Los Angeles 1984: O boicote do Leste e o bom desempenho da Romênia nos Jogos Olímpicos

Realizados em plena Guerra Fria, os Jogos Olímpicos de Verão de Los Angeles, em 1984, foram boicotados pela União Soviética (URSS) e pela maioria dos países comunistas. Essa foi a resposta do Kremlin ao boicote, quatro anos antes, dos americanos e seus aliados aos Jogos Olímpicos de Moscou, em 1980. Na época, cerca de 50 países decidiram não participar das competições organizadas pelos russos devido à invasão soviética do Afeganistão, em 1979.

Abertura dos Jogos Olímpicos de Los Angeles, nos Estados Unidos. Em 28 de Julho de 1984. AP - Eric Risberg

Em Los Angeles, os soviéticos e seus aliados não participaram, com algumas poucas exceções. A China, que competia em um de seus primeiros Jogos Olímpicos, assim como a Iugoslávia, do marechal Tito, e especialmente a Romênia, do ditador Nicolae Ceauşescu, viajaram para os Estados Unidos.

Sinal de independência de Moscou? Participação por dinheiro? Estas são algumas das questões e dos mistérios que cercam a participação histórica dos romenos. A delegação do país sairá de Los Angeles com o segundo lugar no quadro de medalhas.

A Romênia foi o único país do Pacto de Varsóvia a competir na Califórnia. Para todos os outros membros do bloco comunista da Europa Oriental, o slogan foi boicote.

Os historiadores atribuíram a presença romena nos Jogos americanos à estratégia política do poder em Bucareste. Se em 1980 os romenos participaram dos Jogos Olímpicos de Moscou em nome da lealdade ao “irmão mais velho” do Leste, quatro anos depois as relações romeno-soviéticas já não estavam bem. Além disso, a Romênia precisava de moeda forte e Ceauşescu pretendia faturar o máximo possível. O ditador romeno também queria melhorar a sua imagem internacional graças a esta participação na Olimpíada de Los Angeles.

Por sua vez, Peter Ueberroth, presidente do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos americanos, fez o seu melhor para convencer os romenos – mas também outros comunistas, como os chineses, por exemplo – a viajarem para o local das provas.

Realizar os Jogos sem a presença de milhares de atletas talentosos era algo inconcebível, tanto em nível esportivo quanto financeiro. “O boicote dos soviéticos e seus aliados foi decidido após a assinatura de contratos de direitos de transmissão com a televisão ABC”, explica o historiador Adrian Cioroianu, em entrevista à RFI.

Após negociações entre o COI, o Comitê Olímpico Romeno e as autoridades comunistas em Bucareste, com a aprovação de Ceauşescu, os romenos obtiveram uma quantia de dólares considerável – algumas fontes mencionam a soma de US$ 120 mil – para a viagem e o alojamento da delegação. Com a decisão favorável da Romênia, a China e a Iugoslávia seguiram o exemplo.

Prata para os romenos

A participação romena nos Jogos Olímpicos de Los Angeles foi coroada por um sucesso inesperado e histórico. Nunca a Romênia havia conquistado tantas medalhas. Os 124 atletas romenos ficaram em segundo lugar na classificação geral do quadro de medalhas, atrás apenas dos anfitriões americanos. Com um total de 53 medalhas, incluindo 20 de ouro, a Romênia ganhou a sua aposta desportiva. “Mas não a sua aposta política”, observa Adrian Cioroianu.

Apesar do boicote de Moscou e aliados, os atletas romenos foram muito aplaudidos ao entrarem no estádio Coliseu Olímpico. O então presidente americano, Ronald Reagan, sorria na tribuna de honra diante das arquibancadas lotadas.

Participação da delegação romena nos Jogos Olímpicos de Los Angeles 1984. © AP

Em geral, a década de 1980 foi benéfica para o esporte romeno. Os atletas voltaram de Moscou, em 1980, com 25 medalhas, incluindo seis de ouro. Quatro anos depois, os romenos registraram um desempenho histórico, com as mulheres sendo campeãs olímpicas por equipe, algo inédito para o país.

Nesse contexto, a ginástica se tornava o esporte emblemático da Romênia e objeto de conflito com a então URSS. Depois do brilhantismo de Nadia Comăneci em Montreal, em 1976, e em Moscou, em 1980, Los Angeles seria o palco de Ecaterina Szabo. A ginasta romena de origem húngara venceu em solo americano, obtendo sozinha nada menos do que cinco medalhas, incluindo quatro de ouro.

E não seria apenas no ginásio que a delegação romena alcançaria bons resultados em Los Angeles. Atletas de outras modalidades, como Ivan Patzaichin na canoagem, Doina Melinte e Maricica Puica no atletismo e Nicu Vlad, no levantamento de peso, fizeram a alegria dos romenos naquela edição dos Jogos Olímpicos.