Prefeito pede demissão na França após intimidações da extrema direita por dar asilo a migrantes
Após ter tido sua casa incendiada e sofrido ameaças da extrema direita, o prefeito de uma cidade do oeste da França pediu demissão e lamentou “a falta de apoio do Estado”. O anúncio gerou indignação na classe política francesa.
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“Eu tomei esta decisão por razões pessoais, principalmente após o incêndio criminoso do meu domicílio e devido à falta de apoio do Estado, após uma longa reflexão com minha família”, anunciou Yannick Morez, prefeito de Saint-Brévin-les-Pins, a quase 500 quilômetros de Paris, na noite de quarta-feira (10) em um comunicado publicado no Facebook.
A residência de Morez foi alvo, em março, de um incêndio criminoso, segundo a polícia, relacionado à polêmica em torno de um Centro de Acolhimento de Requerentes de Asilo (CADA, sigla em francês).
O CADA de Saint-Brévin-les-Pins foi aberto em 2016, mas as tensões começaram em março deste ano após um projeto de transferência do centro para um prédio em construção ao lado de uma escola de ensino infantil.
Várias manifestações contra o projeto foram organizadas pela extrema direita, principalmente pelo partido Reconquista, do ex-candidato à presidência Éric Zemmour em março e abril.
Morez e outras pessoas que apoiavam o projeto do CADA também foram vítimas de ameaças em redes sociais.
Ataques “indignos”
O presidente Emmanuel Macron se manifestou em redes sociais após o anúncio do prefeito.
“Os ataques contra Yannick Morez, prefeito de Saint-Brévin-les-Pins, e contra sua família, são indignos. Ao prefeito, a sua esposa e seus filhos, eu reitero minha solidariedade e a da Nação”, declarou o presidente francês no Twitter.
Les attaques contre Yannick Morez, maire de Saint-Brevin-les-Pins, et contre sa famille, sont indignes. À cet élu de la République, à son épouse et ses enfants, je redis ma solidarité et celle de la Nation.
— Emmanuel Macron (@EmmanuelMacron) May 11, 2023
“O que aconteceu é muito chocante e eu gostaria de garantir ao prefeito todo o meu apoio”, disse a primeira-ministra Élisabeth Borne, que também expressou sua intenção de “melhor proteger os gestores locais” e propôs um encontro com Morez na próxima semana.
O fato de o incêndio estar relacionado com a instalação do centro “mostra que existe um aumento do extremismo em nosso país e, obviamente, precisamos ficar atentos”, disse Borne.
“Inação”
Os partidos de esquerda franceses acusaram o governo pela situação extrema que levou o prefeito à demissão. “A inação do Estado é uma vergonha absoluta. O que está esperando para agir?”, tuitou Fabien Roussel, presidente do Partido Comunista.
“É uma vergonha que o Estado não tenha tomado consciência do que estava acontecendo com ele e não o tenha reconfortado. É uma vergonha continuar a banalizar a extrema direita”, reagiu em rede social o primeiro-secretário do Partido Socialista (PS), Olivier Faure.
Já Marine Le Pen, líder dos deputados do partido de extrema direita Reunião Nacional na Assembleia Nacional francesa, publicou um tuíte repudiando as “agressões e intimidações aos representantes políticos”. “Em uma república, os desacordos políticos são resolvidos nas urnas ou diante dos tribunais. Esta regra não tem exceções”, afirmou.
No Parlamento Europeu, em Estrasburgo, no leste da França, dezenas de eurodeputados prestaram homenagem a Morez.
(Com informações da AFP)
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