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Órfãos de Elizabeth II, britânicos expressam ceticismo sobre reinado de Charles III

Depois de quase duas semanas de luto e homenagens à rainha Elizabeth II, o Reino Unido ensaia uma volta à normalidade nesta terça-feira (20). No entanto, parte dos britânicos é reticente sobre o reinado de Charles III.

O rei Charles III acena ao ser conduzido à Abadia de Westminster para o funeral de sua mãe, a rainha Elizabeth II, no centro de Londres, segunda-feira, 19 de setembro de 2022.
O rei Charles III acena ao ser conduzido à Abadia de Westminster para o funeral de sua mãe, a rainha Elizabeth II, no centro de Londres, segunda-feira, 19 de setembro de 2022. AP - Alberto Pezzali
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Daniella Franco, enviada especial da RFI a Londres

As ruas foram desbloqueadas, o trânsito voltou ao normal, o metrô é utilizado novamente pelos trabalhadores londrinos: a capital britânica retoma o ritmo habitual nesta terça-feira. Na expressão dos moradores de Londres, é visível o cansaço devido aos vários dias de emoções intensas e a tristeza com o fim de uma era.

As capas dos jornais que chegaram às bancas nesta manhã ainda são estampadas com cenas do cortejo fúnebre e as manchetes refletem a dificuldade dos britânicos em virar essa página da história. Nos sites de notícias, apenas o The Guardian traz a guerra na Ucrânia como assunto principal. Já o site da Sky News trata do retorno do governo ao trabalho, para tratar da alta inflação, crise energética e das dificuldades dos serviços públicos.

O tom geral da imprensa é de melancolia, mas também de dúvidas. “Estamos entrando em um profundo período de incertezas”, afirma o editorialista James Naughtie no jornal The Independent. Para ele, a união dos britânicos nesses últimos dez dias para honrar e celebrar o reinado de Elizabeth II não vai durar e esse sentimento “jamais será visto novamente”.

Apenas o jornal The Telegraph, tradicional simpatizante da monarquia, tem uma abordagem complacente em relação ao novo soberano. Uma matéria publicada no site do diário nesta manhã, descreve a afeição de Charles pela rainha, afirmando que “o funeral esteve repleto de toques pessoais do rei”, como um bilhete escrito à mão pelo monarca junto à coroa de flores no caixão com a mensagem: “com amor e devoção”.

“Vai demorar para nos acostumarmos”

Os britânicos não hesitam em expressar suas dúvidas em relação a Charles. A inglesa Rebecca não esconde eu ceticismo: "É muito estranho pensar que temos um rei agora. Não soa normal. Vai demorar para nos acostumarmos”.

Mesmo tom da parte de Evelyne, de 88 anos: “Eu não sei. Nunca fui uma grande fã dele e não tenho a menor ideia do que vai acontecer com o rei Charles assumindo o lugar da mãe”.

Para a britano-brasileira Florença, que mora há 10 anos em Londres, Elizabeth II é insubstituível. “Por um lado, Charles foi muito bem treinado e teve o maior exemplo vivo com a rainha. Mas alcançar a mesma representatividade dela, é como dizem os ingleses, ‘big shoes to fill’ [o sapato maior do que o pé]. Vai ser bastante complicado de dar continuidade à imagem da família real sem a rainha, na minha opinião”, observa.

A inglesa Verity afirma que Charles jamais terá o mesmo carisma de Elizabeth II. “Carismático, aliás, não é a palavra que eu usaria para descrevê-lo. Estou mais interessada em saber qual influência Charles vai ter sobre a questão das mudanças climáticas, porque ele é um apaixonado pela natureza e pelo meio ambiente há muito tempo, e esse é um assunto primordial hoje”, ressalta.

Sequência ao reinado de Elizabeth II

Para outros britânicos, como Jessica, “tudo será um pouco diferente agora” após a morte de Elizabeth II. Mas, segundo a jovem, “Charles vai se adaptar e fazer um bom trabalho”.

O sul-africano Jay, que vive há cinco anos em Londres, também tem uma boa opinião sobre o novo monarca. “Tenho certeza de que Charles vai dar sequência ao reinado da mãe dele. Ele recebeu muito treinamento, durante décadas, para assumir essa função e foi preparado pela própria rainha”, diz.

Essa foi, aliás, a promessa de Charles ao assumir a coroa. No último 10 de setembro, dois dias após a morte da rainha, ele foi proclamado como o novo monarca e afirmou que ira “seguir o exemplo inspirador” que teve “em busca da paz, harmonia e prosperidade” do Reino Unido e dos países do Commonwealth. A coroação do soberano deverá demorar meses, prevista para o primeiro semestre de 2023.

Mas, para o historiador Philippe Chassaigne, professor de história contemporânea na universidade de Bordeaux-Montaigne, especialista em Grã Bretanha, Charles já incorporou o papel de rei e suas funções. “A partir do momento em que Elizabeth II faleceu, Charles se tornou Charles III, mesmo que a gente saiba que a rainha tinha algumas reservas sobre a capacidade de seu filho para assumir o trono e que ele não tenha a experiência de 70 anos da mãe”, analisa.

Chassaigne lembra que, nos últimos anos, o atual monarca já havia inclusive substituído Elizabeth II em diversos eventos oficiais. “Charles representou sua mãe em algumas cúpulas do Commonwealth, como há quatro anos, no Sri Lanka, para onde ela não desejou viajar. A rainha morreu, então, agora, viva o rei”, conclui.

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