Interrupção de entrega de armas à Ucrânia pela Polônia visa atrair votos da extrema direita, diz especialista
O porta-voz do governo polonês, Piotr Müller, afirmou nesta quinta-feira (21) que entregará as munições e armas previstas em acordos já assinados com a Ucrânia, um dia depois de anunciar a interrupção total dos envios, "para equipar seu próprio Exército." Ele também disse que discutirá com Kiev a questão do embargo sobre os cereais e a exportação dos grãos.
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Desde a invasão russa em fevereiro de 2022, a Polônia é um dos principais fornecedores de armas para Kiev. "A Polônia continua sendo uma rota essencial para a ajuda internacional à Ucrânia", explicou Müller. O território polonês também está na rota para entrega do armamento que os Estados Unidos e outros aliados ocidentais enviam à Ucrânia.
Segundo Krzysztof Soloch, professor da Universidade Sorbonne e especialista da Europa do norte e central, a Polônia é o sexto país que mais fornece armas ao governo ucraniano. A ajuda militar do país está avaliada, no total, em cerca de € 3 milhões, e inclui o envio de tanques, caças, sistemas de mísseis solares e de defesa antiaérea.
O anúncio do governo polonês tem várias razões explicou Soloch em entrevista à RFI. Uma delas envolve as eleições legislativas polonesas, marcadas para o próximo dia 15 de outubro. O partido que atualmente está no poder há oito anos, o populista e conservador Lei e Justiça (PiS) é dado, por enquanto, como favorito para vencer o pleito.
Mas a oposição, representada pelo Plataforma Cívica (PO), está subindo nas pesquisas e poderia obter mais cadeiras no Parlamento, o que impediria o PiS de obter a maioria necessária para governar sem a formação de uma coalizão.
A decisão de interromper a entrega das armas à Ucrânia, analisa Soloch, seria, desta forma, uma maneira de "roubar" votos da extrema direita. "Esta postura antiucraniana seria mais favorável para vencer o partido de extrema direita, o Confederação, que é antieuropeu, anti-imigração e antiucraniano", analisa o especialista. A Polônia acolhe quase um milhão de refugiados ucranianos, que se beneficiaram de diferentes tipos de ajuda do governo.
Acordo de exportação dos grãos
As tensões entre Varsóvia e Kiev começaram com a proibição da Polônia de importar grãos ucranianos para proteger seus próprios agricultores. O Ministério ucraniano da Agricultura anunciou, nesta quinta, negociações com a Polônia "nos próximos dias" para resolver as divergências sobre as exportações de cereais.
A questão das exportações de grãos também é decisiva, às vésperas das eleições, já que o partido Lei e Justiça tem forte apoio nas áreas agrícolas.
"Fomos os primeiros a fazer muito pela Ucrânia, e é por isso que esperamos que entendam nossos interesses", declarou o primeiro-ministro Mateusz Morawiecki à televisão privada Polsat News, na quarta-feira (20). "É claro que respeitamos todos os seus problemas, mas, para nós, o interesse dos nossos agricultores é o mais importante", acrescentou.
(RFI e AFP)
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