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Lula: o balanço do 1° ano de governo e a volta do Brasil à cena internacional

Há um ano, em 1º de janeiro de 2023, Lula voltou ao poder no Brasil. Após ter comandado o país de 2003 a 2011, ele prometeu romper com a era Jair Bolsonaro, o presidente de extrema direita que deixava então o cargo. Seus desafios incluíam conter o desmatamento na Amazônia e colocar o Brasil de volta no mapa diplomático mundial. 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com sua esposa Rosangela Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e sua esposa Maria Lucia Ribeiro no Palácio do Planalto, em Brasília, no domingo, 1º de janeiro de 2023, após a posse do novo presidente do Brasil.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com sua esposa Rosangela Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e sua esposa Maria Lucia Ribeiro no Palácio do Planalto, em Brasília, no domingo, 1º de janeiro de 2023, após a posse do novo presidente do Brasil. AP - Silvia Izquierdo
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Há um ano, Lula tomou posse como presidente do Brasil, após sua vitória sobre Jair Bolsonaro. Durante seus dois primeiros mandatos, de 2003 a 2010, Lula adotou uma política externa ativa, fortalecendo o papel do Brasil no cenário internacional. Embora o contexto seja hoje diferente daquele de vinte anos atrás, o presidente está tentando recuperar o voluntarismo diplomático do passado. 

Para Silvia Capanema, professora da universidade Sorbonne Nouvelle, esse ponto recebe toda sua atenção. "Ele tinha três prioridades: a luta contra a fome, a aprovação de suas medidas econômicas e o retorno à agenda internacional. Vemos um presidente que está em várias frentes, mesmo que não tenha sucesso em todos os lugares. Mas, internacionalmente, ele está envolvido no bloco do Brics (que o Brasil co-fundou com a Rússia, Índia, China e África do Sul), um bloco ao qual novos países estão prestes a aderir", argumenta Capanema.

"O Brasil também reativou o bloco do Mercosul. Lula esperava levar adiante o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, mas isso ainda não aconteceu. E ainda há a frente ambiental internacional, com a COP 30 em Belém em 2025. Então, sim, podemos dizer que o Brasil retomou sua ação no cenário internacional", avalia.

No entanto, a agenda verde de Lula é fortemente contestada pelo Congresso brasileiro, em grande parte conservador. Existe o risco de que o Parlamento, que é dominado pela direita e até mesmo pela extrema direita com ligações com o agronegócio, bloqueie a política ambiental de Lula. "Sim, é um assunto de tensão entre Lula e o grupo parlamentar ruralista, próximo ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Esse grupo representa os interesses do agronegócio. Esses parlamentares querem questionar certos direitos dos povos indígenas, mas Lula vetou uma lei destinada a facilitar a exploração de terras indígenas", admite Capanema.

No entanto, "a política de Lula não é tão isolada assim. Ela é a posição de vários movimentos políticos de esquerda", contesta a professora. "E Lula é um homem de esquerda. Sua posição tem eco na esquerda internacional. Quando se trata de Cuba, por exemplo, o que ele vai condenar são, sobretudo, as sanções. Essa é uma posição perfeitamente aceitável. Muitos países condenam as sanções norte-americanas contra Cuba", lembra Capanema.

De volta à cena internacional

Reeleito em outubro de 2022, Lula já falava em participar da COP27 em Sharm el-Sheikh. Ele ainda não havia sido oficialmente empossado como presidente, mas a mensagem era clara: após quatro anos de ausência diplomática sob o comando de Jair Bolsonaro, o Brasil estava de volta ao cenário internacional.

Em novembro passado, Lula obteve sucesso na proteção da Amazônia, já que o desmatamento na região caiu para o nível mais baixo desde que os registros começaram em 2015.

Ainda em relação ao meio ambiente, na semana passada o presidente brasileiro vetou pontos-chave de uma lei polêmica que flexibilizava as regras sobre pesticidas no país. O Brasil é o maior consumidor mundial de agrotóxicos.

O agronegócio, um dos principais motores da economia brasileira, segue um modelo produtivista, cujo pilar é o uso intensivo de pesticidas. O país consumiu 719.507 toneladas de pesticidas em 2021, ou 20% do total comercializado no mundo, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).

Impasse no acordo com UE

Lula também está trabalhando para a ratificação do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, mas não consegue superar as diferenças que estão bloqueando as negociações finais. As relações com a Europa também estão tensas devido à guerra na Ucrânia. Os aliados de Kiev consideram a posição do presidente brasileiro muito favorável à Rússia. Lula sonhava em ser um mediador nesse conflito, mas logo teve de reconhecer os limites de sua influência.

Com o ex-sindicalista, que se tornou o porta-voz dos países emergentes, o Brasil voltou à diplomacia independente, visando reformar órgãos internacionais como a ONU e o Banco Mundial. Para defender essa agenda ambiciosa, Lula passou um total de dois meses no exterior desde que assumiu o cargo há um ano.

Um bom histórico econômico

No campo econômico, apesar dos temores sobre a inflação, o presidente de esquerda teve um ano muito bem-sucedido, de acordo com Cristina Pinto de Mello, economista e professora da Universidade Católica de São Paulo, em entrevista a Justine Fontaine, do departamento de Economia da RFI. "Lula surpreendeu a todos. As previsões do setor financeiro não eram tão boas para o Brasil, mas no final os resultados [deste ano] são melhores do que o esperado", diz a especialista.

"O crescimento é bastante alto e a inflação diminuiu. Também temos a melhor taxa de emprego desde 2015. E estamos encerrando o ano com uma balança comercial positiva. Em resumo, os resultados econômicos do país são muito bons, o que é uma boa notícia. Além disso, neste ano, o Brasil pôs fim ao conflito em curso entre os estados do interior do país, que estavam buscando atrair a indústria reduzindo os impostos locais. De agora em diante, haverá um imposto único para todo o Brasil, uma discussão que vinha se arrastando há trinta anos! É realmente uma grande vitória que essa reforma tributária tenha sido adotada", elogiou a economista.

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