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Autor de ataque que matou turista perto da Torre Eiffel 'assume' o crime; ministro reconhece 'falha'

O autor do ataque que matou um turista alemão-filipino e deixou dois feridos no sábado (2) perto da Torre Eiffel, em Paris, disse durante interrogatório à polícia que "assume a responsabilidade pelos seus atos", de acordo com uma fonte próxima das investigações. As autoridades francesas acreditam que Armand Rajabpour Miyandoab, um franco-iraniano de 26 anos que recentemente jurou lealdade à organização terrorista Estado Islâmico (EI), agiu sozinho.

Policiais bloqueiam a ponte de Bir Hakeim, onde o turista de dupla nacionalidade alemã-filipina, foi esfaqueado e morto no sábado (2) por um indivíduo conhecido da Justiça por radicalismo islâmico.
Policiais bloqueiam a ponte de Bir Hakeim, onde o turista de dupla nacionalidade alemã-filipina, foi esfaqueado e morto no sábado (2) por um indivíduo conhecido da Justiça por radicalismo islâmico. REUTERS - STEPHANIE LECOCQ
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O suspeito, diagnosticado há vários anos com transtornos psiquiátricos, continua sob custódia da polícia. Questionado sobre suas motivações, ele reafirmou aos investigadores que agiu em “reação à perseguição de muçulmanos em todo o mundo”, como havia dito aos policiais que o prenderam em flagrante logo após o ataque no 16° distrito de Paris. Nos interrogatórios, o franco-iraniano demonstra um comportamento “muito frio”, “clínico” e “dando a impressão de estar em um outro planeta”, acrescentou a fonte entrevistada pela agência AFP

O ministro do Interior, Gérald Darmanin, reconheceu nesta segunda-feira (4) que “obviamente houve uma falha” no acompanhamento “psiquiátrico” do suspeito. “Houve claramente uma falha de avaliação psiquiátrica, os médicos consideraram em diversas ocasiões que ele estava melhor”, disse Darmanin ao canal BFMTV

Serviços de inteligência falharam

Filho de pais iranianos não religiosos, Rajabpour Miyandoab nasceu na França e se converteu ao islamismo aos 18 anos. Considerado de personalidade influenciável, ele logo passou a simpatizar com a ideologia jihadista.

Desde 2016, ele estava inscrito no cadastro de indivíduos radicalizados da polícia francesa, quando foi detido por planejar uma ação violenta. Ao final desse processo judicial, o franco-iraniano foi condenado a cinco anos de prisão. O jovem cumpriu quatro anos de detenção e, quando deixou a cadeia, afirmou às autoridades que "rejeitava" a ideologia jihadista. Para o jornal Libération, Rajabpour Miyandoab "ludibriou os serviços de inteligência" franceses. 

No final de outubro, a mãe do terrorista procurou a polícia para assinalar que o comportamento do filho havia mudado, que ele tinha se isolado. A polícia propôs uma avaliação psiquiátrica, mas o médico que o examinou constatou "ausência de distúrbios" naquele momento. Tranquilizada por essa avaliação, a mãe preferiu não hospitalizar o filho à força em uma unidade psiquiátrica.

Duas marteladas e quatro facadas

No sábado, por volta das 19h30, ele golpeou com duas marteladas e quatro facadas um turista alemão de 23 anos, nascido nas Filipinas, que tinha vindo passar o fim de semana com sua companheira em Paris. A mulher não foi atingida. No momento do crime, o autor gritou o bordão jihadista "Alá é Maior". 

As investigações revelaram que ele gravou um vídeo, em árabe, no qual jurou lealdade ao grupo Estado Islâmico. O promotor antiterrorismo Jean-François Ricard ralatou no domingo que o suspeito forneceu “seu apoio aos jihadistas que atuam em diferentes áreas”. O perfil de Rajabpour-Miyandoab na rede social "X", antigo Twitter, também continha “numerosas publicações sobre o Hamas, Gaza e, de forma mais geral, a Palestina”, segundo o magistrado.

Além do turista morto, o agressor também atacou com um martelo dois homens, um francês de 60 anos e um britânico de 66 anos, que ficaram levemente feridos. Para detê-lo (veja no vídeo abaixo), a polícia utilizou um Teaser, tipo de arma que emite choques elétricos.

Investigação na Alemanha

O Ministério Público Federal da Alemanha informou nesta segunda-feira que abriu uma investigação sobre o ataque, justificado pela nacionalidade alemã da vítima. No domingo, o chanceler Olaf Scholz disse ter ficado "chocado" com o atentado.

A menos de oito meses da abertura dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris, o elevado risco de ataques terroristas islâmicos preocupa autoridades e a imprensa francesa. As falhas no acompanhamento de 4 mil pessoas fichadas por algum tipo de radicalização nos registros da polícia são alvo de instrumentalização política da extrema direita, que acusa o governo de incompetência e falta de rigor no tratamento reservado a indivíduos considerados perigosos para a sociedade, particularmente quando são de origem estrangeira.

Segurança dos Jogos Olímpicos ameaçada?

As agressões cometidas na ponte de Bir Hakeim e numa avenida que margeia o rio Sena, perto da Torre Eiffel, levantam questões sobre a segurança da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris.

As delegações estrangeiras irão desfilar em embarcações no rio Sena, enquanto os espectadores assistirão ao evento nas margens do rio. Os chefes de Estado e de governo convidados ficarão em tribunas instaladas na altura da praça do Trocadero, na outra margem da Torre Eiffel.

As autoridades francesas não pretendem mudar o local da cerimônia, apesar da ameaça terrorista ter sido revista para cima desde o início do conflito entre Israel e o Hamas. O chefe da polícia de Paris, Laurent Nunez, insiste que os espectadores poderão confiar nas medidas de segurança que serão postas em prática.

No entanto, desde a apresentação da candidatura parisiense e do plano da cerimônia de abertura, o desafio em termos de segurança parece enorme e arriscado, na avaliação de especialistas.

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