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Brasil defende propostas de reforma da governança global no último dia do encontro do G20 no Rio

As 19 maiores economias do mundo, mais União Europeia (UE), União Africana (UA), 11 países e 13 organismos internacionais se reúnem na manhã desta quinta-feira (22) no segundo e último dia do encontro de chanceleres do G20 no Rio de Janeiro. Na pauta, as reformas do sistema de governança global, uma das três prioridades da presidência brasileira no organismo multilateral. O primeiro dia de discussões foi marcado pelas divisões sobre as guerras na Faixa de Gaza e na Ucrânia.

Chanceleres do G20 participam do primeiro dia de trabalhos do grupo sob a liderança brasileira no Rio de Janeiro.
Chanceleres do G20 participam do primeiro dia de trabalhos do grupo sob a liderança brasileira no Rio de Janeiro. AP - Silvia Izquierdo
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Ao final deste primeiro encontro de chanceleres sob a liderança brasileira, os participantes devem confirmar a data da próxima reunião ministerial, prevista o mês que vem em Nova York. Para demonstrar a força do grupo, a última acontecerá à margem da Assembleia-Geral da ONU em setembro, dois meses antes da cúpula de líderes do G20, no Rio, quando haverá finalmente um comunicado conjunto do grupo com os resultados da presidência brasileira. 

Daqui até novembro, o transporte das delegações oficiais dos eventos do G20 no Brasil será feito apenas por veículos híbridos e flex. A medida é fruto de acordo de cooperação firmado entre o ministério das Relações Exteriores e a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica). A ideia é reforçar a importância do uso de fontes limpas de energia. 

O etanol brasileiro enfrenta resistência na Europa, sobretudo na Alemanha. A explicação mais aparente seria a polêmica sobre produtos agrícolas com biocombustíveis. Mas especialistas do setor e do governo brasileiro veem protecionismo para preservar mercados para tecnologias a serem desenvolvidas pelos países europeus. A brasileira já está disponível para uso imediato e cria emprego em países emergentes. 

O mundo precisa triplicar a oferta de biocombustíveis até 2030, para zerar as emissões líquidas de gases de efeito estufa no setor de transportes, conforme mandato aprovado na COP28 de Dubai. 

Divisões sobre Gaza e Ucrânia

Ontem, em seu discurso de abertura da sessão plenária, o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou que as instituições multilaterais não estão devidamente equipadas para lidar com os desafios atuais, como demonstrado pelo que chamou de inaceitável paralisia do Conselho de Segurança das Nações Unidas em relação aos conflitos em curso. Esse estado de inação, segundo ele, implica diretamente em perdas de vidas inocentes.

Os debates acontecem na esteira da polêmica causada pelas declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que acusou Israel de cometer um "genocídio" na Faixa de Gaza e às vésperas de a guerra entre Rússia e Ucrânia entrar em seu terceiro ano.

O Brasil instou "uma profunda reformulação" dos organismos multilaterais, em especial do Conselho de Segurança, que tem fracassado reiteradas vezes em alcançar acordos sobre esses dois conflitos devido aos vetos respectivos dos Estados Unidos e da Rússia, dois de seus cinco membros permanentes. Os Estados Unidos, principais aliados de Israel, voltaram a vetar na terça-feira uma resolução que pedia um cessar-fogo imediato em Gaza.

Reunião entre Blinken e Lula 

Durante uma reunião anterior em Brasília com Lula, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, expressou seu "desacordo" com as declarações do presidente brasileiro de que o Exército de Israel estaria cometendo "genocídio" em Gaza. Lula também comparou a campanha militar israelense no território palestino ao Holocausto.

"O secretário abordou o assunto [de Gaza] e deixou claro nosso desacordo com esses comentários", disse um alto funcionário do Departamento de Estado após o encontro.

As declarações de Lula provocaram indignação em Israel, que declarou Lula "persona non grata". Em resposta, o Brasil convocou o embaixador israelense e chamou para consultas seu embaixador em Tel Aviv.

Mais de quatro meses depois de Israel lançar uma ofensiva na Faixa de Gaza, em resposta ao ataque sem precedentes do movimento islâmico palestino Hamas que deixou 1.160 mortos, segundo balanço da AFP com base em dados oficiais israelenses, nada indica que o fim do conflito esteja próximo. A ofensiva israelense na Faixa de Gaza já deixou ao menos 29.313 mortos, segundo o Ministério da Saúde do território.

Sem espaço para a diplomacia

Tampouco há otimismo no horizonte para a guerra na Ucrânia. Blinken disse a Lula que Washington "não vê condições" atualmente para uma mediação diplomática no conflito no Leste Europeu, segundo o funcionário do Departamento de Estado.

A visita de Blinken ao Rio coincide com a do ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov. Contudo, um encontro entre ambos é pouco provável. Nesta quinta-feira, Lavrov se reunirá com o presidente Lula em Brasília, segundo fontes do Palácio do Planalto. No Rio, o chanceler russo conversou com Mauro Vieira e seus pares de México, Alicia Bárcena; Bolívia, Celinda Sosa Lunda, e Paraguai, Rubén Ramírez.

As tensões entre o Ocidente e a Rússia se acentuaram após a morte na prisão do opositor Alexei Navalny, anunciada na sexta-feira. Os países do Ocidente responsabilizaram Putin pelo falecimento do opositor e os Estados Unidos anunciaram que adotariam um "importante pacote de sanções" contra Moscou. 

"Ninguém deve duvidar da natureza opressiva do sistema russo", disse o chanceler britânico, David Cameron, citado em nota na quarta-feira. 

Mauro Vieira enfatizou que o G20 manterá "conversas produtivas" sobre as crescentes tensões internacionais, "sem necessariamente carregar o peso de posições arraigadas e rígidas que têm impedido avanços em outros foros, como o Conselho de Segurança" da ONU.

Vivian Oswald, correspondente da RFI no Rio de Janeiro, e AFP

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