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UE/Crise migratória

Líderes europeus defendem direito de asilo, mas divergem sobre espaço Schengen

Vários líderes europeus defenderam neste domingo (30) o direito de asilo dos refugiados, apesar da conclusão de uma cerca de arame farpado para contê-los na fronteira da Hungria com a Sérvia. Por outro lado, o Reino Unido continua cobrando uma revisão do acordo Schengen, que aboliu os controles nas fronteiras da maior parte dos países da União Europeia. Para o governo britânico, esse acordo agrava a crise dos migrantes.

O premiê francês, Manuel Valls, defendeu a concessão de asilo para os migrantes "com direitos" durante encontro do Partido Socialista neste domingo (30) em La Rochelle.
O premiê francês, Manuel Valls, defendeu a concessão de asilo para os migrantes "com direitos" durante encontro do Partido Socialista neste domingo (30) em La Rochelle. REUTERS/Stephane Mahe
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O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, e os chefes da diplomacia italiana e francesa se pronunciaram hoje a favor de uma rápida intervenção para a concessão de asilo aos refugiados. Os governos da França, Alemanha e do Reino Unido querem realizar uma reunião ministerial nas próximas duas semanas "para avançar concretamente" ante a crise migratória.

Grécia e Itália poderão ter centros de triagem

Em uma declaração conjunta, os ministros francês, alemão e britânico do Interior - Bernard Cazeneuve, Thomas de Maizière e Theresa May - ressaltaram "a urgência" de criar, o mais tardar antes do final do ano, na Grécia e na Itália, centros de triagem para identificar as pessoas com direito a asilo em países do bloco e os migrantes econômicos ilegais.

Os três ministros também defenderam o estabelecimento, "muito rapidamente", de uma "lista de países de origem segura, a fim de completar o Sistema Comum de Asilo Europeu, proteger os refugiados e assegurar a eficácia do retorno de imigrantes ilegais para seus países de origem".

A Itália fará da obtenção "do direito europeu de asilo" sua batalha dos próximos meses, assegurou neste domingo o primeiro-ministro Matteo Renzi. "A Europa deve parar de se comover e começar a se mover. Devemos escolher, finalmente, (...) ter uma política europeia de imigração, com um direito europeu de asilo", insistiu em entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera.

Os imigrantes que "fogem da guerra, da perseguição, tortura, opressão, devem ser acolhidos", insistiu o primeiro-ministro francês, Manuel Valls. "Cada pedido de asilo deve ser considerado rapidamente", acrescentou Valls, em um discurso em La Rochelle (oeste). "Os imigrantes devem ser tratados com dignidade, ser protegidos e bem cuidados", acrescentou o premiê.

O chefe da diplomacia francesa, Laurent Fabius, considerou "escandalosa" a atitude de alguns países do leste europeu ante a crise de refugiados. "Quando eu vejo alguns países europeus que não aceitam as quotas (distribuição de exilados), considero isso escandaloso", disse aos veículos Europe 1, i-TV e Le Monde, acrescentando que esses países estão "no leste da Europa".

Na mesma linha, o Papa Francisco denunciou neste domingo a morte de 71 imigrantes - provavelmente sírios - encontrados na quinta-feira em um caminhão abandonado numa estrada entre Budapeste e Viena, exigindo "uma cooperação "eficaz" contra "crimes que ofendem a humanidade ".

Reino Unido cobra mudanças na livre circulação

Por outro lado, o governo britânico pressiona os vizinhos para obter uma revisão do acordo Schengen, uma convenção assinada em 1995 que garantiu a abertura das fronteiras e a livre circulação de pessoas entre os países signatários. Um total de 30 países, incluindo todos os integrantes da União Europeia (exceto Irlanda e Reino Unido) e três países que não são membros da UE (Islândia, Noruega e Suíça), assinaram o acordo Schengen. Liechenstein, Bulgária, Romênia e Chipre estão em fase implementação das medidas.

Na avaliação do governo britânico, o fim dos controles nas fronteiras internas deste espaço acabou atraindo migrantes de todos os horizontes à Europa.

Em uma tribuna publicada hoje no jornal britânico Sunday Times, a ministra do Interior britânica, Theresa May, defendeu que os europeus tomem "grandes decisões" para restabelecer os verdadeiros princípios desse acordo.

"Quando ele foi concebido, a livre circulação significava a liberdade de mudar de um país a outro para trabalhar, não para atravessar fronteiras (...) e reclamar benefícios sociais", escreveu a ministra. "Nós devemos tomar grandes decisões, desafiar interesses poderosos e restabelecer os princípios de origem desse acordo", disse.

"Os incidentes com os migrantes neste verão mostram as consequências trágicas de um sistema de imigração europeu deficiente para todos aqueles que podem ser explorados", acrescentou May, referindo-se aos migrantes que contratam traficantes para chegar à Europa. "Cada vez mais países começam a entender que essas tragédias são exacerbadas pelo sistema europeu que baniu as fronteiras", conclui a ministra do Reino Unido.

Países do leste resistem

A Alemanha voltou a pedir hoje uma melhor distribuição dos refugiados nos países do bloco. Berlim acredita que vai receber até o final do ano 800 mil pedidos de asilo. Mas países do leste europeu como Hungria, República Tcheca, Eslováquia e Polônia têm outras prioridades.

A Hungria, governada pela extrema-direita, construiu a cerca para impedir a entrada dos migrantes. A Repúplica Tcheca chegou a evocar o envio de tropas da OTAN para a Macedônia e a Sérvia a fim de combater os refugiados.

A Eslováquia aceita acolher 200 estrangeiros no máximo, a condição que eles sejam sírios e cristãos. Já a Polônia alega que o conflito no leste da Ucrânia gerou uma pressão migratória de ucranianos para o país, o que impossibilita o acolhimento de refugiados de outras origens.

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