Consumo de foie gras no Natal: a tradição francesa vale o sofrimento animal?
Quase 80% dos franceses servem o foie gras na ceia de Natal. O jornal Le Parisien desta terça-feira (24) reacende a polêmica sobre a ética deste prato, que significa fígado gordo em português e é produzido com base na gavagem ou engorda forçada de patos e gansos.
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O debate sobre o consumo de foie gras --produto icônico da cozinha francesa-- anda mais inflamado do que nunca, já que o prato deve ser proibido em Nova York. Considerado bárbaro pelos defensores dos animais, cada vez mais franceses se sentem culpados ao comer o foie, segundo o jornal. Ainda assim, de acordo com uma pesquisa feita este mês, 77% dos franceses vão consumir o foie gras nas festas de fim de ano.
Uma associação de defesa dos animais francesa, a L214, publicou um vídeo, em 11 de dezembro, denunciando os maus tratos sofridos pelas aves. As fêmeas são abandonadas para morrer, já que são os machos que têm o fígado mais gordo e com menos nervos.
O vídeo mostra também a gavagem, um método que força os animais a se alimentarem além do normal, gerando um crescimento excessivo do fígado, podendo chegar a dez vezes o seu tamanho habitual, e um acúmulo de gordura cujo percentual pode chegar a 65%.
Sensacionalismo
A diretora do Comitê Interprofissional do Foie Gras (Cifog), Marie-Pierre Pé, acusa a associação de defesa animal de ser sensacionalista e a chama de “mercadores do medo”.
Segundo Le Parisien, o fim da produção de foie gras é uma das grandes causas animais das associações ditas “abolicionistas”, que também querem acabar com o consumo de carne, assim como das mais moderadas, que querem pôr um fim ao sofrimento animal.
“Por princípio, o foie gras é um fígado doente, eles têm uma patologia. Os patos criados para produzir o foie gras são como mulas, híbridos incapazes de voar”, denuncia Brigitte Gothière, porta-voz da associação L214, que diz que 60% dos franceses são pela interdição da gavagem para a produção do foie.
Para Marie-Pierre Pé, é preciso saber diferenciar os patos dos seres humanos. “Eles não sofrem quando os engordamos, seus esôfagos são extensíveis como meias-calças de nylon”, compara.
Para o chef e sociólogo da alimentação Gérard Cagna, “se pudermos poupar um pouco os animais, façamos, mas em todo caso a minha cozinha continua fiel ao foie gras, um produto incrível que se come frio ou quente. Um produto de partilha”, diz o chef ao Le Parisien sobre a tradição francesa.
Alternativa
O jornal apresenta também uma alternativa ao foie gras como é servido hoje. Trata-se de uma versão mais ética, mas ainda mais cara: fígados de ganso que engordam naturalmente, graças ao consumo de probióticos produzidos com as próprias bactérias dos animais.
Antes de migrar, os gansos estocam o milho na sua microbiota, com as bactérias que habitam seu intestino. Esta reserva de gordura é recombinada pelos cientistas e reingerida pelos gansos para que seus intestinos sejam colonizados naturalmente.
As associações de defesa dos animais concordam que esta versão é “menos pior” que a tradicional. O problema é o preço: a versão ética custa em torno de €1.000 (aproximadamente R$ 4.526) o quilo.
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