSAR
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A medida foi anunciada por meio de um decreto no final de junho e impôs este 25 de julho como data limite para o fechamento de institutos de beleza geridos por mulheres em todo o país. A decisão faz parte de uma dura política adotada pelos talibãs desde que chegaram ao poder, em agosto de 2021.

Nesses quase dois anos de regime, eles proibiram as afegãs de frequentarem estabelecimentos de ensino secundário e universidades. As mulheres também deixaram de ter acesso a parques, jardins, academias, salas de esporte e saunas. Elas também são obrigadas a usarem a burca integral ao saírem de casa.

“Tínhamos o hábito de vir aqui e passar tempo conversando sobre o nosso futuro. Agora mesmo esse direito nos foi tirado”, afirma Bahara, uma cliente de um salão de beleza de Cabul. "As mulheres não têm permissão para entrar em locais de entretenimento, então o que podemos fazer? Onde podemos nos divertir? Onde podemos nos encontrar?", questiona.

Fonte de renda

Milhares de cidadãs que trabalhavam na administração pública e em ONGs também perderam seus empregos após a chegada dos talibãs ao poder. Algumas delas são pagas para permanecer em casa, sem nenhuma atividade.

Fechando os institutos de beleza gerido por mulheres, os talibãs também as privam do acesso a uma fonte de renda, muitas vezes a única nas famílias. Segundo a Câmara do Comércio e da Indústria do país, cerca de 60 mil afegãs perderão seus empregos em cerca de 12 mil estabelecimentos.

Uma proprietária de um salão contou ter sido forçada a assinar uma carta em que atesta o fechamento de seu negócio e renunciar à sua licença para gerenciá-lo.

"Foi uma cena terrível: eles chegaram com veículos militares e armas", disse ela, falando sob condição de anonimato. "O que alguém pode fazer diante de tanta insistência e pressão?", pergunta.

Gastos extravagantes

O Ministério da Prevenção do Vício e Promoção da Virtude diz que a medida serve para evitar que “gastos extravagantes” ocorram nas preparações das noivas antes dos casamentos. Segundo eles, a prática penalizaria as famílias mais pobres.

Além disso, alguns tratamentos propostos pelos salões não respeitariam a lei islâmica, afirma o ministério. O regime talibã considera que ter muita maquiagem no rosto impede que as mulheres realizem o ritual de limpeza antes das orações. Cílios postiços e tranças também foram proibidos.

Uma cópia do decreto obtida pela AFP indica que a decisão do fechamento dos institutos de beleza foi baseada "em uma instrução verbal do líder supremo" do Afeganistão, Hibatullah Akhundzada.

Na semana passada, dezenas de afegãs participaram de um protesto em Cabul contra a medida. As forças de segurança acabaram com o ato disparando para o ar e usando canhões de água para dispersar as cidadãs.

Locais de encontro

Os salões de beleza proliferaram em Cabul e nas principais cidades afegãs durante os 20 anos de ocupação das forças americanas e da Otan, antes do retorno dostalibãs ao poder. Esses estabelecimentos eram considerados seguros para as afegãs se encontrarem na ausência de homens e também permitiam que muitas delas abrissem seus próprios negócios.

Em relatório apresentado no final de junho ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, Richard Bennett, relator especial para o Afeganistão, avaliou que a situação de mulheres e meninas no país "é uma das piores do mundo".

A "discriminação grave, sistemática e institucionalizada contra elas está no centro da ideologia e do poder dostalibãs", indicou Bennett.

(Com informações da AFP)

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