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Em discurso à COP27, Lula cobra cumprimento de promessas de países ricos sobre o clima

O presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, advertiu nesta quarta-feira (16) aos países participantes da 27ª Conferência do Clima da ONU que “o Lula cobrador está de volta”, e vai insistir para que as promessas feitas pelos países ricos sejam cumpridas. O discurso, acompanhado por brasileiros e estrangeiros em uma plenária lotada do evento, ressaltou o compromisso do futuro governo a desempenhar um papel de protagonista no enfrentamento das mudanças climáticas.

Convidado pela presidência egípcia, Lula discursou em uma sala plenária da COP27, em Sharm el-Sheikh. (16/11/2022)
Convidado pela presidência egípcia, Lula discursou em uma sala plenária da COP27, em Sharm el-Sheikh. (16/11/2022) REUTERS - MOHAMMED SALEM
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Lúcia Müzell, enviada especial a Sharm el-Sheikh

“Eu quero dizer que a minha volta também é para cobrar aquilo que foi prometido na COP15”, relembrou Lula, referindo-se à Conferência de Copenhague, em 2009, quando ele era presidente e ouviu das nações desenvolvidas o compromisso de mobilizar US$ 100 bilhões por ano, a partir de 2020, para ajudar os países menos desenvolvidos a enfrentarem as alterações do clima. A promessa até hoje não foi cumprida integralmente.

Por isso, Lula defendeu a criação de um organismo multilateral com poder de aplicação dos acordos internacionais sobre a questão climática que, no seu entender, carece de governança global. “Senão, o tempo passa, a gente morre, e as coisas não são cumpridas nesse mundo”, disse. “Esperem um Lula muito mais cobrador, para que a gente possa fazer um mundo efetivamente mais justo e humanamente melhor para todos nós.”

Perdas e danos

O presidente eleito destacou a necessidade de avanços em um dos principais temas desta COP 27, realizada no balneário de Sharm El-Sheikh, no Egito: mecanismos financeiros para remediar perdas e danos causados em função da mudança do clima. “Não podemos mais adiar esse debate”, ressaltou Lula.

O petista destacou que o problema do aquecimento do planeta “foi criado em grande medida pelos países mais ricos, mas atinge de maneira desproporcional os mais vulneráveis”. “Não existem dois planetas Terra. Somos uma única espécie, chamada Humanidade, e não haverá futuro enquanto continuarmos cavando um poço sem fundo de desigualdades entre ricos e pobres”, reiterou.

O Brasil, garantiu, estará pronto para voltar a fazer a sua parte, ao combater o desmatamento “em todos os seus biomas”, e promover as energias limpas.

“Vamos provar mais uma vez que é possível gerar riqueza sem provocar mais mudança climática. Faremos isso explorando com responsabilidade a extraordinária biodiversidade da Amazônia, para a produção de medicamentos e cosméticos, entre outros”, citou. “Estou certo de que o agronegócio brasileiro será um aliado estratégico do nosso governo na busca por uma agricultura regenerativa e sustentável, com investimento em ciência, tecnologia e educação no campo, valorizando os conhecimentos dos povos originários e comunidades locais.”

Ouvir a voz da ciência

O discurso foi recheado com dados da comunidade científica sobre os riscos de os países continuarem a não enfrentar a crise climática como deveriam. Lula mencionou a seca histórica no Brasil entre 2020 e 2021, os incêndios e inundações na Europa e as enchentes e secas na África, entre outros.

“O 1% mais rico está a caminho de emitir 70 toneladas de gás carbônico per capita por ano. Enquanto isso, os 50% mais pobres do mundo emitirão, em média, apenas uma tonelada per capita. Por isso, a luta contra o aquecimento global é indissociável da luta contra a pobreza”, frisou.

O petista voltou a defender uma reforma da ONU, de modo a dar mais equilíbrio na representação dos países, num contexto em que a confiança entre os países e os povos está abalada. “Precisamos nos superar e ir além dos nossos interesses nacionais imediatos, para que sejamos capazes de tecer coletivamente uma nova ordem internacional, que reflita as necessidades do presente e nossas aspirações de futuro. Estou aqui hoje para reafirmar o inabalável compromisso do Brasil com a construção de um mundo mais justo e solidário”, afirmou, enfatizando que o seu governo voltará a buscar reaproximação com os países latino-americanos e africanos.

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