Manifestação na Grécia por mais segurança na rede ferroviária acaba em confronto com a polícia
Confrontos violentos entre manifestantes e a polícia grega marcaram, neste domingo (5), mais um dia de protestos em frente ao Parlamento de Atenas pela morte de 57 pessoas na colisão frontal entre dois trens, na terça-feira. O ferroviário que assumiu a responsabilidade pela tragédia deve ser ouvido na Justiça.
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Cerca de 12.000 pessoas, segundo uma contagem oficial, ocupavam a Praça Syntagma, a grande esplanada diante do Parlamento grego. No fim da manhã, os manifestantes atearam fogo em latas de lixo e jogaram coquetéis molotov contra os policiais, que responderam com gás lacrimogêneo e granadas de efeito moral. Em poucos minutos, o local foi esvaziado.
"Bombardearam-nos com gás lacrimogêneo, os idosos não conseguem respirar. É assim que homenageamos os nossos mortos?", indignou-se o estudante Kallikratis Pavlakis.
"Nada está indo bem neste país, os hospitais estão agonizando, as escolas estão fechando, as florestas estão queimando... A quem eles estão enganando?", completou Nikos Tsikalakis, presidente de um sindicato ferroviário.
Segundo a polícia grega, "sete agentes ficaram feridos e foram transportados para um hospital militar" na capital. "Cinco pessoas foram presas" depois de jogar bolas de gude, pedras e coquetéis molotov contra a polícia, informaram as autoridades, em um comunicado.
A degradação da rede ferroviária grega, além de vários problemas no sistema de sinalização e segurança nas linhas estão sendo levantados nos últimos dias.
“A ganância, a falta de medidas para proteger os passageiros levou à pior tragédia ferroviária do nosso país”, disse Michalis Hasiotis, presidente do sindicato dos contabilistas, presente ao protesto. “Sentimos uma raiva imensa!”, acrescentou, enquanto estudantes, trabalhadores ferroviários e funcionários do serviço público pediam a responsabilização das autoridades após a tragédia que chocou o país.
Cartazes e faixas denunciavam: "Abaixo os governos assassinos!", "Não foi um erro humano!".
Alguns participantes distribuíram panfletos acusatórios mostrando o rosto do primeiro-ministro conservador, Kyriákos Mitsotákis, acompanhados por estas palavras em vermelho: "Ministro do crime procurado".
Em seguida, centenas de balões pretos foram soltos para homenagear as vítimas da colisão frontal entre um trem de passageiros, que ligava Atenas a Tessalônica, e um trem de transporte de mercadorias. A maioria das vítimas era de jovens e estudantes que voltavam para essa grande cidade universitária do país, após um fim de semana prolongado.
Pedido de desculpas
Neste domingo, o premiê da Grécia, Kyriákos Mitsotákis, pediu desculpas aos familiares dos 57 mortos na pior tragédia ferroviária do país. "Como primeiro-ministro, devo a todos, mas acima de tudo aos familiares das vítimas, desculpas", escreveu o líder em uma mensagem à nação, publicada no Facebook.
Mas a declaração não foi suficiente para diminuir a raiva da população. Este mea culpa é "uma hipocrisia", reagiu Mariana Chronopoulou, professora de uma escola primária, presente na manifestação. “Ele sabia que a rede ferroviária estava em estado deplorável e não fez nada”, acrescentou.
Na pequena estação de Rapsani, próxima ao local do acidente, no centro do país, pais de alunos colocaram cravos vermelhos e brancos e acenderam velas nos trilhos. Jovens da escola local seguravam uma placa onde era possível ler: "Não foi um acidente. Não foi um momento ruim. É lucro sobre vidas humanas".
O chefe da estação de Lárissa, apontado como responsável pela tragédia, deve comparecer ainda neste domingo perante um juiz, depois de a audiência ter sido adiada, no sábado.
O homem de 59 anos, cuja identidade não foi revelada, admitiu sua responsabilidade na colisão entre os dois trens, que durante vários quilômetros percorreram a mesma via, na linha Atenas-Tessalônica. Ele teria recebido apenas um treinamento de 40 dias para trabalhar como diretor da estação. Segundo o jornal grego Kathimerini, a Justiça tenta esclarecer por que um inexperiente diretor ficou sem supervisão na estação por quatro dias de tráfego intenso.
A companhia ferroviária grega Hellenic Train é acusada de negligência. Manifestantes escreveram a palavra "assassinos" em vermelho, na sede da empresa, em Atenas. A companhia se defendeu, na noite de sábado, alegando que "esteve presente no local desde o primeiro momento" e que disponibilizou "uma central de atendimento para prestar informações". A Hellenic Train afirma que é responsável apenas pelo transporte de passageiros e mercadorias, mas que a gestão da rede, sua manutenção e modernização são de responsabilidade da estatal ferroviária OSE. Os representantes sindicais da companhia já haviam alertado para a situação de risco havia três semanas.
(Com informações da AFP)
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