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França / Eleições

Eleitorado de Marine Le Pen pode decidir segundo turno

Após a votação recorde de Marine Le Pen neste domingo, os eleitores da extrema-direita estão sendo disputados pelos dois finalistas, François Hollande e Nicolas Sarkozy. Apesar de ter ficado de fora do segundo turno, marcado para o dia 6 de maio, a presidente da Frente Nacional já está de olho nas eleições legislativas de junho e ambiciona fazer de seu partido a principal força de oposição do país.

Marine Le Pen comemora seu resultado no primeiro turno da eleição presidencial, neste domingo 22 de abril.
Marine Le Pen comemora seu resultado no primeiro turno da eleição presidencial, neste domingo 22 de abril. REUTERS/Pascal Rossignol
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Marine Le Pen obteve 17,9% ou 6,4 milhões de votos, quase um milhão a mais do que o melhor total registrado por seu pai, Jean-Marie Le Pen, quando ele enfrentou Jacques Chirac no segundo turno em 2002.

Ela teve uma votação particularmente expressiva no bastião da extrema-direita, o sudeste da França, onde o discurso da Frente Nacional contra a imigração, o Islã e a insegurança faz sucesso há 25 anos. Um discurso que Marine Le Pen renovou durante a campanha, enfatizando os valores da laicidade e da República, em uma estratégia para melhorar a imagem de seu partido.

Ela também chegou em segundo lugar, atrás de François Hollande, nas antigas regiões industriais do norte e do leste da França, onde seu partido está solidamente implantado junto a um eleitorado mais popular e sensível a seu discurso protecionista e antieuropeu.

Nesta eleição Marine Le Pen conquistou várias zonas semi-rurais, como no leste da região parisiense, onde atingiu mais de 40% em vilarejos a menos de 50 km da capital. Isso foi fruto de uma campanha na qual ela não se cansou de denunciar a insegurança e o desaparecimento de serviços públicos nos vilarejos.

Seu eleitorado se ampliou, com uma forte proporção de operários, empregados, jovens sem diploma superior, mas também da classe média que tem medo de cair na escala social devido à crise econômica.

Transferência de votos

Para ter uma chance de vencer, Nicolas Sarkozy deve recuperar a grande maioria desses eleitores. Uma parte deles já havia votado para o atual presidente em 2007, seduzidos por suas promesas sobre o trabalho e o poder aquisitivo, mas ficaram muito decepcionados com seus cinco anos de governo.

Segundo as pesquisas realizadas neste domingo à noite, no máximo dois terços dos eleitores de Marine Le Pen dizem que votarão em Nicolas Sarkozy, enquanto analistas calculam que ele precisaria de 80% dos votos da extrema-direita para vencer. O presidente já começou a cortejar essa fatia do eleitorado, dizendo que ouviu e respeita esse "voto de sofrimento".

As sondagens também indicam que cerca de 20% dos eleitores da Frente nacional poderiam votar em François Hollande, que disse hoje "querer ouvir" os franceses que se deixaram tentar pelo voto na extrema-direita movidos pela "cólera". "A Frente Nacional foi alimentada pela crise, pelas promessas não cumpridas, pela falência moral", insistiu Martine Aubry, secretária-geral do Partido Socialista.

Marine Le Pen não tem a intenção de ajudar a tarefa de Nicolas Sarkozy, muito pelo contrário. Se ela vai esperar o 1° de maio para exprimir sua posição durante a tradicional parada da Frente Nacional em Paris em homenagem a Joana D'Arc, já se sabe qual será sua escolha.

A indicação não poderia ser diferente de "nem Sarkozy, nem Hollande", reconheceu o número dois do partido, Louis Aliot. Seu diretor de campanha, Florian Philippot, disse não poder "escolher entre dois candidatos intercambiáveis".

Os líderes da Frente Nacional apostam numa derrota do presidente para tentar fazer com que seu partido, a UMP, perca influência nas eleições legislativas de junho. "De agora em diante nós somos a única verdadeira oposição à esquerda", disse Marine Le Pen, que ambiciona recompor o jogo de forças à direita.

Mesmo com um sistema eleitoral desfavorável - o partido ainda não tem nenhum deputado -, a Frente Nacional espera ultrapassar a direita no primeiro turno das eleições legislativas em um quinto das circunscrições e convencer assim certos candidatos da UMP a se unir a ela. Marine Le Pen será candidata a uma cadeita de deputada nem Hénin-Beaumont, cidade do norte da França onde ela obteve 35% dos votos neste domingo.

Perfil

A caçula das três filhas de Jean-Marie Le Pen, Marine não estava destinada a entrar na política. Era sua irmã Marie-Caroline quem havia sido designada para continuar a obra do pai, que fundou a Frente Nacional em 1972.

Mas a vida política da Frente Nacional e as divisões do final dos anos 90 abriram caminho para essaa advogada que em 1993, aos 24 anos, tentou se eleger deputada em Paris.

Durante vários anos ela trabalhou no serviço jurídico da Frente Nacional, antes de ocupar seu posto diante das câmeras. Sua influência dentro do partido aumentou progressivamente, à medida que seu pai envelheceu, e ela se tornou líder da Frente Nacional em janeiro de 2011.

A imprensa francesa fala então de uma operação para acabar com a imagem "diabólica" da extrema-direita. Marine Le Pen responde que ela quer "dar uma imagem diferente da caricatura" que segundo ela é feita pela mídia.

Na realidade, ela afasta, ao menos parcialmente, os militantes antisemitas e os nostálgicos da Argélia francesa ou até mesmo do regime de Vichy, além dos católicos integristas, que durante mais de 30 anos foram os dirigentes da Frente Nacional, um partido que é herdeiro de uma tradição de extrema-direita nascida no século 19.

Ao contrário de seu pai, cujo programa econômico era reduzido e negligenciado em favor do discurso contra a imigração, Marine Le Pen responde às preocupações dos franceses empobrecidos, esses "esquecidos" da política que vêem o desemprego ultrapassar a barreira dos 10% e o poder aquisitivo diminuir.

Com suas propostas de saída do euro e protecionismo, a deputada europeia tenta construir uma imagem de maior credibilidade no campo da economia. Mas seus simpatizantes aplaudem sobretudo as tiradas contra o Islã, quando ele assume o papel de grande defensora do princípio da laicidade.

Como seu pai, Marine Le Pen quer organizar "a inversão de fluxos migratórios", defende a supressão dos auxílios públicos aos estrangeiros e milita pela restauração da pena de morte.

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