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Afeganistão: o drama de famílias que vendem suas filhas para não passar fome

O Afeganistão está mergulhado numa grave crise financeira e humanitária. O congelamento de bilhões de ativos mantidos no exterior e a diminuição da ajuda internacional mergulharam a população numa precariedade extrema. Quase 95% dos afegãos não comem o suficiente e esse percentual chega a quase 100% para os domicílios chefiados por mulheres. Cerca de 23 milhões de pessoas sofrem de fome aguda no país.

Campo de refugiados de Shahrak-e-Sabz, na província de Herat, em 13 de outubro de 2021. Imagem ilustrativa
Campo de refugiados de Shahrak-e-Sabz, na província de Herat, em 13 de outubro de 2021. Imagem ilustrativa AFP - HOSHANG HASHIMI
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Com informações da correspondente da RFI no Afeganistão e enviada especial à província de Herat, Sonia Ghezali

Em Shahrak-e-Sabz, um assentamento informal para refugiados na província de Herat, muitas crianças estão desnutridas. As milhares de famílias que vivem em casas de barro fugiram de suas aldeias atingidas pela seca ou pela guerra que devastou o país, há mais de um ano. O líder da comunidade acredita que a situação piorou desde que o Talibã assumiu o poder.

“Aqui, as pessoas têm muitas dificuldades. Não há trabalho. Muitas pessoas vendem suas filhas de 10, 11 anos. Há muitos casamentos forçados aqui. Muitos vendem seus rins também. As pessoas estão com fome, não têm dinheiro para alimentar suas famílias. Elas não têm escolha”, diz.

Uma menina de 9 anos por € 1.000

Azizgul tenta desesperadamente, há vários meses, reembolsar o homem para quem seu marido vendeu a filha de 9 anos por 100.000 afegãos, ou cerca de € 1.000 euros (aproximadamente R$ 5.400). “Se eu pagar, ele vai deixar a minha filha conosco. Não me importo se estamos morrendo de fome, mas não quero que minha filha vá embora. Fui ver o chefe da comunidade e ele me disse que se não reembolsássemos o dinheiro a este homem, ele viria e levaria a minha filha”, testemunha.

A mãe de seis filhos e sem renda deve restituir o valor gasto pelo marido para comprar um terreno, plantar trigo e comprar alimentos. Sua filha está desesperada. “Meu pai me vendeu porque não tínhamos nada para comer. Quando minha mãe descobriu, ela disse que não concordava”, lamenta. Várias famílias do Afeganistão estão na mesma situação, lamenta o líder comunitário.

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