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Polônia/Natal

Tradição polonesa de comprar peixe vivo para ceia de Natal é alvo de polêmica

Na Polônia, um prato natalino tradicional causa cada vez mais polêmica. Nem foie gras, nem escargot: os poloneses têm o costume de comprar carpas vivas, para matá-las em casa antes de servi-las no jantar de Natal.

Pescadores poloneses pescam carpas, peixes que fazem parte da ceia de Natal no país.
Pescadores poloneses pescam carpas, peixes que fazem parte da ceia de Natal no país. Janek SKARZYNSKI / AFP
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Thomas Giraudeau, correspondente da RFI em Varsóvia

Na entrada de um supermercado em Varsóvia, uma centena de carpas nadam em uma minúscula piscina de água turva. Consumir esse peixe faz parte das tradições de Natal na Polônia. No entanto, a maneira como é comercializado causa cada vez mais polêmicas entre os defensores dos animais.

As carpas são vendidas vivas, transportadas pelos consumidores dentro de sacos plásticos, onde o animal ainda respira e se debate. Os poloneses não se sentem constragidos com a prática. Ao contrário: a polonesa Ana exibe o bicho com orgulho à reportagem da RFI.

"Sim, sou eu que vou matá-lo, sozinha! Em casa, com uma faca, eu corto a cabeça dele e pronto! Foi minha mãe quem me ensinou, é uma tradição de família", afirma.

Para garantir a ceia de Natal, muitos poloneses compram a carpa dias antes de prepará-la para o jantar. Até lá, o animal definha em recipientes com água ou até mesmo dentro de banheiras, como manda a tradição que data da época comunista no país, no final da década de 1940. Durante o período, não havia congelador e, para conservar o peixe, era preciso improvisar.

"De uma hora para outra, o banheiro das pessoas se transformava em chiqueiro", relembra, rindo, o guia gastronômico Mikolaj Rey. "Nos divertíamos muito, especialmente porque imaginávamos como as pessoas iriam tomar banho junto com o peixe. Era muito engraçado!", reitera.

Vivos em sacolas plásticas sem água

Se alguns acham engraçado, os defensores de animais, lutam há vários anos para tentar proibir a venda de carpas vivas. O presidente da fundação Viva, Cezary Wyszynski, denuncia os maus-tratos, em entrevista à RFI.

"Esses bichos são colocados vivos em sacolas plásticas sem água, depois são jogados em carrinhos de compras. Muitas vezes os consumidores colocam produtos por cima deles, os esmagam e os sufocam", afirma. "Segundo a lei polonesa de proteção animal, é proibido matar um bicho em casa. Por esse motivo, a venda de carpas vivas não deveria acontecer", diz.

Alguns chefes de cozinha parecem ser sensíveis à causa. É o caso de Dawid Gaboriaud, que desaprova a tradição. "O gosto da carpa nem é tão bom. As pessoas consomem esse peixe apenas pela tradição. Afinal, não oferecermos esse prato no Natal pode se tornar um motivo de briga de família. Respeito as pessoas e as tradições, mas esse não é um costume de 900 anos, mas que data de cerca de 50 anos e foi imposto pelo regime comunista: o que torna essa situação ainda mais absurda", protesta.

Sob pressão de organizações de proteção dos animais, algumas cadeias de supermercados deixaram de comercializar as carpas vivas. Outras continuam a prática, sob a justificativa de ter que agradar aos clientes. Em 2018, 21 mil toneladas desse peixe foram vendidas na Polônia.

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