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Conselho francês lança relatório com dez recomendações contra o machismo estrutural

"Nem sempre sabemos quando começa o machismo, mas sabemos como termina." Foi com esse slogan que o Alto Conselho para a Igualdade lançou, nesta segunda-feira (23), um relatório com recomendações práticas para combater o machismo na sociedade francesa. Apesar da conscientização causada pelo movimento #MeToo, o machismo persiste na França, em particular com "reflexos masculinistas" entre os jovens, lamenta o estudo.

Manifestação exigindo mais ação do governo francês para prevenir a violência contra as mulheres.
Manifestação exigindo mais ação do governo francês para prevenir a violência contra as mulheres. AP - Bob Edme
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"O machismo não está diminuindo na França. Pelo contrário, algumas de suas manifestações mais violentas estão se agravando e as gerações mais jovens são as mais afetadas", escreve o Alto Conselho para a Igualdade (HCE, na sigla em francês), um órgão consultivo independente. Ele observa que "cinco anos depois do #MeToo, a sociedade francesa continua sexista em todas as esferas: pública, privada, profissional, midiática...". 

"A opinião pública reconhece e lamenta a existência do machismo, mas não o rejeita na prática, principalmente entre os homens", afirma o relatório baseado em dados oficiais e em um barômetro realizado pelo instituto ViaVoice, que entrevistou 2.500 pessoas. A presidente do HCE, Sylvie Pierre-Brossolette, será recebida pelo presidente Emmanuel Macron na quarta-feira (25), por ocasião do Dia Contra o Machismo.

O HCE, que celebra o seu décimo aniversário, promoverá esta semana uma campanha de sensibilização e abrirá na quarta-feira um "julgamento contra o machismo", evento simbólico organizado pelo coletivo Ensemble contre le sexisme (Juntos contra o machismo), que será encerrado pela ministra francesa para a Igualdade, Isabella Rome.

"A cada três dias na França, uma mulher é morta por ser mulher", diz o texto de abertura do relatório, que vem acompanhado de um vídeo em que se ouvem frases violentas ditas por homens contra mulheres no cotidiano. 

"Clichês masculinistas"

Enquanto 80% das mulheres dizem ter a impressão de terem sido menos bem tratadas por causa de seu gênero durante a vida, 14% dizem já ter sofrido "um ato sexual imposto", e mais amplamente 37% dizem ter vivenciado situações não consensuais nas relações sexuais, incluindo relações desprotegidas por insistência do parceiro (12%) ou relações não consensuais sob o efeito de álcool ou drogas (7%).

O machismo leva a renúncias diárias para 9 em cada 10 mulheres entrevistadas: metade desiste de sair ou de fazer atividades sozinhas ou de se vestir como bem entende. E 8 em cada 10 mulheres têm medo de ir para casa sozinhas à noite.

Os homens, por sua vez, penam a se sentirem "implicados", não se sentem pessoalmente responsáveis ​​​​pelo comportamento machista, e um quarto deles considera que "se fala demais sobre agressões sexuais".

Se os homens com mais de 65 anos são mais "conservadores", apegados a rígidos papéis de gênero, o HCE também observa "clichês masculinistas" entre os menores de 35 anos: um quarto deles acredita que às vezes é preciso ser violento para ser respeitado. A imagem da mulher veiculada pela pornografia é considerada "problemática" por metade deles.

O HCE está preocupado com um "fenômeno de backlash em todas as esferas", com "ataques masculinistas" nas redes sociais "para silenciar as mulheres ou desacreditá-las".

Globalmente, o HCE alerta para uma "situação que se agrava com o aparecimento de novos fenômenos: violência online, aumento da virulência nas redes sociais, barbárie em muitíssimas produções da indústria pornográfica, afirmação de uma esfera masculinista e antifeminista". As autoridades públicas "não são consideradas à altura destas questões", nota a instituição.

Uma mulher segura um cartaz com a seguinte frase: "Você nunca mata por amor" enquanto marcha contra a violência doméstica, em Paris, sábado, 23 de novembro de 2019.
Uma mulher segura um cartaz com a seguinte frase: "Você nunca mata por amor" enquanto marcha contra a violência doméstica, em Paris, sábado, 23 de novembro de 2019. AP - Thibault Camus

Machismo violento

“O machismo comum abre caminho para o machismo violento. Para combatê-lo, devemos tomar medidas que influenciem as mentalidades desde cedo: uma ação educativa massiva, regulando a tecnologia digital”, declara a presidente do conselho, Sylvie Pierre-Brossolette.

Entre as principais medidas identificadas pelo HCE estão a “regulamentação de conteúdos no setor digital para combater estereótipos, representações degradantes e cenas de violência já corriqueiras na internet, em particular em vídeos pornográficos”. A instituição também propõe a criação de uma “Alta Autoridade independente para combater a violência de gênero na política”.

Conheça todas as dez recomendações do HCE para combater o machismo na França: 

  1. Aumentar os recursos financeiros e humanos da Justiça para formar cada vez mais magistrados nos tribunais competentes para lidar com a violência doméstica, baseado no modelo espanhol;
  2. Estabelecer a obrigação de resultados pela aplicação da lei de educação em sexualidade e vida afetiva no prazo de três anos, e prever uma sanção pecuniária em caso de descumprimento desta obrigação neste prazo;
  3. Regular os conteúdos digitais para combater os estereótipos, as representações degradantes e o tratamento desigual ou violento das mulheres, em particular os conteúdos pornográficos online;
  4. Tornar o treinamento contra o machismo obrigatório pelos empregadores;
  5. Generalizar a condicionalidade igualitária (que condiciona o uso de dinheiro público a uma contrapartida em termos de igualdade) e uma previsão orçamentária sensível ao gênero;
  6. Criar uma Alta Autoridade independente para lutar contra a violência baseada no gênero na política;
  7. Condicionar o apoio público à imprensa escrita aos compromissos com a igualdade;
  8. Tornar obrigatório um sistema de avaliação e publicação anual sobre a quota de representação feminina nos manuais escolares, informando ou mesmo condicionando a sua comercialização, à semelhança do modelo belga;
  9. Proibir a publicidade de brinquedos com indicação de gênero, como no modelo espanhol;
  10. Institucionalizar o dia nacional de luta contra o machismo em 25 de janeiro.

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