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França: à sombra de distúrbios de 2005, governo busca equilíbrio entre acalmar tensões e controlar violências

As imagens de violência urbana que abalam a França há três dias dominam as capas dos principais jornais franceses nesta sexta-feira (30). O paralelo com os graves distúrbios de 2005, quando o país enfrentou 21 dias consecutivos de caos, está no topo das preocupações do Executivo.

Manifestante atira objetos contra a polícia durante manifestação contra a morte do adolescente Nahel, em Nanterre. (29/06/2023)
Manifestante atira objetos contra a polícia durante manifestação contra a morte do adolescente Nahel, em Nanterre. (29/06/2023) AFP - ALAIN JOCARD
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As manchetes ressaltam o contexto delicado envolvendo jovens pobres das periferias, a polícia e o Estado francês de forma geral, alvos prioritários dos ataques e depredações desde que o adolescente Nahel, de 17 anos, foi morto por um policial durante uma abordagem em Nanterre, cidade vizinha de Paris. “A França sob tensão extrema”, “Morte de Nahel – alta tensão”, “Fatalmente, as pessoas se rebelam” e “A raiva incendeia os subúrbios” são as manchetes de Le Figaro, Le Parisien, Libération e Le Monde nesta manhã.

Le Figaro dá destaque à dificuldade para o governo de controlar a situação e impedir que o ciclo de violências de 2005 não se repita. Na época, a morte de dois adolescentes, após uma perseguição policial em Clichy-sous-Bois, gerou uma onda sem precedentes de revolta nas periferias francesas, ocupadas por descendentes de imigrantes marginalizados. “Entre apaziguamento e firmeza, Emmanuel Macron busca o bom tom”, ressalta o diário. “Todos sabem que a situação pode se degradar muito rapidamente. Qualquer palavra mal empregada pode deteriorar tudo”, frisa o Figaro.

Discriminação todos os dias

Libération constata que “as circunstâncias da morte de Nahel inflamaram espontaneamente os bairros populares”. “Nossos repórteres, em toda a França, puderam entender uma desesperança bem compreensível”, indica o jornal progressista.

O diário descreve relatos de moradores que alegam que “nós não temos nada do Estado” e são alvo de violências policiais todos os dias. “Quantos Nahels não foram filmados”, questiona uma jovem que participou de uma manifestação convocada pela mãe do adolescente na tarde de ontem, em Nanterre. A manifestante se referia às imagens da intervenção policial que serviram de estopim para a onda de revoltas, após serem divulgadas nas redes sociais. 

Le Parisien nota a presença de participantes “cada vez mais jovens” nos protestos violentos. Em diversas cidades, adolescentes a partir de 11 anos estão na linha de frente dos distúrbios.

“Educadores não se surpreendem com a explosão de violência”, observa o Parisien. Um assistente social relata à publicação que a morte de Nahel simboliza uma tensão constante entre os jovens e a polícia ao longo do ano, de modo que eles se identificam com o caso. “Eles pensam: poderia ter sido eu”, disse o profissional.

Nesta sexta-feira, a porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Ravina Shamdasani, pediu que a França enfrente "seriamente" o problema do racismo e discriminação nas suas forças de segurança. 

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