No Parlamento britânico, Charles III pronuncia primeiro "Discurso do Rei" em mais de 70 anos
O rei Charles III pronunciou nesta terça-feira (7) o seu primeiro discurso como monarca diante do Parlamento britânico. Apesar de ser um ritual, sem implicações políticas maiores para os soberanos, a alocução inaugura uma nova era na monarquia do país, a primeira de um rei em mais de 70 anos.
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Essa não foi a primeira vez de Charles diante do Parlamento britânico. Em maio de 2022, ele já havia pronunciado um discurso no local, mas em nome da mãe, a rainha Elizabeth II, que apresentava problemas de saúde. Ela viria a falecer alguns meses depois, em 8 de setembro de 2022.
Desde a morte da soberana, o cenário da monarquia mudou no Reino Unido. Ao chegar ao Palácio de Westminster, que abriga o Parlamento britânico, Charles foi vaiado por dezenas de manifestantes, que gritaram frases como "Não é o meu rei!" e "Você é um desperdício de dinheiro" - uma situação inimaginável durante o reinado de Elizabeth II.
Impassível, usando a coroa imperial e sentado no trono dourado da Câmara dos Lordes, ao lado da rainha Camilla, Charles pronunciou o discurso de cerca de 10 minutos. O ritual marca o início da última sessão parlamentar antes das próximas eleições legislativas, que devem acontecer até janeiro de 2025.
Eleições legislativas
"Ciente do legado de serviço e devoção a este país deixado pela minha querida mãe, a falecida rainha, pronuncio este, o primeiro 'Discurso do Rei' em mais de 70 anos", disse o monarca ao iniciar o pronunciamento no qual o primeiro-ministro conservador, Rishi Sunak, tentou apresentar uma visão de "longo prazo", com a intenção de ganhar votos para as eleições legislativas.
Esse também foi o primeiro "Discurso do Rei" do premiê desde que sucedeu Liz Truss, cujo governo durou apenas dois meses. Após a pandemia de Covid-19 e a guerra na Ucrânia, que contribuíram para a grave crise e para o aumento do custo de vida no Reino Unido, "a prioridade do meu governo é tomar decisões difíceis, mas necessárias, a longo prazo, para mudar o país", afirmou Sunak por meio do discurso de Charles III.
No texto, o premiê fez da lei e da ordem um campo de batalha eleitoral crucial ao propor diretrizes mais duras para sentenças judiciais e o fim da libertação antecipada para quem cometeu crimes sexuais. Também destacou as diferenças em relação ao Partido Trabalhista, nas áreas de meio ambiente e energia, propondo uma lei para conceder anualmente novas licenças para projetos de petróleo e gás no Mar do Norte. Segundo Sunak, isso reduziria a dependência do Reino Unido da energia estrangeira e criaria empregos.
No entanto, a decisão tomada em nome da segurança energética é fortemente criticada por ambientalistas, que se mobilizam desde o início deste mês contra os novos projetos governamentais de exploração de hidrocarbonetos a pedido da organização Just Stop Oil. Charles III, célebre por defender causas ambientais, pronunciou as medidas sem qualquer expressão no rosto, seguindo a convenção de que o monarca está acima da política.
Tentativa de reverter pesquisas
O discurso, cujo conteúdo político costuma ser vago e geral, constitui uma das últimas chances para Rishi Sunak mudar a tendência das pesquisas, hoje favoráveis aos trabalhistas.
Na boca do rei, o ex-ministro da Economia, de 43 anos, repetiu o desejo de combater a inflação e de baixar o preço das contas para os cidadãos britânicos, além de formar mais médicos e enfermeiros e proibir de forma progressiva a venda de cigarros no Reino Unido.
Rishi Sunak também mostrou no discurso que quer criar "novos marcos jurídicos" para apoiar o desenvolvimento de veículos autônomos e incentivar a inovação em setores como a Inteligência Artificial (IA).
(Com informações da AFP)
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