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Aviso do exército da Suécia sobre possível invasão da Rússia causa corrida ao supermercado e ansiedade em crianças

Realismo ou alarmismo? Os apelos do exército e do governo suecos para se preparar para uma possível invasão russa provocam um intenso debate no país, uma escalada de compras por precaução e um aumento da ansiedade entre crianças suecas. Embora a Suécia envie regularmente tropas para operações de manutenção da paz, o país, que é candidato a integrar a OTAN desde maio de 2022, não se envolveu em um conflito armado desde as Guerras Napoleônicas, no século 18.

O ministro da Defesa da Suécia, Pal Jonson, participa de uma coletiva de imprensa sobre a candidatura da Suécia à OTAN em Estocolmo, Suécia, na terça-feira, 24 de janeiro de 2023.
O ministro da Defesa da Suécia, Pal Jonson, participa de uma coletiva de imprensa sobre a candidatura da Suécia à OTAN em Estocolmo, Suécia, na terça-feira, 24 de janeiro de 2023. AP - Pontus Lundahl
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Nesse contexto, realidade da guerra é algo estranho para a maioria dos suecos. "Pode haver uma guerra na Suécia", disse o ministro da Defesa Civil, Carl-Oskar Bohlin, em uma conferência de defesa no domingo passado, alertando contra a complacência de algumas autoridades.

O comandante-chefe das Forças Armadas suecas, Micael Byden, concordou alguns dias depois, apontando para casas incendiadas e bombardeadas na Ucrânia. "Você acha que isso poderia acontecer na Suécia?", perguntou ele no mesmo evento, explicando que essa não era apenas uma pergunta retórica.

"A guerra da Rússia contra a Ucrânia é um estágio, não o objetivo final, para estabelecer uma esfera de influência e destruir a ordem mundial baseada em regras", disse ele. O chefe do exército continuou dizendo que os suecos "devem se preparar mentalmente para a guerra".

Além de seu pedido de adesão à OTAN, a Suécia assinou um acordo no início de dezembro autorizando os Estados Unidos a ter acesso a 17 bases militares em seu solo.

Crianças preocupadas   

Após essas declarações amplamente comentadas pela sociedade sueca, a ONG de direitos das crianças Bris relatou um aumento acentuado no número de ligações para sua linha direta de crianças preocupadas com a perspectiva de guerra.

"Os níveis de ansiedade de muitas crianças suecas foram agravados por essas informações", disse Magnus Jagerskog, secretário-geral da associação, em um comunicado.

As cadeias de lojas também registraram um aumento nas compras de itens como rádios de emergência, galões de água e fogões de acampamento. Essas declarações alimentaram um intenso debate sobre o fato de serem alarmistas.

"A situação é grave, mas também é importante deixar claro que a guerra não está à nossa porta", disse Magdalena Andersson, líder dos social-democratas suecos e ex-primeira-ministra.

O comentarista de esquerda Goran Greider escreveu que achava que os comentários do exército faziam parte de "um desejo secreto de testar as forças de combate suecas".

No entanto, em seu editorial para o jornal Dagens Nyheter (DN), ele também admitiu que provavelmente a mensagem do exército era "nos dê mais dinheiro". Em outro editorial, o mesmo jornal disse que muitas das afirmações de convocação para se preparar eram "absurdas".

"Paranoia"

A Rússia ridicularizou as declarações suecas. A embaixada russa na Suécia escreveu no X: "Talvez os líderes suecos devessem parar de alimentar a paranoia em seu povo?". 

Alexey Pushkov, membro da câmara alta do parlamento russo, disse no Telegram que "às vezes você tem a impressão de que alguns soldados e jornalistas suecos estão quase sonhando com a guerra". A perspectiva de a Rússia atacar a Suécia é infundada, de acordo com Mark Galeotti, do think tank Royal United Services Institute.

"Entendo que as forças armadas precisam considerar os piores cenários, e a Rússia tem se mostrado mais agressiva do que qualquer um previa", diz ele. "Mas tenho que admitir que estou cético quanto à probabilidade de tal cenário.

Vários fatores tornam improvável a hipótese de um ataque russo, segundo ele, em particular "o fato de que o exército russo, ou pelo menos as forças terrestres em particular, foram prejudicadas" pela guerra na Ucrânia. "A pergunta final é: por que Putin faria isso?", pergunta Galeotti.

A Ucrânia ocupa um lugar especial na visão que Vladimir Putin tem da Rússia, que, por outro lado, não demonstrou nenhum desejo de enfrentar os países bálticos, frequentemente vistos como um cenário no qual a Suécia poderia se envolver, diz ele. Também é difícil imaginar que a Rússia se envolva em um conflito de maior escala envolvendo países da OTAN, acrescenta o especialista.

(Com AFP)

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