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Esposa de Navalny pede a russos para expressarem oposição a Putin nas eleições

Yulia Navalnaya fez um apelo, na quarta-feira (6), aos russos para expressarem sua oposição a Vladimir Putin em 17 de março, o terceiro e último dia das eleições presidenciais que deverão reeleger o presidente, em ausência de verdadeiros candidatos da oposição. Também nesta quarta, um jornalista foi condenado por criticar a guerra na Ucrânia. 

Yulia Navalnaya em discurso no Parlamento Europeu, em 28 de fevereiro de 2024.
Yulia Navalnaya em discurso no Parlamento Europeu, em 28 de fevereiro de 2024. © European Union, 2024 - EP
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“Você pode votar em qualquer candidato, exceto Putin, você pode 'invalidar' sua cédula, pode escrever 'Navalny' em letras grandes”, pediu a viúva exilada do oponente Alexei Navalny, cujo funeral na semana passada em Moscou contou com a presença de milhares de pessoas.

“Devemos ir à seção de voto no mesmo dia e à mesma hora, 17 de março ao meio-dia”, pediu ela num vídeo, chamando a eleição de “farsa”.

Yulia Navalnaya, assim como seus dois filhos e alguns aliados e colaboradores de seu marido, vive no exterior para escapar da repressão do governo russo.

“Podemos ir e mostrar que somos numerosos e fortes” contra “a guerra, a corrupção e a ilegalidade”, argumentou novamente diante da câmera, com o olhar direto e determinado.

Seu marido, Alexei Navalny, lançou esta ideia no início de fevereiro em um de seus últimos discursos feitos na prisão, antes de sua morte, alegando que “poderia ser uma demonstração poderosa do estado de espírito do país”.

Yulia Navalnaya também criticou “o culto ao passado, à guerra, aos mísseis e aos assassinatos” defendido, segundo ela, pelo Kremlin, face ao “amor, apoio e fé no futuro” que pretende transmitir.

Preso no início de 2021, Alexeï Navalny, advogado e militante, denunciou incansavelmente a repressão e a corrupção das elites russas e criticou, já na prisão, o ataque do Kremlin à Ucrânia.

Yulia Navalnaya também agradeceu no vídeo, aos milhares de simpatizantes que prestaram homenagem ao seu marido na sexta-feira (1º), durante o funeral organizado no sudeste de Moscou. 

“Estas imagens estão imbuídas não só de tristeza, mas também de esperança”, sublinhou Navalnaya, cumprimentando as pessoas “mais corajosas e mais honestas” do país. “Somos muitos e enquanto estivermos juntos, nada estará terminado”, disse ela.

Milhares de pessoas participaram do funeral do opositor russo Alexei Navalny, em Moscou, em 1º de março de 2024.
Milhares de pessoas participaram do funeral do opositor russo Alexei Navalny, em Moscou, em 1º de março de 2024. AP

Russos amplamente unidos

Já o Kremlin garante que os russos estão amplamente “unidos” em apoio a Vladimir Putin, que deverá ser reeleito sem oposição durante a votação que vai de 15 a 17 de março.

Se vencer, o atual presidente russo permanecerá no poder pelo menos até 2030, três décadas depois de sua chegada ao Kremlin para substituir Boris Yeltsin, então enfraquecido por seu estado de saúde.

Na quarta-feira, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, garantiu que as autoridades organizarão dentro de alguns dias “o tipo de eleições desejadas pelo nosso povo”.

“Não toleraremos mais críticas à nossa democracia”, disse ele.

Leia tambémMais de 40 países acusam Putin pela morte de Navalny e exigem investigação internacional independente

Jornalista opositor preso

Nesta quarta-feira, um jornalista e blogueiro russo, Roman Ivanov, foi condenado a sete anos de prisão por publicar mensagens criticando o ataque à Ucrânia nas redes sociais, um novo exemplo da repressão na Rússia.

O tribunal de Korolev, uma pequena cidade a seis quilômetros a nordeste de Moscou, considerou Ivanov, de 51 anos, culpado de “espalhar informações falsas” sobre o Exército russo em três mensagens que apareceram na rede social russa VKontakte e no Telegram.

Uma das publicações dizia respeito, em particular, aos acontecimentos na cidade ucraniana de Boucha, onde foram descobertos corpos de civis mortos em abril de 2022. Kiev acusou o Exército russo do massacre, o que Moscou sempre negou.

Logo após o anúncio do veredicto, os apoiadores de Ivanov, presentes nos corredores do tribunal, gritaram: "Roma (abreviação de Roman), estamos com você. Você não está sozinho!", segundo um jornalista do AFP no local.

"Jornalismo não existe mais na Rússia"

A mãe de Ivanov, Alla Ivanova, entrevistada pela imprensa, denunciou uma acusação “fabricada”. “Ele estava lutando pelas pessoas, ajudando-as”, disse ela. “Foi um pretexto para se livrar de Roman”, denunciou a esposa do condenado, Maria Nekrassova, de 36 anos, anunciando que “naturalmente, vamos recorrer”.

Um dos próximos do jornalista, Anton Kouzmenko, 54 anos, sublinhou que ele foi “julgado pelas mesmas pessoas a quem se opôs durante suas atividades jornalísticas”. “Isso mostra injustiça”, disse ele.

Durante seu julgamento, Roman Ivanov, preso em abril de 2023, declarou-se inocente, e afirmou que seu julgamento fazia parte da “repressão” de vozes críticas do Kremlin.

“Quero pedir perdão a todos os ucranianos a quem o nosso país causou sofrimento”, declarou também aos juízes. E acrescentou: “O jornalismo não existe mais na Rússia”.

Anteriormente trabalhando como jornalista esportivo em um canal de televisão estatal, em 2019 criou seu próprio canal no YouTube, “Korolev Honest”, no qual denunciou a corrupção na prefeitura local, fraudes eleitorais e problemas ligados ao meio ambiente.

“Para mim, uma das consequências mais graves deste julgamento é que as pessoas em Korolev permanecerão sem a minha ajuda durante muito tempo”, lamentou. Ele foi demitido da emissora estatal de televisão em 2021. Nos últimos meses, trabalhou para um jornal online independente, RusNews, cuja jornalista, Maria Ponomarenko, também foi condenada, em 2023, a seis anos de prisão por publicar uma mensagem no Instagram criticando o ataque russo na Ucrânia.

Nos últimos dois anos, quase 20 mil pessoas foram detidas na Rússia por expressarem sua oposição ao conflito na Ucrânia, segundo a ONG especializada OVD-Info.

(Com AFP)

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