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A revolta dos moradores de Odessa ao ver seu patrimônio atacado pela Rússia

Com o fim do acordo entre Moscou e Kiev sobre a exportação de cereais pelo Mar Negro, Odessa se tornou alvo de ataques russos constantes, o novo capítulo de um conflito que volta a ameaçar uma comunidade e seu patrimônio. Os moradores desta cidade portuária ucraniana entoam uma expressão tantas vezes repetida nesta guerra: "Vivemos um inferno". Diversos monumentos locais, inscritos no Patrimônio Mundial da Unesco, também se veem ameaçados. 

Funcionários inspecionam os danos no interior da Catedral da Transformação de Odessa, na Ucrânia, domingo, 23 de julho de 2023, após os ataques de mísseis russos.
Funcionários inspecionam os danos no interior da Catedral da Transformação de Odessa, na Ucrânia, domingo, 23 de julho de 2023, após os ataques de mísseis russos. AP - Jae C. Hong
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A imprensa francesa destaca nesta sexta-feira (28) a dor e a revolta dos moradores de Odessa, conhecida como a "Pérola do Mar Negro" nos guias turísticos. A imagem de um operário que repara a Catedral da Transfiguração, recentemente bombardeada pela Rússia, ocupa a maior parte da capa do jornal Le Monde. Um dia após a visita do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ao templo danificado, o veículo francês enumera que pelo menos 25 monumentos ucranianos classificados pela Unesco foram total ou parcialmente destruídos por ataques russos nos últimos dias.

Esta catedral de 1794, uma das mais célebres igrejas ortodoxas do país, é um dos símbolos de bravura de Odessa. Demolida em 1936, como tantos outros locais religiosos durante a era soviética, e reconstruída de maneira idêntica à original no início dos anos 2000, ela está novamente comprometida.

Ver o centro histórico de Odessa atingido por mísseis abala emocionalmente seus moradores. Os habitantes ainda são obrigados a suportar a hipocrisia de Moscou que afirma alvejar apenas "alvos militares", enquanto o mundo testemunha pelas imagens provenientes da Ucrânia a destruição de edifícios residenciais e de valor cultural.

Um cidadão admite frustrado que esperava que o fato de ser uma cidade histórica os blindaria de tal situação. Hoje, ele vê a história se repetir: "Se você não pertence ao domínio russo, está fadado a desaparecer", ele lamenta.

Ao atacar o porto e seus suprimentos e também o centro histórico, Moscou atinge o coração e o estômago dos moradores de Odessa, que começam a viver uma grande crise econômica sem as operações do porto.

"Guerra dos grãos"

Outra imagem, que ilustra reportagem do jornal Le Figaro, traduz o atual cenário em Odessa: pessoas circulam em uma praia da cidade entre barricadas de ferro instaladas na areia.

Na "guerra dos grãos", como assinala o diário francês, "o porto queima e a cidade estremece". O som de um alarme aéreo destrói também a paz neste litoral. Ao todo, 100 mil toneladas de cereais já foram queimadas e 40% da infraestrutura do principal terminal portuário foi destruída.

Além de atacar os três portos da cidade, os russos são acusados de bombardear também outras estruturas de produção, o que os ucranianos interpretam como um plano deliberado de arrasar a atividade agrícola do país.

Desde o último domingo (23), os habitantes de Odessa seguem "mergulhados no terror", afirma a edição do Libération. Uma moradora, que teve sua casa atingida por um bombardeio, diz que, para os outros, o inferno dela "é como um filme, é cinema", e o mundo passa seu tempo assistindo, sem fazer nada.

Ela descreve sua rotina e de tantos outros moradores de correrem pelas ruas, roupas e suprimentos improvisados, à procura do abrigo antiaéreo mais próximo, a cada vez que as sirenes tocam. "Eu detesto os russos", ela sintetiza.

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