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França: Presidente de partido de extrema direita manteve conta fascista em redes sociais, revela reportagem

Uma reportagem divulgada na noite de quinta-feira (18) sobre o presidente do partido de extrema direita Reunião Nacional (RN), o eurodeputado Jordan Bardella, mostra que o jovem, forjado para melhorar a imagem do partido de Marine Le Pen, teria mantido durante anos uma conta no X (ex-Twitter) com um pseudônimo, na qual publicava posts racistas, homofóbicos e contra jornalistas. Além disso, a reportagem também revelou ligações de Bardella com grupos neofascistas.

A presidente do grupo parlamentar do partido de extrema direita RN na Assembleia Nacional Francesa, Marine Le Pen (esq.), fala com o presidente do RN, Jordan Bardella, depois que ele apresentou seus votos de Ano Novo em Paris, em 10 de janeiro de 2023.
A presidente do grupo parlamentar do partido de extrema direita RN na Assembleia Nacional Francesa, Marine Le Pen (esq.), fala com o presidente do RN, Jordan Bardella, depois que ele apresentou seus votos de Ano Novo em Paris, em 10 de janeiro de 2023. AFP - EMMANUEL DUNAND
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A reportagem, divulgada pelo canal France 2, no programa “Complément d’enquête” (Investigação complementar, em tradução livre) causou revolta no RN.

Segundo três fontes, cujos nomes não foram revelados, Jordan Bardella teria contribuído para uma conta anônima no Twitter, a “RepNat du Gaito”, de agosto de 2015 a junho de 2017. Na época, ele era um jovem vereador do partido Frente Nacional (que posteriormente passou a se chamar Reunião Nacional) e admirador de Marine Le Pen e seu pai, Jean-Marie.

A conta divulgava ataques, muitas vezes vulgares, a adversários políticos, insultos a jornalistas e frases de veneração a Jean-Marie Le Pen, além de explorar notícias trágicas. 

A investigação mostra, por exemplo, um tuíte com um post que ironiza o caso Théo, um jovem negro ferido no ânus pela polícia francesa e que causou grande comoção no país.

De acordo com o apresentador do “Complément d’enquête”, Tristan Waleckx, Marine Le Pen deixou de seguir a conta apenas na noite de quarta-feira (17), um dia antes do programa ir ao ar.

Eleições europeias

​Diante das câmeras do programa da France 2, Bardellla negou estar por trás da conta do X e afirmou ter enviado uma intimação ao canal de tevê na quarta-feira para que a reportagem não fosse transmitida. Durante uma coletiva de imprensa nesta segunda-feira (15), o líder mostrou-se indignado com o momento escolhido para a difusão da investigação.

“Considero bastante questionável a escolha de transmitir este relatório no início da campanha para as eleições do Parlamento Europeu”, disse. O eurodeputado é o principal candidato do RN a uma reeleição.  

Pierre-Stéphane Fort, jornalista autor da reportagem, disse à RFI que o objetivo era mostrar que, por trás do discurso contido do jovem presidente do partido Reunião Nacional, os 'velhos demônios' de seu antigo fundador, Jean Marie Le Pen, processado repetidas fezes por incitar o ódio racial, ainda estão presentes.

“Ele é antes de tudo uma produção, uma criação de marketing. Jordan Bardella é fruto da vontade de Marine Le Pen. Ela o escolheu, ela o detectou, ela o protegeu, investiu muito dinheiro para formá-lo, em media training, porque ela precisava de ter ao seu lado um homem jovem, sedutor e que incarnasse a ‘desdiabolização’ do partido”, afirma.

“Mas se raspamos um pouco o verniz da comunicação, vemos logo que as ideias antigas de Jean-Marie Le Pen não estão longe – o que não é impressionante. Jordan Bardella se engajou na Frente Nacional aos 16 anos. Então a ideologia do partido teve muito tempo para impregná-lo”, diz o jornalista.

Bardella chamou a reportagem de "manipulação grosseira", devido ao fato de que foram usadas fontes anônimas.

“Me pergunto de que lado está a manipulação. Eles nos enviaram uma intimação, mas nenhuma queixa por difamação”, alegou Fort. “Na verdade, eles estão numa estratégia de defesa”, salienta.

“Não é fácil testemunhar contra o presidente do Reunião Nacional, que é um homem poderoso hoje, então podemos entender que, para sua segurança, as fontes teham preferido testemunhar de maneira anônima”, disse. “Eu posso dizer simplesmente que, hoje, o que as três testemunhas têm em comum é que conheceram bem Jordan Bardella, foram próximas dele entre 2015 e 2017, o período em que a conta do Twitter estava ativa”, afirma. “Temos todo o material necessário para provar.”

Para o jornalista, alguns fatos revelados, como o fato de Bardella ter votado sistematicamente contra o direito ao aborto no Parlamento Europeu, é “tipicamente uma das velhas posições da extrema direita”, diz.

“Queremos simplesmente mostrar a verdadeira cara de Jordan Bardella, longe da comunicação. Os eleitores escolherão de acordo com seus pontos de vista. Mas nosso trabalho é tentar fornecer informações para que formem uma posição clara”, explica.

Ausência no Parlamento e neonazismo

Além das revelações sobre a conta no Twitter, o programa também afirma que, apesar de frequentemente intervir no plenário do Parlamento Europeu, onde é deputado, Bardella tem uma taxa de ausências que chega a 70% nas comissões. Durante quatro anos, o eurodeputado, que briga por um novo mandato nas eleições de junho, não teria redigido nenhum relatório.

Apesar de o RN alegar cortar relações com seus integrantes mais extremistas, a reportagem revela fotos e informações que mostram relações do presidente da sigla com o movimento radical de extrema direita Groupe Union Défense (Grupo União Defesa, em tradução livre) e com personalidades do movimento neofascista.

O GUD é uma organização estudantil de extrema-direita conhecida por suas ações violentas.

O programa entrevista também o ex-jornalista e coach Pascal Humeau, que teria preparado Jordan Bardella. “Em termos de conteúdo, ele era bastante limitado”, afirmou. “Ele não lia, [...] não se informava sobre nada e usava somente elementos da linguagem de Marine Le Pen”, contou o coach.

O especialista treinou Bardella, que ele deixasse de ser um jovem “muito rígido”, “seco”, e "que as pessoas que a princípio o odeiam digam: ‘para um fascista, ele parece legal!’”.

“Sua tranquilidade, seu relaxamento, seu entusiasmo que podemos sentir hoje, tivemos que trabalhar e demorou muitos meses”, relatou Pascal Humeau no programa, intitulado  “Jordan Bardella, le grand remplaçant” – que pode ser traduzido por "Jordan Bardella, o grande substituto".

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