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Manifestação na Grécia por mais segurança na rede ferroviária acaba em confronto com a polícia

Confrontos violentos entre manifestantes e a polícia grega marcaram, neste domingo (5), mais um dia de protestos em frente ao Parlamento de Atenas pela morte de 57 pessoas na colisão frontal entre dois trens, na terça-feira. O ferroviário que assumiu a responsabilidade pela tragédia deve ser ouvido na Justiça.

Um policial do Batalhão de choque se prepara para lançar uma granada de efeito moral próximo às chamas, durante confrontos em uma manifestação após a colisão de dois trens, perto da cidade de Lárissa. Em Atenas, Grécia, em 5 de março de 2023. REUTERS/Alkis Konstantinidis
Um policial do Batalhão de choque se prepara para lançar uma granada de efeito moral próximo às chamas, durante confrontos em uma manifestação após a colisão de dois trens, perto da cidade de Lárissa. Em Atenas, Grécia, em 5 de março de 2023. REUTERS/Alkis Konstantinidis © REUTERS / ALKIS KONSTANTINIDIS
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Cerca de 12.000 pessoas, segundo uma contagem oficial, ocupavam a Praça Syntagma, a grande esplanada diante do Parlamento grego. No fim da manhã, os manifestantes atearam fogo em latas de lixo e jogaram coquetéis molotov contra os policiais, que responderam com gás lacrimogêneo e granadas de efeito moral. Em poucos minutos, o local foi esvaziado.

"Bombardearam-nos com gás lacrimogêneo, os idosos não conseguem respirar. É assim que homenageamos os nossos mortos?", indignou-se o estudante Kallikratis Pavlakis.

"Nada está indo bem neste país, os hospitais estão agonizando, as escolas estão fechando, as florestas estão queimando... A quem eles estão enganando?", completou Nikos Tsikalakis, presidente de um sindicato ferroviário.

Segundo a polícia grega, "sete agentes ficaram feridos e foram transportados para um hospital militar" na capital. "Cinco pessoas foram presas" depois de jogar bolas de gude, pedras e coquetéis molotov contra a polícia, informaram as autoridades, em um comunicado.

A degradação da rede ferroviária grega, além de vários problemas no sistema de sinalização e segurança nas linhas estão sendo levantados nos últimos dias.

“A ganância, a falta de medidas para proteger os passageiros levou à pior tragédia ferroviária do nosso país”, disse Michalis Hasiotis, presidente do sindicato dos contabilistas, presente ao protesto. “Sentimos uma raiva imensa!”, acrescentou, enquanto estudantes, trabalhadores ferroviários e funcionários do serviço público pediam a responsabilização das autoridades após a tragédia que chocou o país.

Cartazes e faixas denunciavam: "Abaixo os governos assassinos!", "Não foi um erro humano!".

Alguns participantes distribuíram panfletos acusatórios mostrando o rosto do primeiro-ministro conservador, Kyriákos Mitsotákis, acompanhados por estas palavras em vermelho: "Ministro do crime procurado".

Em seguida, centenas de balões pretos foram soltos para homenagear as vítimas da colisão frontal entre um trem de passageiros, que ligava Atenas a Tessalônica, e um trem de transporte de mercadorias. A maioria das vítimas era de jovens e estudantes que voltavam para essa grande cidade universitária do país, após um fim de semana prolongado.

Pedido de desculpas

Neste domingo, o premiê da Grécia, Kyriákos Mitsotákis, pediu desculpas aos familiares dos 57 mortos na pior tragédia ferroviária do país. "Como primeiro-ministro, devo a todos, mas acima de tudo aos familiares das vítimas, desculpas", escreveu o líder em uma mensagem à nação, publicada no Facebook.

Mas a declaração não foi suficiente para diminuir a raiva da população. Este mea culpa é "uma hipocrisia", reagiu Mariana Chronopoulou, professora de uma escola primária, presente na manifestação. “Ele sabia que a rede ferroviária estava em estado deplorável e não fez nada”, acrescentou.

Na pequena estação de Rapsani, próxima ao local do acidente, no centro do país, pais de alunos colocaram cravos vermelhos e brancos e acenderam velas nos trilhos. Jovens da escola local seguravam uma placa onde era possível ler: "Não foi um acidente. Não foi um momento ruim. É lucro sobre vidas humanas".

O chefe da estação de Lárissa, apontado como responsável pela tragédia, deve comparecer ainda neste domingo perante um juiz, depois de a audiência ter sido adiada, no sábado.

O homem de 59 anos, cuja identidade não foi revelada, admitiu sua responsabilidade na colisão entre os dois trens, que durante vários quilômetros percorreram a mesma via, na linha Atenas-Tessalônica. Ele teria recebido apenas um treinamento de 40 dias para trabalhar como diretor da estação. Segundo o jornal grego Kathimerini, a Justiça tenta esclarecer por que um inexperiente diretor ficou sem supervisão na estação por quatro dias de tráfego intenso.

A companhia ferroviária grega Hellenic Train é acusada de negligência. Manifestantes escreveram a palavra "assassinos" em vermelho, na sede da empresa, em Atenas. A companhia se defendeu, na noite de sábado, alegando que "esteve presente no local desde o primeiro momento" e que disponibilizou "uma central de atendimento para prestar informações". A Hellenic Train afirma que é responsável apenas pelo transporte de passageiros e mercadorias, mas que a gestão da rede, sua manutenção e modernização são de responsabilidade da estatal ferroviária OSE. Os representantes sindicais da companhia já haviam alertado para a situação de risco havia três semanas.

 

(Com informações da AFP)

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