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Apesar de mortes em naufrágio no Canal da Macha, fluxo de barcos de migrantes persiste

Quatro pessoas foram indiciadas na França, nesta quarta-feira (16), por envolvimento no naufrágio de um barco de migrantes que tentavam chegar à Inglaterra. A tragédia, ocorrida no último fim de semana, no Canal da Mancha, levou à morte de pelo menos seis afegãos.

Migrantes chegam na costa inglesa ao serem resgatados do mar no Canal da Mancha, quatro dias depois de naufrágio que, no mesmo local, matou seis afegãos. (16/08/2023)
Migrantes chegam na costa inglesa ao serem resgatados do mar no Canal da Mancha, quatro dias depois de naufrágio que, no mesmo local, matou seis afegãos. (16/08/2023) AFP - HENRY NICHOLLS
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Os suspeitos estavam detidos preventivamente desde a calamidade e foram indiciados por homicídio e lesão corporal involuntária, violação deliberada do dever de prudência ou de segurança, auxílio à imigração ilegal em crime organizado e associação de criminosos com vista à prática de delitos, informou o Ministério Público de Paris.

Dois deles, de nacionalidade iraquiana e nascidos em 1980, são "suspeitos de fazer parte da rede de imigração ilegal que organizou o transporte de migrantes", detalhou a Promotoria. Os outros dois, de nacionalidade sudanesa e nascidos em 1994 e 2006, "participaram ativamente do transporte de passageiros em condições perigosas, em troca de um valor mais vantajoso nas suas próprias passagens", acrescentou o Ministério Público.

Motor estragado

As investigações, realizadas sob a direção do Jurisdição Nacional de Combate ao Crime Organizado e assumidas desde quarta-feira por dois juízes de instrução, “permitiram nesta fase apurar que a embarcação improvisada sofreu danos no motor”, explicou a procuradoria. O bote "rasgou-se no mar", com passageiros "na sua maioria" sem coletes salva-vidas.

Dos 61 sobreviventes, 38 foram resgatados em águas francesas e, a seguir, interrogados, disse a Promotoria. Um pedido de assistência criminal internacional foi "enviado" às autoridades britânicas para que as demais 23 pessoas resgatadas do lado inglês pudessem ser ouvidas.

A busca por uma pessoa possivelmente desaparecida continuou na quarta-feira, após a consolidação do número de mortos. Alguns sobreviventes relataram 65 pessoas a bordo, mas outros informaram 66.

Idris, 22 anos, estava convencido de que morreria no naufrágio. Em entrevista à Reuters em Calais, o jovem afegão disse que pensar em seus pais que lhe deu forças para nadar e lutar por sua vida.

"Achei que não sobreviveria. Achei que fosse morrer e estava pronto para morrer", diz Idris na língua pashto, em um relato exclusivo sobre o naufrágio. "As pessoas gritavam, foi um momento muito difícil. Seis pessoas morreram imediatamente", continua ele.

Os outros ajudaram mutualmente a sobreviver tentando entrar no que restava do barco, contou Idris. Aqueles que não estavam nos restos do navio nadaram na água esperando por socorro.

"Fiquei apavorado e muito triste, pensando em minha mãe e meu pai. Quando as pessoas estão morrendo, elas automaticamente pensam em suas famílias", afirmou o jovem, que deixou o Afeganistão há um ano e estava na França havia oito meses "esperando para ingressar na Inglaterra".

“Se alguém quer pedir asilo, é melhor pedir na França. Não devia ir para o Reino Unido, é muito perigoso”, opina.

Ao lado dele, Fawad, 15 anos, vestido com um moletom branco com capuz, também está marcado pelo que aconteceu. Ele é, no entanto, menos categórico sobre a sequência. Escondendo o rosto, Fawad relata que nadou antes de perder a consciência. "Não sei o que aconteceu comigo", resume.

Há dois meses na França, onde dorme na rua, Fawad primeiro afirma querer tentar a travessia novamente, mas depois demonstra relutar. “Não faço ideia. Não sei se vou ficar em França ou vou para Londres”, admite a adolescente.

Fluxo em alta

Mais de 2 mil migrantes de países como Irã, Síria e Afeganistão chegaram à costa britânica neste mês, encorajados pelo clima melhor. O afluxo é visto como um desafio pelo primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, que prometeu "parar os barcos", um ano antes das eleições nacionais.

Apesar deste novo naufrágio, o mais dramático desde novembro de 2021 – no qual pelo menos 27 migrantes perderam a vida –, as tentativas de travessia continuaram durante a noite de terça para quarta-feira. Foram avistados no mar cerca de dez barcos, entre eles um que foi resgatado e trazido de volta para o lado francês, com cerca de 20 pessoas a bordo, disse um porta-voz da autoridade portuária.

Na costa inglesa, um fotógrafo da AFP notou a chegada de dezenas de migrantes, incluindo muitas crianças e uma mulher grávida.

Ajuda ‘imediata’ da França, após tragédia de 2021

No sábado, "a ajuda foi imediatamente acionada" após ser avisada, disse a promotoria. O alerta foi dado por volta das 4h20 por uma embarcação comercial que contactou o Centro Regional de Vigilância e Salvamento (Cross). Vários navios então foram para a área. Um helicóptero e um avião de vigilância marítima, entre outros, também participaram da operação.

A mobilização ocorreu depois que, no naufrágio de novembro de 2021, as autoridades francesas são suspeitas de terem sido chamadas por socorro 15 vezes e de não terem resgatado os migrantes, com idades entre 7 e 46 anos. Sete militares foram indiciados por não terem socorrido uma pessoa em perigo.

Este naufrágio levou ao aumento da tensão entre Paris e Londres e ao reforço das medidas de salvamento e combate do tráfico migratório. Segundo uma contagem feita pela AFP, mais de 100 mil migrantes cruzaram o Canal da Mancha desde o desenvolvimento do fenômeno das pequenas embarcações, em 2018, em resposta ao bloqueio do porto de Calais e do túnel da Mancha aos migrantes que sonham em viver no Reino Unido.

O Canal da Mancha é uma das rotas marítimas mais movimentadas e as correntes são fortes, dificultando a passagem de pequenas embarcações. Os traficantes sobrecarregam pequenos navios improvisados ​​que mal flutuam na água e lutam para enfrentar as ondas.

Desde o início de 2023, cerca de 17 mil migrantes chegaram ao sul da Inglaterra a bordo desses barcos, muitas vezes simples botes infláveis.

(Com informações da AFP e Reuters)

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