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Desencontro com Zelensky, crítica a Biden e apoio a Vini contra racismo: o que Lula disse no G7

O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta segunda-feira (22) que estava "chateado" por não ter se encontrado pessoalmente com seu colega ucraniano Volodymyr Zelensky na cúpula do G7. O presidente ucraniano solicitou o encontro bilateral com Lula, mas não compareceu à reunião com o colega alegando um "atraso" em sua chegada à reunião com o chefe de Estado brasileiro, que concedeu uma coletiva à imprensa para fazer um balanço de sua visita e reagir a assuntos da atualidade.

O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva fala durante uma coletiva de imprensa após participar da cúpula do Grupo dos Sete Países em Hiroshima, oeste do Japão, segunda-feira, 22 de maio de 2023.
O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva fala durante uma coletiva de imprensa após participar da cúpula do Grupo dos Sete Países em Hiroshima, oeste do Japão, segunda-feira, 22 de maio de 2023. AP - Louise Delmotte
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O presidente ucraninano, Volodymyr Zelensky, que obteve novas promessas de equipamentos militares e apoio diplomático dos países do G7 em Hiroshima, no Japão, havia pedido para conversar diretamente com seu colega brasileiro.

Mas os dois líderes não se reuniram por causa de "incompatibilidade de agendas" segundo fontes diplomáticas. A reunião perdida, de acordo com Zelensky, provavelmente deixou o presidente brasileiro "desapontado".

"Não fiquei decepcionado", respondeu Lula nesta segunda-feira (22), em uma entrevista coletiva antes de deixar o Japão. "Fiquei chateado, porque gostaria de encontrá-lo e discutir o assunto", continuou. "O Zelensky é maior de idade, ele sabe o que faz", acrescentou.

Lula disse que uma reunião com Zelensky deveria ter ocorrido na tarde do domingo (21), no último dia do G7. Uma sala no hotel onde está hospedado teria sido reservado para o encontro, mas Lula informado que Zelensky se atrasaria. O presidente brasileiro recebeu então o chefe de governo do Vietnã, Phạm Minh Chính, por quase uma hora. "E o presidente Zelensky não veio. Foi o que aconteceu", afirmou.  

Mas o presidente ucraniano chegou atrasado e sua agenda lotada impediu o agendamento de uma nova reunião, explicou. "Não faltará oportunidade para a gente se encontrar e conversar" argumentou. 

No entanto, Lula disse que não via nenhuma razão imediata para se encontrar com Zelensky, afirmando que nem ele nem Vladimir Putin queriam a paz. "No momento, ambos estão convencidos de que vencerão a guerra", disse o chefe de Estado brasileiro.

Ao contrário de várias potências ocidentais, o Brasil nunca impôs sanções financeiras à Rússia ou concordou em fornecer munição a Kiev e está tentando se posicionar, assim como a China e a Indonésia, como um mediador.

Crítica a Biden

Lula gerou polêmica quando disse em Pequim, no mês passado, que os EUA deveriam parar de "incentivar a guerra" na Ucrânia e que a UE deveria "começar a falar sobre paz". 

Os comentários do presidente brasileiro foram duramente criticados por Washington, que acusou o Brasil de "ecoar a propaganda russa e chinesa sem levar em conta os fatos". Mais tarde, Lula mudou de tom, condenando a invasão russa, antes de renovar suas críticas, nesta segunda-feira.

Segundo ele, o presidente dos EUA, Joe Biden, está enviando a seguinte mensagem: "Putin deve se render e pagar pelo que destruiu completamente. Essa mensagem não ajuda", acrescentou.

"Desmatamento zero"

Na entrevista de cerca de 45 minutos à imprensa, em Hiroshima, onde foi convidado a participar da reunião do G7, Lula falou de muitos outros assuntos de política internacional como a agenda global de luta pelo meio ambiente. 

"O Brasil vai assumir o seu compromisso de desmatamento zero na Amazônia até 2030", garantiu Lula. "O Brasil está fazendo uma transição energética muito profunda. O Brasil é o país do mundo que tem energia elétrica mais limpa, 87% da nossa energia é 50% renovável, contra 15% do mundo. No setor da eletricidade, o Brasil tem 87% de renovável, contra 28% do mundo. Então o Brasil tem autoridade moral e política para discutir a questão do clima", garantiu o presidente brasileiro.

"E para que a humanidade possa sobreviver, nós vamos ter em agosto uma reunião com oito países. Todos os países da América do Sul que fazem parte da Amazônia, Equador, Bolívia, Peru, Venezuela, Colômbia, as Guianas e o Suriname. Há, inclusive, a França, se ela quiser, a França tem um pedacinho da Amazônia, porque o país tem a Guiana Francesa, que engloba uma parte considerável do território da Amazônia", sublinhou o chefe de Estado.

Conselho de segurança da ONU

Perguntado sobre as reais mudanças que podem ser feitas para evitar uma tragédia climática, Lula retorquiu com o argumento de uma mudança na governança mundial. "Vamos ser francos, temos o protocolo de Kyoto. Quais países cumpriram o protocolo de Kyoto? Nós temos o acordo de Paris há muito tempo. Quantos países cumpriram o acordo de Paris? Olha, eu tenho dito que nós precisamos ter uma governança global muito forte. É por isso que eu reivindico a necessidade de mudar o conselho de segurança da ONU, colocando mais países. E, ao mesmo tempo, tirar o direito de veto para que você possa decidir uma coisa numa COP e cumprir o que foi decidido", alfinetou.

Vinícius Silva e racismo

Lula também condenou nesta segunda-feira os insultos ao astro brasileiro do Real Madrid, Vinicius Junior, durante uma partida do campeonato espanhol em Valência e exigiu medidas contra o "fascismo e o racismo" nos estádios.

"Ele foi atacado. Ele foi chamado de macaco", disse Lula durante a coletiva de imprensa . "Não é possível, no século 21, que haja um preconceito racial tão forte em tantos estádios de futebol", acrescentou, expressando sua "solidariedade" ao atacante brasileiro. "É injusto que um menino pobre que se deu tão bem na vida, que talvez esteja a caminho de se tornar o melhor jogador do mundo - ele é certamente o melhor no Real Madrid - seja insultado em todos os estádios onde joga", continuou Lula.

Lula pediu à FIFA e à La Liga da Espanha que tomem "medidas sérias". "Não podemos permitir que o fascismo e o racismo se instalem nos estádios de futebol", disse ele. No domingo (21), a torcida do estádio Mestalla, em Valência, onde o Real Madrid perdeu por 1 a 0, insultou Vinicius durante toda a partida. Carlo Ancelotti ouviu o estádio gritar "mono", que significa "macaco" em espanhol, mas um jornalista disse ao técnico italiano que os espectadores estavam, na verdade, gritando "tonto", que significa "idiota", sem convencê-lo.

Além desse incidente, uma briga no gramado entre o atacante brasileiro e Hugo Duro levou à expulsão de "Vini". "O que os racistas ganharam foi minha expulsão. Isso não é futebol. Isto é La Liga", reagiu Vinicius, 22 anos, em sua conta no Instagram. "Não foi a primeira vez, nem a segunda ou a terceira. O racismo é normal na La Liga (...) Estou muito triste. A liga que já pertenceu a Ronaldinho, Ronaldo, Cristiano e Messi agora pertence aos racistas", lamentou o jovem jogador brasileiro.

(Com AFP)

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