Turquia ataca o grupo Estado Islâmico na Síria e os rebeldes do PKK no Iraque
A Turquia atacou novamente neste sábado (25) o grupo jihadista Estado Islâmico (EI) na Síria e abriu uma nova frente bombardeando posições dos rebeldes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) no Iraque.
Publicado em:
Pela terceira vez em 24 horas, os caça-bombardeiros voltaram a atacar posições do grupo EI no território sírio.
Esses bombardeios representam uma guinada na política do governo islamita conservador turco, acusado por seus aliados de fazer vista grossa e inclusive de apoiar as organizações radicais em guerra contra o regime do presidente sírio, Bashar al-Assad.
Ao mesmo tempo, os F-16 turcos se dirigiam ao norte do Iraque para bombardear as bases de retaguarda do PKK. "Há operações aéreas e terrestres atualmente em andamento", anunciou o primeiro-ministro, Ahmet Davutoglu.
Frente contra o PKK
A frente contra o PKK foi aberta na noite de sexta-feira (24), quando os aviões bombardearam sete alvos dos rebeldes, refúgios, hangares e depósitos de munições, em suas retaguardas das montanhas Kandil, no extremo norte do Iraque.
Davutoglu diz ter falado com o presidente da região autônoma curda do Iraque, Masud Barzani, que expressou sua solidariedade. Mas uma declaração feita por Barzani posteriormente disse que o presidente turco expressou "seu desgosto com o perigoso nível que a situação alcançou". "As condições para manter o cessar-fogo foram eliminadas", respondeu pouco depois o PKK por meio de sua ala militar, as Forças de Defesa Popular (HPG).
Essa ofensiva contra os militantes curdos ameaça lançar pelos ares o processo de paz iniciado em 2012 para tentar acabar com uma rebelião que deixou 40 mil mortos desde 1984 em território turco. O comunicado do braço armado do PKK denunciou a "agressão bélica" e prometeu manter a "resistência". "Seguiremos com o processo de paz . Usaremos ao mesmo tempo a força e a compaixão", respondeu Davutoglu.
Espiral de violência
As operações militares foram ordenadas após uma espiral de violência, que começou na segunda-feira (20) com o atentado suicida de um jovem turco contra militantes pró-curdos na cidade de Suruç (sul), perto da fronteira síria, com um saldo de 32 mortos e uma centena de feridos. O governo atribuiu a autoria deste ataque ao grupo EI, que não o reivindicou.
Em represálias ao atentado, militantes próximos ao PKK multiplicaram suas operações contra as forças de segurança turcas, símbolo de um governo acusado por muitos de cumplicidade com os jihadistas. Na quarta-feira (22), o PKK reivindicou o assassinato de dois policiais em Ceylanpinar (sudeste). Davutoglu informou neste sábado sobre 121 ataques armados e 281 "atos terroristas", entre eles 15 sequestros, na Turquia desde 7 de junho.
Polícia antiterrorista
Pelo segundo dia consecutivo, a polícia antiterrorista turca realizou na manhã deste sábado dezenas de detenções de supostos militantes do grupo EI e do PKK em várias cidades, sobretudo em Istambul, Ancara, Adana (sul), Konya (centro) e Manisa (noroeste), informou a imprensa turca.
Essa operação, inédita nas fileiras jihadistas, começou na sexta-feira e contou com a participação de milhares de policiais. Segundo o último balanço fornecido neste sábado pelo governo, há 590 pessoas detidas, entre elas dezenas de estrangeiros suspeitos de colaboração com os grupos que fazem os jihadistas chegarem à Síria através do território turco.
Marcha cancelada
Desde segunda-feira, a tensão cresce em muitas cidades, e a polícia reprime as manifestações contra a política do presidente Recep Tayyip Erdogan. Em busca de apaziguamento, o principal partido curdo da Turquia cancelou a marcha antijihadista prevista para domingo em Istambul. Ela havia sido proibida pelo governador local.
Em outro sinal da guinada estratégica da Turquia, as autoridades confirmaram ter autorizado os Estados Unidos e outros países da coalizão antijihadista a utilizar suas bases, como a de Incirlik (sul).
Esses países criticavam Ancara por sua atitude passiva contra o grupo EI e sua negativa em intervir militarmente em apoio às milícias curdas da Síria. O governo turco sempre foi reticente a isso por medo da criação de uma região autônoma hostil no norte do país.
NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.
Me registro