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Crise ucraniana foi pano de fundo durante toda a estadia da delegação brasileira na Rússia

O presidente brasileiro Jair Bolsonaro deixa a Rússia na manhã desta quinta-feira (17) rumo à Hungria, após dois dias em Moscou, um deles com uma agenda lotada. A delegação vinda de Brasília martelou que o objetivo da viagem era principalmente tratar temas econômicos e relações bilaterais, mas as tensões entre o Kremlin e boa parte da comunidade internacional em razão das operações recentes na fronteira ucraniana acabaram se convidando em várias etapas da visita.

O chefe da diplomacia brasileira Carlos França (e) com o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, reunidos em Moscou.
O chefe da diplomacia brasileira Carlos França (e) com o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, reunidos em Moscou. © Silvano Mendes / RFI
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Silvano Mendes, enviado especial à Moscou

A “crise ucraniana” se tornou uma questão antes mesmo da chegada de Bolsonaro na capital russa. As pressões vindas indiretamente de Washington, indicando que a viagem neste momento não seria uma boa ideia, chegaram a suscitar dúvidas se que a visita realmente aconteceria. Finalmente a delegação aterrissou em Moscou e passou dois dias tentando evitar o assunto – mesmo se a tensão estava mais que presente.

Mas no final da visita, após um evento empresarial que encerrava o programa na noite desta quarta-feira, Jair Bolsonaro acabou abordando o tema diretamente. Questionado se teria levado alguma mensagem sobre o assunto para Vladimir Putin durante o encontro em tête-à-tête um pouco mais cedo, o presidente brasileiro foi enfático: “Não dou recado para ninguém”.

Mas o assunto teria sido abordado indiretamente. “Falei para ele que o Brasil é um país que apoia qualquer outro país e é solidário desde que busquem a paz”, disse Bolsonaro no único momento em que respondeu aos jornalistas durante a estadia.

Putin “busca a paz”, diz Bolsonaro

O termo “solidário” foi o mesmo adotado pelo líder brasileiro pouco antes começar sua reunião com Putin no Kremlin – mesmo se Bolsonaro não indicou precisamente se estava falando sobre a Ucrânia. “Não entramos na questão específica de algumas coisas regionais”, declarou Bolsonaro diante dos jornalistas. Antes de concluir: “A leitura que eu tenho do presidente Putin é que ele busca a paz”.

A mesma coisa aconteceu pela manhã, durante a reunião os ministros da Defesa e das Relações Exteriores do Brasil e da Rússia, quando a situação ucraniana também surgiu nas conversas. O encontro, no formato chamado 2+2 (dois ministros de cada lado), se concentrou nas parcerias em termos de Defesa, nos acordos de diplomáticos e nas declarações de intenção de ambos os lados, respeitando a praxe desse tipo de evento.

Em uma declaração conjunta após a reunião, o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, e o chanceler brasileiro Carlos França insistiram na “base solida” das relações bilaterais, que passam por temas de ordem diplomática, militar, militar técnica, comercial, de investimentos, mas também pela “coordenação de nossas atividades da política externa”, disse o chefe da diplomacia russa. Lavrov também ressaltou que “a Rússia confirmou novamente a intenção apoiar a candidatura do Brasil ao cargo de membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas”.

“Também discutimos muito a abordagem dos Estados Unidos [que consiste em] trocar o direito internacional pelas ordens que eles pensam criar”, lançou Lavrov, trazendo novamente a questão ucraniana.“A Rússia considera que foi um passo positivo [a diminuição das tensões na fronteira], mas a nossa segurança e as nossas posições políticas e diplomáticas não devem ser danificadas. Nós ainda estamos contra a expansão da OTAN para o leste e permanecemos contra algumas iniciativas dos países ocidentais”, disse Lavrov.

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