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Na última reunião de chanceleres do G20, ministros pedem reformulação de instituições internacionais

Ao final de dois dias de encontro, as 19 maiores economias do mundo, mais União Europeia (UE), União Africana (UA) e países convidados manifestaram-se a favor da maior participação de países da América Latina, Caribe e África entre os membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que consideram essencial para a construção da paz e segurança, e a garantia do desenvolvimento sustentável.

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, em entrevista coletiva no final da reunião de ministros das Relações Exteriores do G20 no Rio de Janeiro, em 22 de fevereiro de 2024.
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, em entrevista coletiva no final da reunião de ministros das Relações Exteriores do G20 no Rio de Janeiro, em 22 de fevereiro de 2024. AFP - MAURO PIMENTEL
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Vivian Oswald, correspondente da RFI no Rio de Janeiro

O porta-voz da mensagem foi o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, anfitrião do encontro de chanceleres no Rio de Janeiro. Segundos ele, praticamente todos os países acreditam que a solução de paz entre Israel e Palestina passa pela criação de dois estados. Vieira destacou que um grande número de países de todas as regiões expressaram preocupações com o risco de alastramento dos conflitos em países vizinhos e pediram a imediata liberação de reféns em poder do Hamas.

Mais cedo, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, já havia defendido a criação de dois Estados como solução para os conflitos e garantido que este era um denominador comum entre as maiores economias do mundo.

“Se eu pudesse resumir em uma única frase, todos aqui não ouviram ninguém contra. Foi uma forte solicitação de uma solução de dois Estados. Podemos discutir muito sobre o que todos disseram. Mas há um denominador comum. E o denominador comum é que não haverá segurança sustentável para Israel, a menos que os palestinos tenham uma perspectiva política clara para construir seu próprio Estado", disse em entrevista a jornalistas que acompanham o G20 no Rio. Ele afirmou que pediu ao chanceler brasileiro Mauro Vieira que seja o "porta-voz da solução de dois Estados" e que defenda a questão para o mundo.

Ele evitou comentar a crise diplomática entre Brasil e Israel depois que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no último final de semana, comparou as ações de Israel em Gaza ao Holocausto, mas admitiu que o paralelo "não é razoável".

“Não quero interferir em uma questão interna, mas, para nós, é claro que Lula não quis fazer uma comparação entre o que os alemães fizeram durante a Segunda Guerra Mundial, organizar uma matança sistemática de 6 milhões de pessoas, com o que acontece hoje com os palestinos. O que acontece em Gaza é preocupante, mas esta comparação não é razoável”, disse.

Sobre as propostas de reformas da governança global, prioridade da presidência brasileira do G20, o chefe da diplomacia europeia reconhece que é preciso aumentar a representatividade dos países nas instituições internacionais que tratam das grandes questões globais. No entanto, para ele, mais do que mudá-las, é preciso fazê-las funcionar.

“É uma questão de criar uma atitude que faça a instituição funcionar, porque você pode ter as melhores instituições do mundo, mas se as pessoas não quiserem que funcionem, não vão funcionar. Todos parecem estar dispostos a aumentar a representação com mais participantes ao redor da mesa. Mas, em relação à mudança das regras, certamente será mais difícil”, afirmou.

Proximidade com o Sul global

Borrell elogiou a presidência do Brasil por ter colocado o foco nos interesses e preocupações do chamado Sul global. “Para nós, europeus, isso é bom porque temos que nos aproximar mais e melhor do Sul, para evitar que o mundo seja construído em torno de uma disputa entre o Ocidente e o Oriente. Este fórum é muito importante, pois mais de 80% do PIB global está representado aqui”, disse, lembrando da importância de a União Africana estar sentada à mesa de negociações. “Isso é uma boa notícia, porque, em 20 anos, uma em cada quatro pessoas no mundo será africana. Portanto, deixar os africanos fora dos fóruns mais importantes é uma ideia ruim, porque, nós, europeus, somos 5% da população mundial e estamos fortemente representados”, adicionou.

Na declaração final à imprensa, Mauro Vieira ainda disse que todos os países concordaram com a necessidade de as instituições internacionais se adaptarem aos desafios do mundo atual. Da ONU à Organização Mundial de Comércio (OMC), passando pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial (Bird) e o Banco Internacional de Desenvolvimento (BID). Sobre os dois últimos, em especial, teria havido grande convergência para a necessidade de que facilitem o acesso a países mais pobres e que tenham maior participação do mundo em desenvolvimento em seus processos decisórios.

Os países concordaram com a realização de nova reunião dos chanceleres às margens da Assembleia-Geral da ONU em setembro, onde pretendem promover o que está sendo chamado de “chamada à ação” pelas reformas do sistema de governança global. Embora seja um encontro dos membros do G20, ele estará aberto para a participação outros países. Essa será que primeira vez que o G20 se reúne dentro da sede da ONU.

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