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Milhares de ucranianos fogem das inundações após destruição parcial de barragem

Milhares de ucranianos continuam a ser resgatados de zonas inundadas nesta quarta-feira (7) após a destruição parcial da barragem de Kakhovka. Em Kherson, a 70 km da represa, a água subiu cinco metros. Até agora, ao menos 2.700 pessoas foram evacuadas pelas autoridades. E não se sabe quantas deixaram suas casas sem ajuda governamental.

Ruas de Kherson, no sul da Ucrânia, são tomadas pela água que vazou do reservatório da hidrelétrica em Kakhovka.
Ruas de Kherson, no sul da Ucrânia, são tomadas pela água que vazou do reservatório da hidrelétrica em Kakhovka. © AP / Libkos
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A água barrenta já atingiu os telhados da cidade de Kherson, no sul da Ucrânia, e as equipes de resgate ainda lutam para resgatar seus habitantes, que às vezes perderam tudo e trazem consigo apenas os documentos.

"A situação mais difícil está no distrito de Korabelny. Até agora, mais de 1.000 casas estão inundadas" nessa cidade, que foi tomada dos russos pelos ucranianos em novembro de 2022, segundo o vice-chefe de gabinete da presidência ucraniana, Oleksiï Kouléba, em um comunicado à imprensa.

"Não temos mais casa. A água cobriu minha casa até o teto. Não dá para ver nem o telhado”, afirma Dmitri Melnikov, de 46 anos, enquanto deixa um veículo anfíbio que o salvou ao lado de seus cinco filhos. “Toda a área agora está debaixo d’água”, diz.

Com a destruição na terça-feira da represa hidrelétrica de Kakhovka, a montante do Dnipro causou inundações tanto na margem do rio controlada pela Ucrânia, quanto na margem ocupada pela Rússia. 

A polícia, as equipes de resgate e os soldados dos dois lados do conflito correm contra o tempo para retirar a população, incluindo muitos idosos e seus animais de estimação. 

Natalia Korj, de 68 anos, teve que nadar para sair de sua casa. Com as roupas encharcadas e algumas sacolas de pertences pessoais, ela era ajudada nesta manhã por dois salva-vidas.

"Todos os meus cômodos estão debaixo d'água. Minha geladeira está flutuando, o freezer, tudo", diz.

Enquanto os resgates continuam, os governos russo e ucranianos continuam a trocar acusações sobre a responsabilidade na explosão de parte da infraestrutura de concreto da barragem, concebida para resistir à pressão de 18 bilhões de toneladas de água.

Imprensa francesa acredita em ataque russo

Ao avaliar a situação naquela área, a imprensa francesa parece não ter dúvida: a Rússia está por trás desse ataque. 

O jornal Les Echos diz que é difícil imaginar qual seria o interesse da Ucrânia em detonar essa infraestrutura. "Nenhum bombardeio aéreo foi registrado sobre a barragem nos últimos dias, e a explosão de algumas bombas não seria suficiente" para causar tamanho desastre, assinala o jornal francês. Por outro lado, a explosão simultânea de minas meticulosamente instaladas no edifício, que está sob controle das forças russas desde o início do conflito, em fevereiro do ano passado, poderia provocar graves danos, estima o veículo. 

Moscou evoca uma "sabotagem deliberada" organizada por Kiev, que denuncia, por sua vez, uma ação de "terrorismo ambiental e tecnológico destinada a frear a ofensiva do Exército ucraniano". É certo que as linhas de defesa russas ao longo do rio Dnipro serão submersas pela água, mas o plano ucraniano de reconquista dos territórios ocupados fica comprometido.

O presidente Volodymyr Zelensky acusou a Rússia de "detonar uma bomba, causando grandes danos ambientais". Em outubro, Zelensky tinha denunciado que Moscou estava colocando minas na barragem. Para o líder ucraniano, "a Rússia é culpada de um ecocídio brutal". Mais de 150 toneladas de óleo de motor foram derramadas no rio Dnipro, o principal curso d'água da Ucrânia, e milhares de hectares de terras agrícolas serão inundados, de acordo com Kiev.

O jornal Le Parisien se preocupa com as consequências sanitárias, humanitárias e ambientais da inundação. Com o passar dos dias, a água estagnada poderá favorecer a proliferação de epidemias, como o tifo. A fauna e a flora locais estão ameaçadas por um longo período, ressalta o diário, devido à contaminação do rio por toneladas de óleo.

"Sabotagem russa"

A "sabotagem no rio Dnipro" representa uma escalada na guerra iniciada pela Rússia na Ucrânia, diz a manchete do Le Figaro. Em seu editorial intitulado "Terra inundada, terra arrasada", o diário francês afirma que se o conflito chegou a este nível de gravidade, pode-se muito bem imaginar que a usina nuclear de Zaporíjia também sofra uma explosão, numa etapa futura, provocando contaminação radioativa. Seria um cenário de "terra arrasada".

A história contemporânea conta com vários exemplos de destruição de represas na Europa como estratégia militar. Em 1941, os soviéticos explodiram a usina de Zaporíjia para conter o avanço das tropas nazistas. Em maio de 1943, a aviação britânica bombardeou represas alemãs na bacia do Ruhr, o coração industrial do país. 

Le Figaro considera que "nenhum dos beligerantes irá recuar", mas acrescenta: "Os russos já deveriam saber que essa estratégia sempre termina pela derrota dos invasores".

Crime de guerra 

Em seu editorial, o jornal Libération também aponta provável responsabilidade da Rússia.

"Os russos só têm a ganhar com a inundação de dezenas de vilarejos da região, enquanto os ucranianos só têm a perder, uma vez que a catástrofe praticamente inviabiliza a contraofensiva". Destruir uma barragem pode ser considerado um crime de guerra, adverte o jornal progressista, de acordo com uma resolução adotada pelas Nações Unidas em 1949, que criou protocolos adicionais às Convenções de Genebra.

(Com AFP)

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