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Eleição francesa: no plano ambiental, Macron e Le Pen deixam a desejar

Em meio à guerra na Ucrânia e a alta da inflação, os temas ambientais estiveram praticamente ausentes da campanha eleitoral para o primeiro turno da eleição presidencial francesa. Agora, os dois finalistas que disputam o segundo turno, Emmanuel Macron e Marine Le Pen, adaptam seus programas na tentativa de captar os votos da esquerda – mas os projetos de ambos permanecem insuficientes diante da crise climática, alertam organizações ambientalistas.

Propostas de Macron para o clima foram consideradas insuficientes por organizações ambientais, enquanto que as de Le Pen podem até ser contrárias aos objetivos assumidos por Paris.
Propostas de Macron para o clima foram consideradas insuficientes por organizações ambientais, enquanto que as de Le Pen podem até ser contrárias aos objetivos assumidos por Paris. AFP - NICOLAS TUCAT
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Em seu último relatório, revelado no início do mês, o IPCC (Painel intergovernamental de especialistas em mudanças climáticas) advertiu que a humanidade precisa atingir o pico das emissões de CO2 até 2025 se ainda quiser “garantir um mundo habitável” no futuro. Mas os candidatos à presidência francesa parecem não dar tanta importância a este apelo.

A associação Les Shifters, em parceria com o site Franceinfo, avaliou os programas de todos os candidatos no primeiro turno e considerou que as propostas de Macron estavam “afastadas" dos objetivos climáticos da França, enquanto que as de Le Pen foram posicionadas como “muito afastadas ou contrárias” aos compromissos assumidos pelo país no Acordo de Paris sobre o Clima, assinado em 2015 na capital francesa.

Agora, Macron tenta embelezar o programa inicialmente apresentado. O abastecimento energético, no foco dos problemas relacionados à guerra e à inflação, mas também crucial para o cumprimento das metas ambientais, recebeu um retoque ambicioso: o candidato promete que a França será “a primeira nação a abandonar o gás, o petróleo e o carvão”, graças ao desenvolvimento de seis novas centrais nucleares de última geração.

Em busca dos eleitores de Jean-Luc Mélenchon e Yannick Jadot, que propunham os programas ambientais mais ambiciosos e completos, Macron adotou o plano de Mélenchon de promover um "planejamento ecológico" do país. O primeiro-ministro seria diretamente encarregado da questão.

Macron tem balanço ambiental decepcionante a apresentar

O problema, entretanto, é que o balanço da política ambiental do presidente foi decepcionante. O país só diminuiu em 1% as emissões de gases de efeito estufa em 2017 e 2018, a metade da meta de 2,2% estipulada no Plano Estratégico Nacional de Baixo Carbono, em vigor no país. As ações promovidas no primeiro mandato de Macron também não bastam para assegurar as projeções de queda de emissões francesas até 2030, conforme admitiu o Ministério da Transição Ecológica.

A um mês do primeiro turno da eleição presidencial francesa, protestos pelo clima retomaram nas ruas de Paris. 12/03/2022.
A um mês do primeiro turno da eleição presidencial francesa, protestos pelo clima retomaram nas ruas de Paris. 12/03/2022. © Alain Jocard, AFP

O programa de Macron para os próximos cinco anos de governo continua a manter lacunas importantes, quanto à mobilidade urbana, à preservação dos solos e à redução do consumo de carne, entre outros aspectos. Les Shifters sublinha que o candidato aposta na tecnologia para a França atingir seus objetivos ambientais, porém essa hipótese comporta “incertezas quanto à descarbonização nos prazos previstos”, frisa a associação.

“Temos dificuldade de acreditar nele”, afirma Neil Makaroff, encarregado dos temas europeus na Rede Ação Clima, que reúne diversas associações francesas. Em entrevista à RFI, ele avaliou que o primeiro mandato de Macron foi de “estagnação climática”, e o programa para os próximos anos é “vago e pouco preciso”.

“Ecologia nacional” de Le Pen

Já Marine Le Pen, embora não conteste o aquecimento global, critica as conclusões do IPCC, o Pacto Verde europeu, o Fundo Verde pelo Clima e até o Acordo de Paris. Ela afirma não desejar retirar a França do tratado internacional, mas alega que o país “vai cumpri-lo da forma como escolher, no ritmo e nas etapas que decidir”.

A candidata da extrema direita considera que os pactos internacionais são “muito limitadores” e simbolizam “uma ecologia devota de um terrorismo climático que ameaça o planeta, a independência nacional e o nível de vida dos franceses”.

Para as ONGs, os comentários representam uma porta aberta para o seu eventual governo descumprir os compromissos. Já Le Pen espera atingi-los graças a uma política de “ecologia nacional”, baseada em produção local e consumo com circuitos curtos – projeto que corrobora as suas críticas à globalização. Os contornos desse plano foram inseridos no seu site de campanha, após o primeiro turno da eleição.

A emissora Franceinfo ouviu do comitê da candidata que o Plano Estratégico Nacional de Baixo Carbono francês é uma “lei socialista”. Uma das suas promessas, por exemplo, é reduzir as instalações eólicas e solares no país, devido às reclamações de produtores rurais a este respeito. As duas fontes renováveis, entretanto, são parte crucial da transição energética francesa – Macron promete construir 50 novos parques eólicos offshore.

A Rede Ação Clima considera que o projeto ambiental de Le Pen significaria "uma regressão climática”. “Em vez de ajudar os franceses a abandonar as energias fósseis, caras e poluentes, ela estimula a continuidade dessas energias”, disse Neil Makaroff.

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