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Rússia: Depoimentos de ex-detentos revelam vida de Alexei Navalny na prisão

Um relatório do canal russo independente Dojd revela o sistema implementado pelas autoridades penitenciárias russas para manter o opositor Alexei Navalny sob constante pressão psicológica. As informações foram reveladas pelo jornal francês Libération nesta terça-feira (9).

A Imprensa Hoje traz uma reportagem com relatos de ex-detentos sobre a prisão do opositor Alexei Navalny na Rússia.
A Imprensa Hoje traz uma reportagem com relatos de ex-detentos sobre a prisão do opositor Alexei Navalny na Rússia. © Fotomontagem RFI/ Adriana de Freitas
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A IK-2 em Pokrov, a cerca de 100 quilômetros a leste de Moscou, na região de Vladimir, é conhecida por ser uma das colônias penitenciárias mais perversas do oeste da Rússia. É lá que Alexei Navalny cumpre sua pena desde março de 2021. O opositor, condenado a dois anos e meio de prisão, classificou seu local de detenção como "nosso campo de concentração amigo", afirmando não ter sofrido nem presenciado qualquer violência física, mas que tem sido sujeito a pressões psicológicas intensas e constantes desde que chegou.

A reportagem, assinada por Veronika Dorman, revela que Navalny vive há oito meses uma espécie de "Show de Truman", em uma unidade desenvolvida sob medida, como um cenário de teatro, com personagens selecionados que seguem instruções precisas. Nariman Osmanov, 54, condenado por furto e solto em junho, conta como uma "brigada", como são chamados os grupos de prisioneiros, foi especialmente composta para se ocupar do opositor, com presos escolhidos a dedo pela administração penitenciária.

Ele afirma que a chamada “brigada número 2” é “separada e totalmente isolada do resto da colônia". Segundo o ex-detento, "eles são os últimos a irem para a cantina, todos se viraram quando eles passam, e os outros são proibidos de falar com eles".

"Bodes expiatórios" e "galos"

No jargão carcerário, a IK-2 é uma "zona vermelha", ou seja, uma colônia penal onde a lei é feita por prisioneiros e governada, como todo o universo prisional na Rússia, por uma casta do sistema. De acordo com Osmanov, a maioria dos presos escolhidos para formar o séquito de Navalny são "bodes expiatórios", quer dizer, ativistas submissos à administração, ou os "galos", subordinados aos guardas, geralmente após serem torturados por violências sexuais.

O diário francês descreve que, para deixá-lo em uma condição de isolamento, a direção do campo tentou fazer com que Alexei Navalny passasse por um "galo", espalhando boatos sobre sua orientação sexual. Para o exaurir psicológica e fisicamente, prisioneiros "moldados, que fazem tudo o que lhes é pedido", de acordo com Osmanov, inviabilizavam sua vida, urinando na cama, impedindo-o de dormir com ruídos de masturbação, arrotos, cuspidas, seguindo-o em todos os lugares, até ao banheiro.

Quando ele estava em greve de fome, eles “fritavam carne bem debaixo de seu nariz ou imitavam pacientes com tuberculose em estado terminal”. “Para quebrá-lo”, comenta Osmanov. Outro ex-prisioneiro, um "bode", Evgueny Bourak, um dos subordinados à brigada número 2, explica ao Dojd a impossibilidade de se recusar os pedidos de colaboração da administração penitenciária: "Não podemos nos recusar a nada, ou somos espancados. E por três, quatro meses, não conseguiremos nem andar."

Vida (violentamente) normal nas outras unidades

Enquanto isso, nas outras brigadas da IK-2, a vida na prisão continua, com sua cota de violência diária. Dmitri Moudritchenko, libertado em novembro de 2020, narra os abusos sofridos pelos outros detidos nesta colônia assustadora, de outras “brigadas”, em que as torturas são mais reais, onde os detentos são despidos, amarrados, recebem jatos de água gelada e são espancados durante interrogatórios.

O artigo do Libération descereve que, na maioria dos alojamentos, existe o que é chamado de "press khata", "o local onde se aperta" para se extrair informações. Essas unidades são locais de tortura onde os detidos têm que ser “quebrados” para forçá-los a cooperar com a investigação ou com a administração.

A defensora dos direitos dos prisioneiros Olga Romanova explica que esta unidade da IK-2 está localizada no quartel mais distante do pavilhão em que Navalny está instalado, longe de seus olhos e ouvidos. Pode-se dizer que seus colegas na mesma unidade de prisão desfrutam de condições excepcionais. “Eles têm sorte, eles escaparam da tortura sofrida por cada detido”, contou Moudritchenko. “A comida melhorou, íamos tomar banho duas vezes por semana”, confirma Osmanov.

Toda esta encenação evita dar a Alexei Navalny, incansável adversário do sistema e cuja voz continua a soar longe, munição para seu combate. Ele não pode denunciar as condições de detenção de que ele próprio não é vítima. Desde o início da detenção, o oponente já recebeu dezenas de repreensões e advertências, como por se levantar dez minutos antes da hora, por exemplo. Outra pessoa em seu lugar já teria acabado na cela de castigo.

“As decisões a seu respeito não são tomadas pelo diretor da prisão, mas no Kremlin”, garante Olga Romanova. Além disso, conclui a ativista, a vida é difícil para todos em uma prisão russa, mas talvez um pouco menos para Navalny, porque ele é "forte e inteligente".

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