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História de filha de líder religioso forçada a se casar aos 6 anos comove a Turquia

A história de H. K. G,  24 anos, publicada na imprensa local, chocou a Turquia. Filha de um dos líderes da comunidade islâmica Hiranur Vakfi, ela acusa sua família de tê-la forçado a se casar aos 6 anos com um homem de 29, que a estuprou durante todos os anos em que estiveram juntos.

Caso de jovem de comunidade muçulmana que se casou à força aos seis anos chocou a Turquia.
Caso de jovem de comunidade muçulmana que se casou à força aos seis anos chocou a Turquia. AFP - YASIN AKGUL
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Anne Andlauer, correspondente da RFI em Istambul

O drama foi divulgado no jornal turco Birgün e revelado pelo jornalista Timur Soykan. Em novembro de 2020, a jovem prestou queixa contra seus pais por tê-la obrigado a se casar ainda criança, com um homem bem mais velho, e pela responsabilidade na violência que sofreu após a união. Desde que sua história se tornou pública, H.K.G conseguiu obter o divórcio e aguarda a abertura do processo em janeiro. Diante da repercussão da história na imprensa, a polícia prendeu o ex-marido e o pai dela nesta quinta-feira (15).

De acordo com a reportagem publicada no Birgün, a Justiça tem provas que amparam o depoimento da jovem turca, como fotos e gravações de conversas entre ela e seu marido. Diante da gravidade das acusações, a promotoria pediu 68 anos de prisão para o cônjugue e 22 contra os pais. 

O casamento foi celebrado oficialmente apenas quando H. K. G completou 18 anos, mas algumas situações suspeitas foram ignoradas pelas autoridades quando ela ainda era criança.A jovem foi atendida, por exemplo, por um ginecologista em um hospital público quando tinha 14 anos. Na época, sua mãe disse que a filha era casada, o que é ilegal na Turquia nessa idade.

Os médicos estranharam e chamaram a polícia, que abriu um inquérito para analisar o caso. A família de H.K.G então pediu a uma jovem de 21 anos que fizesse o exame de idade óssea, determinado pela Justiça, em seu lugar. O resultado falso foi aceito e o inquérito arquivado.

Apoio do governo

O pai da jovem também tem um cargo influente na İsmailağa, uma das principais comunidades muçulmanas da Turquia. A estimativa é de que cerca de 2 milhões de turcos tenham algum tipo de envolvimento com as comunidades religiosas turcas, proibidas em 1925 no início da chamada República laica.

Com a chegada ao poder do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), do presidente Recepp Tayyp Erdogan, as autoridades, apesar da interdição, passaram a fazer "vista grossa" para as práticas desses grupos. Nas últimas eleições, muitas deles pediram aos seus fieis, aliás, que votassem em Erdogan.

A oposição acusa o poder de não tomar nenhuma medida para proteger os menores que integram as comunidades, já envolvidas em outros escadândalos de abuso sexual. Desde o golpe de Estado de 2016, elas também são suspeitas de tráfico de influência para obter cargos públicos. Nas redes sociais turcas, diversas campanhas pedem a proibição definitiva dos grupos religiosos.

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