Acessar o conteúdo principal

Casal que lavava dinheiro sujo do ex-ditador líbio Kadafi é preso na França

A polícia francesa prendeu um homem e uma mulher que carregavam € 20 mil em notas mofadas, uma parte do tesouro em dinheiro do ex-ditador líbio Muammar Kadafi, roubado durante o bombardeio do banco de Benghazi. O casal já havia "lavado" o dobro dessa quantia anteriormente, de acordo com fontes judiciais.

Muammar Kadafi durante um discurso televisionado em 30 de abril de 2011
Muammar Kadafi durante um discurso televisionado em 30 de abril de 2011 REUTERS/Libya TV
Publicidade

“O dinheiro era sujo demais para passar despercebido. O casal, que vivia em Limoges (cidade no centro da França), foi detido no início de outubro com € 20 mil em notas mofadas e já tinha vendido o dobro em poucos meses”, revela o jornal Le Parisien nesta quarta-feira (7).

O jornal indica que a prisão faz parte de uma investigação de 10 meses dedicada a rastrear a lavagem de dinheiro do tesouro do ex-chefe de Estado líbio, Muammar Kadafi.

Para entender por que o casal estava em posse do dinheiro, é preciso lembrar sua origem. Em meio à guerra civil na Líbia de 2017, o exército nacional líbio, liderado pelo comandante Khalifa Haftar, tentou tomar a cidade de Benghazi. Durante a operação, os rebeldes assumiram o controle do banco. No cofre, eles encontraram € 160 milhões em espécie, em notas de € 100 e € 200.

Le Parisien explica que estes euros foram fabricados em 2010 na Alemanha a pedido do "Guia da Revolução", como era chamado Muammar Kadafi, assassinado em 2011 muitos meses após a queda de Trípoli. “Jamais saberemos para quem eram destinados esses euros”, disse uma fonte próxima à investigação citada pelo jornal.

Em todo o caso, metade desses € 160 milhões estava em boas condições. “Eles eram usados ​​para comprar armas e equipamentos. Esse dinheiro também foi desperdiçado rapidamente ou foi colocado em outros bancos", revelou outra fonte judicial.

Mas a outra metade das notas estava marcada: o bombardeio da cidade ativou o sistema de segurança do banco, que inundou o porão e o cofre por meses. Certa de 80 milhões de notas foram danificadas.

Dinheiro mofado

No início, os rebeldes tentaram vender as notas, usando inclusive produtos abrasivos para tentar limpá-las, o que acabou por danificar o dinheiro. “Em condições mais ou menos boas, quase todas essas 80 milhões (de notas) foram eventualmente vendidas por entre 20% e 40% de seu valor de face para a máfia turca”, afirma um relatório europeu.

Dez meses depois, em meados de 2018, as primeiras notas mofadas começaram a reaparecer, primeiro na Alemanha e depois em toda a Europa, observa o Le Parisien.

O Banco Central Europeu não soube explicar a origem desse dinheiro mofado que circulava discretamente, até interrogar quem fazia os depósitos. “Muitas vezes eram pessoas que trabalhavam no mercado negro e eram pagas com essas notas”, informa a fonte judicial. “É uma lavagem organizada da atividade da máfia. Muito provavelmente esse dinheiro foi usado em transações de drogas”, acrescenta.

Em 2019, a série de notas incriminadas foi proibida. “Os bancos foram obrigados a rejeitar este dinheiro, mas algumas notas poderiam ser aceitas apesar deste aviso, porque nem todos os agentes estavam necessariamente atentos ao receberem pequenos depósitos”, revelou uma fonte próxima à investigação no Le Parisien.

Foi necessário esperar que um homem de 39 anos, que vive em Limoges, fosse preso com € 15 mil mofados. A investigação levou à sua amante, uma mulher de 42 anos, identificada como a mentora da operação.

Seu trabalho como gerente em uma empresa que atua junto ao setor de supermercados lhe permitia justificar ao seu banco que as notas estavam sujas e mofadas pelo contato com alimentos frescos. No início do mês de outubro, o casal foi finalmente detido.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.