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Quem é Martin Sellner, membro da ultradireita na Áustria que inspira extrema direita alemã

Os alemães estão se mobilizando contra a extrema direita, após a revelação de uma reunião em Potsdam, na Alemanha, que teve a presença de membros do partido Alternativa para a Alemanha (AfD). Entre os convidados, estava o austríaco Martin Sellner, cofundador do Movimento Identitário Austríaco, de ultradireita, e figura influente da direita radical. No encontro, ele veio apresentar seu "conceito de remigração", um projeto de expulsão em massa de estrangeiros, incluindo naturalizados.

O cofundador Martin Sellner, membro da ultradireita austríaca que  tem influenciado a extrema direita alemã.
O cofundador Martin Sellner, membro da ultradireita austríaca que tem influenciado a extrema direita alemã. © Georg Hochmuth / AFP
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Anastasia Becchio, da RFI

Martin Sellner tem jeito de hipster. Com seu corte de cabelo estilizado, fios caindo do lado direito da testa e sorridente, sua imagem parece destoar das ideias radicais que ele veicula. Mas isso é apenas uma impressão. "Ele representa essa nova geração de ativistas de extrema direita de boa aparência. Está muito longe da imagem clássica do extremista de cabeça raspada, tatuagens, jaqueta de couro e uma suástica tatuada no braço", diz Gilles Ivaldi, pesquisador do CNRS (Centros de Pesquisa Científica da França) e especialista em partidos de direita radical.

Filho de um médico homeopata e de uma professora de inglês, Martin Sellner cresceu nos subúrbios de Viena. Aos 35 anos, é formado em filosofia e não concluiu seus estudos de Direito. Ele é casado com Brittanny Pettibone, blogueira californiana que tem 175 mil inscritos em seu canal no YouTube.

Ao lado de sua jovem esposa, o representante da ultradireita encarna a imagem que o movimento identitário quer transmitir à opinião pública. "Ele faz parte da nova estratégia da extrema direita, que avança sem mostrar a que veio, tentando esconder ao máximo todos os marcadores e símbolos da extrema direita tradicional", diz Gilles Ivaldi.

"Patriota, mas não neonazista"

Em 2016, em entrevista à CNN, Martin Sellner apresentou-se como "patriota e não neonazista". "Como ativista patriota, escritor e jornalista, defendo a verdade e a resistência, a teoria e a ação", diz em seu site.

Sellner se envolveu com o movimento ainda muito jovem, lembra Jérôme Segal, ensaísta e historiador franco-austríaco. "Ele se sentiu rapidamente atraído pelo meio neonazista. É próximo de um famoso neonazista austríaco, Gottfried Küssel. Já aos 17 anos, colou suásticas em uma sinagoga. Ele foi condenado a 100 horas de serviço comunitário", lembra o professor da Universidade Sorbonne e especialista em extrema direita de Viena.

Martin Sellner se inspirou no movimento francês “Génération Identitaire” (Geração Identitária), dissolvido em 2021, acusado pelo governo de incitação ao ódio e discriminação, e cofundou a filial austríaca do grupo. Convidado para a universidade de verão dos jovens extremistas franceses, ele confessou em uma entrevista filmada que saiu “inspirado” do encontro.

Links para Christchurch assassino

Lutando contra a imigração, a islamização e a globalização, Martin Sellner se preocupa com a "Grande Substituição” (tradução literal de “Le Grand Remplacement). Esta teoria, desenvolvida na França pelo escritor e filósofo Renaud Camus, acusa os muçulmanos e imigrantes de substituírem a população europeia original. Ele foi retomado pelo assassino de Christchurch, na Nova Zelândia, em 2019.

Antes de matar 51 pessoas em duas mesquitas, Brenton Tarrant correspondeu-se com Martin Sellner e doou € 1.500 euros, o que o levou a ser interrogado pela justiça austríaca por "participação em organização terrorista".

A investigação foi encerrada em 2021. Agora, o ativista extremista austríaco foi proibido de entrar no Reino Unido e nos EUA por motivos de segurança pública. A Alemanha não descarta fazer o mesmo desde a reunião de Potsdam.

O movimento identitário austríaco tem poucos membros e "o seu número é estimado entre 500 e 600", diz Jérôme Segal. Mas Martin Sellner tem audiência nas redes sociais, apesar de ter sido banido de grandes plataformas como YouTube, Facebook, X ou Spotify.

Influência

No Telegram, ele tem atualmente 58 mil inscritos em seu canal em alemão e 2 mil no canal em inglês. Acima de tudo, cultiva ligações com o partido de extrema-direita austríaco FPÖ e a AfD alemã. "Esse grupo relativamente pequeno de extrema direita na internet é influente porque infunde e dá ideias e temas a partidos que são influentes e que estão na vanguarda da cena", alerta Gilles Ivaldi.

De acordo com um estudo do think tank European Council on Foreign Relations (ECFR), "os partidos populistas de direita antieuropeus sairão na frente em pelo menos nove países membros da UE" nas eleições europeias de junho, incluindo França, Áustria, Bélgica, Itália e Holanda. Para as eleições parlamentares de setembro de 2024, o FPÖ austríaco é creditado com 30% das intenções de voto.

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