Rússia conquista mais um porto na Ucrânia, enquanto Zelensky faz apelo a judeus
O Exército russo anunciou nesta quarta-feira (2) que tomou o controle da cidade de Kherson, no sul da Ucrânia, no início do sétimo dia da invasão iniciada por Moscou contra o país vizinho. Tropas russas transportadas por via aérea também desembarcaram em Kharkiv, no leste, onde os combates são intensos. Por outro lado, a ofensiva contra a capital, Kiev, continua bloqueada por falta de combustível e alimentos para os soldados, segundo especialistas em defesa.
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O porta-voz do ministério russo da Defesa, Igor Konashenkov, anunciou que "as divisões russas das Forças Armadas tomaram o controle total do centro regional de Kherson". A cidade e seus subúrbios, localizados ao norte da península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, sofreram intensos bombardeios nas últimas horas.
O Exército russo já tinha conquistado o controle do porto de Berdiansk, próximo de Mariupol, e executa uma grande ofensiva contra essa cidade portuária do sul da Ucrânia, quase na fronteira da região separatista de Donetsk, que teve a independência reconhecida por Moscou nos dias que antecederam o início da guerra.
A estratégia militar russa tem sido fechar o cerco contra o Exército ucraniano nas regiões sul e leste do país, mais próximas de suas fronteiras, por onde pode encaminhar tropas e equipamentos posicionados na Crimeia e na região separatista do Donbass.
Intensos combates em Kharkiv
Durante a madrugada de terça para quarta-feira, a Rússia desembarcou soldados em Kharkiv, por via aérea, e atacou um hospital local, afirmaram militares ucranianos em comunicado no Telegram. "Há um combate em andamento entre os invasores e os ucranianos", acrescentava a nota.
Equipes de resgate informam que ao menos quatro civis morreram neste segundo dia de bombardeios em Kharkiv, a segunda maior cidade ucraniana com 1,4 milhão de habitantes e próxima da fronteira com a Rússia. Ontem, mísseis atingiram edifícios residenciais e casas, deixando ao menos dez civis mortos e mais de 20 feridos, segundo as autoridades locais. Ataques também visaram uma universidade e os serviços de emergência.
Em Mariupol, próxima do mar de Azov, mais de uma centena de pessoas ficaram feridas, ontem, por disparos russos, informou o prefeito da cidade, Vadim Boichenko, citado pela mídia ucraniana.
O Exército ucraniano emitiu advertências de que as tropas russas iriam atacar as principais cidades do país, incluindo Kiev, para onde se dirige um enorme comboio de veículos e armamentos russos, segundo imagens de satélite. Porém, a coluna de tanques e caminhões está paralisada há três dias por falta de combustível e de alimentos para as tropas, estimam vários estrategistas militares ocidentais.
"Apagar" a Ucrânia da história
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, acusa Moscou de querer "apagar" seu país e sua história, após a invasão ordenada pelo presidente russo, Vladimir Putin, na semana passada.
"Eles têm a ordem de apagar nossa história, apagar nosso país, apagar todos nós", afirmou Zelensky, em um vídeo nesta quarta-feira. O chefe de Estado ucraniano pediu aos países que não permaneçam neutros no conflito.
Zelensky também fez um apelo aos judeus do mundo para que "não permaneçam em silêncio", após o ataque russo ocorrido ontem contra a torre de televisão de Kiev, construída no local de um massacre do Holocausto. O ataque das tropas russas à torre provocou cinco mortes.
"Estou falando agora aos judeus do mundo inteiro. Não veem o que está acontecendo? É por isto que é muito importante que os judeus do mundo inteiro não permaneçam em silêncio agora", insistiu Zelensky.
Ele reclamou que, durante a era soviética, as autoridades construíram a torre de televisão e um complexo esportivo em um "local especial da Europa, um lugar de oração e memória". Na ravina de Babi Yar, uma espécie de barranco, mais de 33 mil judeus foram fuzilados ao longo de 36 horas, em setembro de 1941. O massacre aconteceu durante a ocupaçao nazista na capital ucraniana, na Segunda Guerra Mundial. Quase toda a população judaica de Kiev foi exterminada nesse massacre.
"O nazismo nasce do silêncio. Então saiam e gritem sobre os assassinatos de civis. Gritem sobre os assassinatos de ucranianos", disse Zelensky.
Apesar de Zelensky ser judeu, Putin acusa o presidente ucraniano de ser "um neonazista que promoveu um genocídio de russos" nas repúblicas separatistas do Donbass e em outras localidades da Ucrânia, um dos argumentos que utilizou para justificar a invasão do país. Esse alegado "genocídio" é contestado pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU e governos ocidentais.
Com informações da AFP
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