Brasil não quer que tensão entre Venezuela e Guiana contamine retomada de integração regional
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que não quer que a disputa entre a Guiana e a Venezuela sobre a região de Essequibo contamine a retomada do processo de integração regional ou a estabilidade no continente.
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Vivian Oswald, correspondente da RFI no Rio de Janeiro.
"O Mercosul não pode ficar alheio à situação", enfatizou Lula em seu discurso de abertura da 63a Cúpula do Mercosul, no Rio de Janeiro, que encerra a presidência brasileira do bloco.
Antes de pedir que os outros integrantes do bloco considerassem a inclusão de texto sobre a tensão entre os dois lados, Lula afirmou que o Brasil acompanha com crescente preocupação a situação e colocou o país e o Itamaraty à disposição para sediar “qualquer e quantas reuniões forem necessárias”.
"Uma coisa que nós não queremos na América do Sul é guerra. Não precisamos de guerra ou de conflito", disse.
Os presidentes do Mercosul e países associados devem assinar uma carta pedindo à Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e à antiga União de Nações Sul-Americanas (Unasul) que ajudem a mediar o diálogo entre os dois países.
"Não queremos que isso contamine a retomada do processo de integração regional ou constitua ameaça à estabilidade", insistiu.
Do lado brasileiro da fronteira com os dois países, foi reforçada a presença das Forças Armadas. A única estrada que liga a Venezuela ao Essequibo atravessa o território brasileiro, passando por 400 km do estado de Roraima, e o Brasil já avisou que não permitirá a entrada de militares venezuelanos. Rica em mineiras, porém pouco habitada, a região de Essequibo ocupa quase dois terços do território da Guiana.
Acordo Mercosul - União Europeia
Sobre o acordo entre Mercosul e União Europeia (UE) que esperava poder fechar no fim da cúpula, Lula afirmou que conversou com vários líderes do velho continente. Ele afirmou que o texto fechado em 2019 durante o governo de seu antecessor, Jair Bolsonaro, era “inaceitável” e que agora estaria mais “equilibrado".
O governo brasileiro ainda trabalha para fechar o acordo. As negociações foram suspensas a pedido da Argentina, que troca de presidente neste domingo. Segundo fontes negociadoras, se a nova administração da Casa Rosada der o prometido aval ao avanço das conversas, o acordo pode ser fechado em uma questão de dias ou semanas.
Em seu discurso na quarta-feira, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, salientou o progresso das negociações e disse que a expectativa era de poder assiná-lo em breve.
Declaração final
Ao final da cúpula, os integrantes do Mercosul, Chile, Colômbia, Equador e Peru divulgaram declaração conjunta em que manifestam "profunda preocupação com a elevação das tensões" entre a Venezuela e a Guiana e pedem que se evitem "ações unilaterais" que possam agravá-las ainda mais.
"A América Latina deve ser um território de paz e, no presente caso, trabalhar com todas as ferramentas de sua longa tradição de diálogo. Nesse contexto, alertam sobre ações unilaterais que devem ser evitadas, pois adicionam tensão, e instam ambas as partes ao diálogo e à busca de uma solução pacífica da controvérsia, a fim de evitar ações e iniciativas unilaterais que possam agravá-la", diz o documento declaração.
*Esse conteúdo foi atualizado com a declaração final
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