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Venda do castelo de D'Artagnan, herói do romance de Alexandre Dumas, causa polêmica na França

"O castelo de Castelmore está à venda: dez séculos de história". A casa onde nasceu D'Artagnan, herói de "Os Três Mosqueteiros", obra-prima de Alexandre Dumas, se tornará um museu para franceses e turistas ou a casa de férias do CEO de um gigante do varejo francês? O suspense permanece e agita o debate sobre o patrimônio público cultural e simbólico na França.

Placa comemorativa indica local da casa onde D'Artagnan nasceu e morou.
Placa comemorativa indica local da casa onde D'Artagnan nasceu e morou. © Divulgação
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Localizado no vilarejo de Lupiac, em Gers (sudoeste da França), esse castelo, local de nascimento no início do século XVII de Charles de Batz de Castelmore, cuja vida a serviço da coroa francesa inspirou o famoso personagem de Alexandre Dumas, está à venda na França há mais de dois anos.

O castelo de 700 m2, com sua fachada ocre, está agora no centro de um duelo entre as autoridades locais, que sonham em transformá-lo em um centro turístico e cultural, e o CEO da gigante varejista Auchan Retail, Yves Claude, que tem "planos para uma moradia particular" na propriedade, disse uma fonte próxima das negociações.

Os órgãos públicos locais esperam capitalizar a fama internacional do mosqueteiro real para desenvolver a área. Também na França, o herói do romance de Dumas continua popular: 3,3 milhões de espectadores assistiram ao filme "Os Três Mosqueteiros", lançado em abril, e a segunda parte, "Milady", nos cinemas desde o início de dezembro, também lota as salas francesas.

Em 2022, o departamento de Gers queria adquirir o castelo, localizado a cerca de 120 km de Toulouse e avaliado em cerca de € 1 milhão, disse o presidente da região, Philippe Dupouy. Natural do Gers, o então primeiro-ministro francês na época, Jean Castex, apoiou a ideia. Mas a iniciativa fracassou, pois o proprietário do edifício exigiu o dobro do valor, sem mencionar as reformas que teriam de ser realizadas.

Venda programada para varejista

Em 2023, ano do 350º aniversário da morte do mosqueteiro, que teria sido assassinado durante o cerco de Maastricht (Holanda), as autoridades locais e regionais se recusaram a admitir a derrota: elas lançaram a "Autour de d'Artagnan", uma associação destinada a criar um projeto "ambicioso" em torno do orgulhoso gascão, e fizeram uma nova proposta de compra no verão passado.

No entanto, uma decisão surpreendente diminuiu o entusiasmo das instituições públicas: em 19 de dezembro, a Société d'aménagement foncier et d'établissement rural du Gers (agência de desenvolvimento fundiário e rural de Gers) optou por outra alternativa.

Esse órgão tem direito de preferência sobre o castelo devido aos 150 hectares de terras agrícolas que o cercam. No entanto, a agência expressou interesse na proposta de compra feita por Yves Claude, CEO da Auchan Retail, que gostaria de transformá-lo em sua casa de veraneio.

Patrimônio público nas mãos do setor privado? 

Para as autoridades locais, esse é um duro golpe e elas ainda estão tentando encontrar uma maneira de lidar com o caso. A posição da agência fundiária chega em um "momento extremamente ruim" e é "muito mal compreendida aqui", disse um político local que prefere não ser identificado.

"Seria uma verdadeira vergonha que um patrimônio como esse caísse nas mãos do setor privado", lamentou Muriel Abadie, representante eleita de Gers e vice-presidente da região da Occitânia, responsável pelo turismo.

"Estou surpreso que, entre um projeto de interesse público para nossa região e um projeto privado, por mais respeitável que seja, não tenha sido escolhido o projeto de interesse geral", lamentou o deputado local Jean-René Cazeneuve.

Philippe Dupouy questiona a solidez do projeto, que, segundo ele, "não está muito bem definido nesta fase".

Os parceiros públicos do projeto buscam reverter a operação, que ainda não foi concluída, apesar de o processo de decisão estar "sujeito por lei à confidencialidade".

De acordo com uma fonte próxima ao caso, a decisão final poderá ser tomada por volta de 22 de janeiro de 2024.

(Com AFP)

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