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Estudo italiano sugere que tratamento antitestosterona pode proteger homens do coronavírus

Um artigo italiano publicado nesta quinta-feira (7) na revista mensal "Annals of Oncology", produzida pela Sociedade Europeia de Oncologia Médica (Esmo), sugere que homens com câncer de próstata tratados com antiandrógenos – terapia hormonal que reduz o nível de testosterona no organismo – teriam menos chances de contrair o novo coronavírus e desenvolver uma forma grave da Covid-19.

Tratamento antitestosterona se mostra potencialmente eficaz contra a Covid-19, segundo um estudo italiano.
Tratamento antitestosterona se mostra potencialmente eficaz contra a Covid-19, segundo um estudo italiano. REUTERS - POOL New
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Normalmente, pacientes com câncer têm um risco maior de serem infectados e desenvolver formas graves da pneumonia viral causada pelo novo coronavírus. No entanto, no artigo da Esmo, pesquisadores evocam a hipótese de que tratamentos antiandrogênicos podem proteger parcialmente pacientes com câncer de próstata do SARS-CoV-2.

A suposição é baseada em pesquisas recentes de que uma proteína chamada TMPRSS2 ajuda o vírus a infectar células humanas. Os níveis desta proteína são controlados por andrógenos tanto na próstata quanto nos pulmões. Isso poderia explicar por que os homens infectados com o novo coronavírus desenvolvem uma forma mais agressiva da doença do que as mulheres, de acordo com o professor Andrea Alimonti, especialista em oncologia molecular na Universidade Italiana da Suíça, em Bellinzona.

De um grupo de 4.532 homens da região de Vêneto, na Itália, contaminados pelo coronavírus, 9,5% tinham câncer e 2,6% apresentavam um tumor maligno na próstata. Segundo dados levantados para o artigo, os pacientes do sexo masculino com câncer tiveram um risco 1,8 vezes maior de infecção do que a população geral do sexo masculino e desenvolveram a forma grave da pneumonia. No entanto, entre todos os casos de câncer de próstata detectados nessa região particularmente afetada pela epidemia, apenas quatro dos 5.273 homens sob tratamento antiandrógeno desenvolveram a infecção e nenhum morreu.

De acordo com o professor Alimonti, o risco de desenvolver a infecção foi quatro vezes menor nesses pacientes do que naqueles que não receberam terapia antiandrógena, e cinco vezes menor quanto à apresentação de uma forma grave da Covid-19, em comparação com qualquer outro tipo de câncer.

Os pesquisadores evocam, assim, a possibilidade de um uso "limitado" (um mês, por exemplo) de antiandrógenos, cujos efeitos são reversíveis, para prevenir a infecção pela Covid-19 em homens. Mas é preciso aguardar a publicação de pesquisas mais aprofundadas, em andamento na França, no Reino Unido e nos Estados Unidos, antes de se confirmar a eficácia desse tratamento.

Eficácia ainda precisa ser comprovada

O professor Fabrice André, diretor de pesquisa do Instituto Gustave Roussy (IGR, França), lembra que um dos efeitos colaterais da terapia hormonal para o câncer de próstata é a impotência. Por enquanto, ele desaconselha a prescrição desse tratamento até que outros estudos venham corroborar a observação da equipe italiana.

Na avaliação do oncologista francês, editor dos "Anais de Oncologia", a equipe do professor Alimonti oferece uma boa razão para dar continuidade às pesquisas, "mas não nos permite tirar conclusões sobre o papel dos antiandrógenos em pacientes infectados pelo coronavírus".

Outros estudos realizados atualmente no mundo em pacientes hospitalizados com câncer dirão se a observação dos cientistas italianos se confirma. "Se todos os dados [incluindo exames laboratoriais] forem convergentes, os ensaios clínicos poderão começar", estima André.

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