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Número de migrantes mortos no mar tentando chegar à Europa dobrou em um ano

A Organização Internacional para Migrações (OIM) pede aos países da região que adotem medidas urgentes para evitar o número elevado de mortos. Segundo as estatísticas publicadas no novo relatório da OIM nesta quarta-feira (14), ao menos 1.146 pessoas morreram afogadas no mar tentando chegar à Europa no primeiro semestre de 2021, o dobro do registrado no mesmo período do ano anterior.

Uma embarcação com 11 migrantes socorrida pelo barco da ONG SOS Mediterrâneo, em março de 2021.
Uma embarcação com 11 migrantes socorrida pelo barco da ONG SOS Mediterrâneo, em março de 2021. © Guilhem Delteil / RFI
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Em 2020, 513 migrantes morreram, principalmente na travessia do Mar Mediterrâneo, nos primeiros seis meses do ano. Em 2019, o número de vítimas fatais, no mesmo período, foi de 674.

“As organizações civis de busca e resgate continuam a encontrar vários obstáculos importantes. A maioria dos barcos que elas usam está bloqueada em portos europeus por decisões administrativas e processos penais em curso contra a sua tripulação”, constata o relatório.

A OIM ressalta que o aumento do número de mortes acontece também em um momento de alta das interceptações de barcos transportando migrantes ao largo da costa norte-africana.

Há vários anos, Itália e União Europeia (UE) financiam, treinam e equipam a guarda-costeira da Líbia para que ela impeça os traficantes de pessoas de enviar à Europa migrantes e refugiados a bordo de embarcações precárias. Além disso, um navio da Marinha italiana, ancorado em Trípoli, fornece assistência técnica aos líbios.

Intervenção da guarda costeira líbia criticada

Apesar do apoio e ajuda, a guarda costeira da Líbia é alvo de múltiplas acusações de maus-tratos contra os candidatos ao asilo, levando várias ONGs a denunciar a política líbia. Em respeito ao direito marítimo internacional, as pessoas que são resgatadas no mar devem ser levadas e desembarcadas em um porto seguro. Os líbios têm trazido de volta para seu território os migrantes que salvam no Mediterrâneo e a ONU não considera a Líbia como um porto seguro.

“A OIM reitera o pedido feito aos Estados para que eles adotem medidas urgentes e proativas para reduzir as perdas humanas nas rotas migratórias marítimas em direção da Europa. Pedimos que eles respeitem suas obrigações previstas no direito internacional”, declarou, em um comunicado, o diretor-geral da organização, Antonio Vitorino.

“O aumento dos esforços de busca e salvamento, a adoção de mecanismos de desembarque previsíveis e a garantia de um acesso à rotas de migração seguras e legais são etapas essenciais para atingir esse objetivo”, enumerou o chefe da OIM.

Dados inferiores à realidade

A maioria das mortes registradas nos primeiros seis meses do ano ocorreram no Mediterrâneo. Os 896 afogamentos representam um aumento de 130% em relação ao mesmo período de 2020.

A maioria dessas pessoas (741) morreu no Mediterrâneo Central, descrito pelas ONGs humanitárias como a rota migratória mais perigosa do mundo, seguida do Mediterrâneo Oriental (149). Seis migrantes morreram tentando atravessar o mar que separa a Turquia da Grécia. Outra rota que preocupa é a travessia do Oceano Atlântico, entre a África e as Ilhas Canárias, onde 250 migrantes morreram no primeiro semestre de 2021.

Esses dados chocantes são inferiores à realidade, acredita a OIM. A organização assinala “centenas de casos de naufrágios invisíveis”, registrados por ONGs que estabelecem contato com migrantes a bordo de embarcações ou com seus familiares. “Estes casos são extremamente difíceis de ser verificados, mas eles mostram que o número de vítimas nas rotas marítimas para a Europa é muito mais elevado do que os dados oficiais indicam”, completa a organização internacional baseada em Genebra.

Migrantes vítimas de maus-tratos na Líbia

Pelo segundo ano consecutivo, o relatório da OIM aponta um aumento do número de operações marítimas realizadas por países da África do Norte na rota do Mediterrâneo Central. Segundo o texto, mais de 31.500 pessoas foram interceptadas ou socorridas pelas autoridades norte-africanas no primeiro semestre de 2021, contra 23.117 no mesmo período de 2020. As operações ao largo da costa da Tunísia, por exemplo, subiram 90%.

Além disso, 15.300 migrantes foram enviados de volta à Líbia, o que representa o triplo em relação aos primeiros seis meses de 2020 (5.476). Para a OIM, essa situação é preocupante porque “os migrantes enviados de volta à Líbia são vítimas de prisões arbitrárias, extorsões, desaparecimentos e torturas”.

(Com informações da RFI e AFP)

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