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Cinema paulista tem sessão especial no Festival do Curta de Clermont-Ferrand

Quase três anos após o início da pandemia de Covid-19, o Brasil volta a ter um estande no mercado de comercialização de filmes do Festival do Curta-Metragem de Clermont-Ferrand, no centro da França. Na tarde desta quinta-feira (2), acontece a sessão especial dedicada ao cinema paulista. Cinco filmes serão projetados, trazidos pela produtora Zita Carvalhosa, diretora do Festival de Curtas de São Paulo, com o apoio da Spcine.

Cineastas brasileiros com filmes em exibição em Clermont-Ferrand
Cineastas brasileiros com filmes em exibição em Clermont-Ferrand © Adriana Moysés/ RFI
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Adriana Moysés, enviada especial à Clermont-Ferrand

“Eu venho a Clermont-Ferrand há mais de 30 anos”, conta Zita, com um entusiasmo na fala que vem da grandiosidade do evento francês. Esse é o principal mercado de filmes do mundo, destaca, mas também é o principal festival. “As salas são lotadas, tem mais de 2.000 pessoas em cada sala”, nota a produtora. “Cada sessão é a coisa mais emocionante do mundo”, diz, e “os filmes aqui se comercializam para fora, para o mundo todo".

Oito diretores brasileiros vieram à França para apresentar seus curtas. Toda a seleção dos filmes foi feita pela própria organização do festival, com o apoio recebido da Spcine, e uma sessão paulista está programada nesta tarde. “São filmes bem diversos que apresentam essa multiplicidade que é a cidade de São Paulo e o interior de São Paulo”, aponta Zita.

"Coleção antirracista"

“Esse ano, especificamente nos pequenos filmes brasileiros que estão aqui, a gente trouxe a 'Coleção antirracista' que é dirigida pela Val Gomes, que retrabalha essa diversidade brasileira com o reposicionamento desses talentos negros que realmente ficaram, de uma certa maneira, bastante ‘escanteados’ da nossa filmografia oficial”, destaca a produtora.

Val Gomes exibe na cidade francesa “O Mito Da Democracia Racial”, o primeiro de oito episódios de sua coleção. “Meu filme conta a história do Brasil na perspectiva afrobrasileira. Isso significa extrapolar fronteiras. Eu irei contar essa história não só para o Brasil, mas para o mundo”, disse a cineasta à RFI.

Guto Gomes apresenta seu curta “Ararat” presencialmente pela primeira vez no exterior, depois do curta já ter rodado por outros festivais. O filme é uma ficção sobre a comunidade armênia de São Paulo e o genocídio dessa população até hoje não reconhecido pela Turquia. Guto percebe uma presença muito forte do Brasil neste festival. "A cultura brasileira está aqui estampada, e a gente pode, com isso, continuar confiando nos nossos filmes”, disse ele à RFI.  

Na sessão paulista, ainda serão exibidos “Do Lado de Cá”, uma produção coletiva; ”Tapuia”, de Kay Sara e Begê Muniz, e “Ainda Restarão Robôs nas Ruas do Interior Profundo”, de Guilherme Xavier Ribeiro, curta que concorre com mais de 70 produções ao prêmio principal do júri da competição internacional.

Interior paulista contaminado pela extrema direita

Em seu terceiro filme, Guilherme diz que sua busca é encontrar novas narrativas no interior de São Paulo, "um lugar onde não existia cinema". “O cinema no Brasil sempre foi muito concentrado no eixo Rio-São Paulo e desde que a gente começou a fazer cinema no interior, a gente está buscando temas e histórias reais desse território”, explica. Ele trabalha conectado a uma rede de 30 cineastas na região oeste do estado.

O curta “Ainda Restarão Robôs nas Ruas do Interior Profundo” é uma história baseada em fatos reais de uma vila periférica da cidade de Assis, onde vários moradores do campo chegaram desde a mecanização do seu trabalho. “São pessoas que têm uma relação com o campo, apesar de viverem às margens das cidades”, observa. Desse lugar, surgiu a história de um garoto que tinha uma égua de estimação e essa égua fugia para o centro da cidade.

No filme, os garotos se juntam para ir atrás dessa égua e encontram nesse contexto um pouco da complexidade política e social que o Brasil tem vivido nos últimos anos, com a ascensão da extrema direita e que esteve muito forte nas ruas do interior profundo.

Zita Carvalhosa também sente as marcas do que representou para o Brasil ser governado por um presidente de extrema direita . “A gente teve momentos bastante complicados nesses últimos quatro anos. E agora, começando uma nova era, eu vejo que o Brasil é um lugar muito especial para conversar com o mundo sobre a possibilidade de se viver com pessoas diferentes da gente”, conclui a produtora.

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