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Jornais analisam frustração de Macron com golpes na África e ampliação do Brics

O discurso do presidente Emmanuel Macron aos embaixadores franceses no início da semana continua tendo repercussão na imprensa local. Os jornais não evocaram o pedido de adesão da França à OCTA (Organização do Tratado de Cooperação Amazônica), tema que teve forte repercussão no Brasil. Por outro lado, Le Monde e Les Echos analisam a frustração do chefe de Estado com a rejeição aos franceses em ex-colônias da África e o risco de enfraquecimento do Ocidente com a ampliação do Brics.

O presidente francês, Emmanuel Macron, fala aos embaixadores franceses durante conferência realizada no Palácio do Eliseu. 28 de agosto de 2023
O presidente francês, Emmanuel Macron, fala aos embaixadores franceses durante conferência realizada no Palácio do Eliseu. 28 de agosto de 2023 AFP - TERESA SUAREZ
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Sylvie Kauffmann, colunista de geopolítica do Le Monde, avalia que Macron tenta se posicionar como "defensor da democracia", diante da influência crescente de Rússia e China na África e da recente onda de golpes militares em várias ex-colônias francesas, como Mali, Burkina Fasso, Níger e Gabão. Em três anos, a África registrou nada menos do que sete golpes de Estado. 

Segundo o Le Monde, é notório que o presidente russo, Vladimir Putin, fomenta o sentimento antifrancês nos países do Sahel. Mas esta rejeição deve ser atribuída a um erro estratégico de Paris: ter ficado mais tempo do que deveria na região, mesmo se o Exército francês foi chamado por líderes africanos para ajudar a combater extremistas islâmicos que se uniram à Al-Qaeda e ao grupo Estado Islâmico.

Em 2013, o então presidente do Mali pediu a proteção militar da França quando grupos jihadistas aterrorizavam a população e ameaçavam invadir Bamako, a capital do país. Paris atendeu à solicitação e ainda estendeu o envio de tropas para Níger, Burkina Fasso e Chade. Nove anos depois, diante do pouco combate ao terrorismo e dos bilhões de euros gastos sem resultados concretos para a melhoria de vida dos africanos, a França encerrou a missão militar no Mali e recolheu seus soldados para bases no Níger.

Na avaliação do Le Monde, Paris poderia ter se protegido de acusações de neocolonialismo se tivesse atuado com outros países da União Europeia, para sinalizar que não se tratava de uma operação pós-colonial. 

Em seu discurso aos embaixadores, Macron também apontou o risco de declínio do Ocidente, ante as potências que contestam o sistema multilateral da ONU (leia-se China e Rússia), que buscam estabelecer uma ordem internacional que substitua a determinada pelos Estados Unidos no século XX. A fala serviu para o Les Echos analisar se a recente ampliação do Brics, com o ingresso de seis novos países, é, de fato, uma ameaça às potências ocidentais. 

Ampliação do Brics: quantas divisões?

Do ponto de vista geopolítico, a entrada de Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Irã representa um aumento relevante da influência da China. Com a chegada de Riade, que se distanciou de seu histórico aliado americano sob o comando do príncipe herdeiro Mohammed ben Salmane, mais Abu Dhabi, o Brics ganha capacidade de investimento e consolida suas cadeias de suprimento de combustíveis. Três novos membros do clube de emergentes estão na lista de países com as dez maiores reservas de petróleo do mundo, destaca o diário.

Moscou também fatura com a entrada de outro país sob sanções, o Irã, que é "geograficamente fundamental para o estabelecimento do corredor de transporte Norte-Sul projetado em parceria com a Índia", aponta o texto. Com o ingresso adicional de dois países africanos, Etiópia e Egito, a China obtém novos acessos ao continente para desenvolver suas novas Rotas da Seda.

"Mas, até agora, os resultados alcançados pelo Brics desde que se uniu, em 2009, demoram a se materializar", observa o Les Echos. Desde 2014, seu único sucesso tangível foi o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), que tem como objetivo atuar como uma alternativa ao FMI e ao Banco Mundial, oferecendo empréstimos incondicionais. 

"Entretanto, em termos de PIB nominal, mesmo com a inclusão dos novos membros, o G7 continua bem à frente, com 43% da riqueza mundial. O comércio intra-Brics ainda é muito baixo, com exceção do domínio da China", diz o veículo. Os 11 países também têm sistemas políticos e trajetórias econômicas muito diferentes, com interesses às vezes divergentes que podem criar atritos, conclui o Les Echos.

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