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Davos: em reunião da elite financeira mundial, Oxfam quer reduzir número de bilionários

No primeiro dia do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, nesta segunda-feira (16), a Oxfam publica seu relatório sobre as desigualdades no mundo. Há uma década, a ONG aproveita a reunião anual das elites econômicas e políticas internacionais para chamar a atenção sobre a concentração de riqueza nas mãos de uma minoria. A principal constatação do estudo é a aceleração das desigualdades e da extrema pobreza, que voltou a aumentar pela primeira vez, em 25 anos.

Migrantes dormem nas rochas perto de Ventimiglia, na Itália, onde tentam se proteger do calor, enquanto um iate de luxo navega à distância.
Migrantes dormem nas rochas perto de Ventimiglia, na Itália, onde tentam se proteger do calor, enquanto um iate de luxo navega à distância. REUTERS/Eric Gaillard
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Com informações da enviada Especial a Davos, Mounia Daoudi

De acordo com a Oxfam - uma confederação de 19 organizações não-governamentais e mais de 3.000 parceiros, em 90 países - os mais ricos enriqueceram ainda mais graças à intervenção pública para combater o coronavírus e às centenas de bilhões de dólares que foram investidos. “Isso é chocante e não é porque eles fizeram escolhas estratégicas e econômicas brilhantes. Porém, hoje estamos numa situação em que devemos pagar a conta da crise [sanitária] e seria lógico que eles contribuíssem para pagar esta conta”, afirma Quentin Parrinello, co-autor do relatório.

De acordo com o documento, desde 2020, dois terços da riqueza produzida no mundo estão nas mãos do 1% mais rico. Impulsionadas pela alta das cotações das ações, grandes fortunas dispararam nos últimos dez anos: de cada US$ 100 de riqueza criada, US$ 54,4 dólares foram para os bolsos do 1% mais rico, enquanto US$ 0,70 beneficiaram os 50% menos afortunados, observa a ONG.

Os cálculos da Oxfam apontam que os bilionários teriam ganho US$ 2,7 bilhões por dia, desde a crise da Covid-19. A entidade denuncia uma falta de coragem política. “Temos 75% de governos em todo o mundo que preveem diminuir as despesas na saúde, na educação e proteção social para pagar a conta do coronavírus. Falta coragem política. Vimos a necessidade de ter um sistema de saúde eficiente e redes de proteção para os mais vulneráveis”, completa Parrinello.    

Extrema pobreza em alta

Enquanto o aumento do custo de vida é apontado como o maior risco para a economia mundial nos próximos dois anos, a Oxfam tenta ser a porta-voz de uma exasperação social que não poupa nenhuma região do mundo.

“Nós vimos que a falta de redes de proteção, especialmente nos países em desenvolvimento, fez com que dezenas de milhões de pessoas caíssem na pobreza; e é por isso que a extrema pobreza aumenta pela primeira, vez em 25 anos”, acrescenta o pesquisador.

“Temos dezenas de milhões de pessoas a mais que sofrem com a fome e infelizmente não temos, na África ou nos países ricos, grandes movimentos para financiar medidas de proteção social e para tornar os países mais resilientes, taxando os mais ricos. Pelo contrário, vemos a diminuição das despesas em saúde, educação e proteção social”, denuncia.

Ainda de acordo com a Oxfam, “as desigualdades são tamanhas que 10 bilionários no mundo acumulam mais riqueza do que 200 milhões de mulheres na África”.

Um dos pontos levantados por Quentin Parrinello diz respeito à legislação que, segundo ele, facilita essa situação. “Metade dos bilionários no mundo vive nos países onde não há impostos sobre a sucessão. Então, eles podem transmitir todo o seu patrimônio aos herdeiros sem pagar US$ 1 de imposto. E o total do seu patrimônio representa, hoje, US$ 5 trilhões, mais do que o PIB da África”, compara.

Reduzir o número de bilionários

Ao chamar atenção para as desigualdades, a ONG Oxfam faz campanha para reduzir pela metade o número de bilionários no mundo, até 2030, graças à tributação. "Cada bilionário representa uma falha de política pública", afirma a Oxfam na abertura do Fórum de Davos.

“A extrema concentração de riqueza mina o crescimento econômico, corrompe os políticos e os meios de comunicação, corrói a democracia e aumenta a polarização”, escreve a ONG, acrescentando que a desigualdade se tornou “uma ameaça existencial para as nossas sociedades, paralisando a nossa capacidade de acabar com a pobreza”, e colocando "o futuro do planeta em perigo".

Para Gabriela Bucher, diretora-geral da Oxfam e convidada para o evento em Davos, “as desigualdades econômicas atingiram níveis extremos e perigosos”, conclui ela, no início de uma semana de intercâmbio entre as elites internacionais na estação de esqui suíça.

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