Revista francesa denuncia milícias que perseguem refugiados na Grécia

A revista francesa l’Obs traz em sua edição desta semana uma reportagem sobre milícias que perseguem imigrantes na Grécia. O texto conta como a violência tem aumentado em Evros e na ilha de Lesbos, onde refugiados são acuados por homens armados.

"Caçadores de migrantes" é o título da reportagem da revista l'Obs, que denuncia a presença de milícias armadas que perseguem refugiados na Grécia. Reprodução / L'Obs

A reportagem é publicada em um contexto de tensão entre Grécia e Turquia, principalmente após o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ter decidido abrir as fronteiras de seu país com a Europa. A revista conta que desde o início de março milhares de migrantes têm tentado novamente entrar no Velho Continente, e que as autoridades de Atenas reagem com violência, a base de bombas de gás lacrimogêneo e até tiros.

No entanto, relata o texto, além da polícia, milícias locais vêm se organizando do lado grego da fronteira. “Agricultores, jovens, armados de fuzis de caça e vestidos de militares, patrulham florestas e as margens dos rios”, conta a revista, que traz várias imagens feitas pelo fotógrafo Enri Canaj, da agência Magnum, que vem cobrindo o assunto.

O fotógrafo explica que a ação desses grupos é paradoxal em um país como a Grécia, conhecido por sua receptividade. “Mas a crise migratória dura tanto tempo que as pessoas estão cansadas e, nessa região, as milícias são bem vistas”, conta o Canaj, que acompanhou os grupos que perseguem os migrantes.

A revista lembra que cerca de 12 mil refugiados se concentram apenas em Evros, na fronteira terrestre greco-turca. Esse número é muito inferior ao milhão de migrantes que já desembarcaram nas ilhas do país. “Mas o espetáculo costumeiro de hordas de refugiados vagando nas estações de trens da Grécia se tornou insuportável”, escreve a revista l’Obs.

Imprensa e ONGs não são mais bem-vindas

Segundo o texto, cresce a hostilidade dos moradores gregos contra o vizinho turco, além do sentimento de terem sido abandonados pelas autoridades europeias. O fotógrafo também explica que em Evros todos desconfiam da mídia e até das ONGs.

A reportagem conta ainda que o mesmo clima de violência reina na ilha de Lesbos que, de acordo com a revista, se mostrou extremamente generosa nos últimos anos, acolhendo 20 mil refugiados apesar de seu território de apenas 1600 km² e seus 80 mil habitantes. Porém, as condições desses migrantes, amontoados em acampamentos construídos para receber apenas 3 mil pessoas, se degradaram, e a situação ficou insuportável para quem vive na região, pondera o texto.

“Como em Evros, os moradores de Lesbos começaram a criar milícias de ‘vigias’ e barcos de migrantes são impedidos de atracar. Jornalistas e ONGs não são mais bem-vindos e vários carros desses ‘forasteiros’ chegaram a ser atacados nas estradas da ilha”, conta l’Obs. “Fotografar no acampamento de Moria se tornou perigoso”, afirma o fotógrafo. “O que mais me chocou foi ver a que ponto o ódio invadiu até mesmo os moradores mais pacíficos da ilha”, conta um jornalista agredido várias vezes pelos moradores. Para completar, aproveitando esse momento de tensão, representantes de vários movimentos extremistas vindos da Áustria e da Alemanha têm desembarcado nas ilhas gregas para apoiar as milícias gregas.