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Brasil: jornais franceses destacam fim de campanha sob tensão, "alimentada pelo campo bolsonarista"

A imprensa francesa segue acompanhando as últimas horas de campanha eleitoral no Brasil. Os principais jornais franceses tratam neste sábado (1°) do duelo entre o presidente Jair Bolsonaro e o líder do PT Luiz Inácio Lula da Silva.

Cartazes no Rio de Janeiro sugerem que brasileiros votem em Lula neste domingo (2) para que Bolsonaro seja eliminado e não haja segundo turno da eleição presidencial.
Cartazes no Rio de Janeiro sugerem que brasileiros votem em Lula neste domingo (2) para que Bolsonaro seja eliminado e não haja segundo turno da eleição presidencial. AP - Matias Delacroix
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"Fim de campanha tensa no Brasil" é o título de uma matéria publicada pelo jornal econômico Les Echos. O diário aborda os vários casos de violência entre brasileiros devido à forte polarização política da sociedade. O texto lembra a morte do tesoureiro petista Marcelo Arruda, no último mês de julho, em Foz do Iguaçu (PR), por um policial apoiador de Bolsonaro: "uma cena de faroeste", classifica.

Para o correspondente do Les Echos em São Paulo, Thierry Ogier, "a tensão é alimentada sobretudo pelo campo bolsonarista". O diário sublinha que o discurso de ódio é reforçado pelo próprio presidente, que endurece ainda mais suas afirmações ao perceber que está mais de dez pontos atrás nas pesquisas de intenção de voto. Seus apoiadores, que estão convencidos de uma vitória no primeiro turno, prometem ocupar o Congresso e o Supremo Tribunal Federal caso suas expectativas não se tornem realidade, reitera o jornal.

"Brasil: o duelo Lula-Bolsonaro coloca a democracia à prova", é o título de uma reportagem especial de duas páginas no jornal conservador Le Figaro. O diário afirma que o candidato do PT é o grande favorito do pleito de domingo (2), "que o atual chefe de Estado ameaça de não reconhecer". 

Ameaça à democracia

Segundo o Le Figaro, jamais uma eleição presidencial no Brasil foi tão decisiva, "ameaçando a solidez das instituições do maior país da América Latina". Com 156 milhões de cidadãos convocados a votar, duas incertezas pesam em relação ao pleito: "Lula poderá ser eleito no domingo? Bolsonaro aceitará o veredito das urnas?", questiona a matéria. Sobre a possibilidade de um golpe de Bolsonaro, o jornal cita o colunista político do jornal O Globo, Merval Pereira, que nesta semana descartou que haja apoio político e militar a possíveis planos do presidente de não entregar o poder em caso de derrota. 

O site da revista francesa L'Obs entrevistou o cientista político brasileiro Claudio Couto, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas, que acredita que Lula vencerá as eleições. "As pessoas querem paz, estabilidade e normalidade", afirma. No entanto, o especialista acredita que a possível rejeição de Bolsonaro dos resultados pode ter como consequência uma onda de violência no país. 

Couto lembra que decretos assinados por Bolsonaro permitiram a população a adquirir armas facilmente "como jamais ocorreu antes". Além disso, nos Estados onde o presidente tem mais simpatizantes, ele conta com o apoio da Polícia Militar "acostumada a recorrer à força no cotidiano contra os pobres, os negros e a ignorar o Estado de direito", diz o cientista em entrevista ao site da revista L'Obs

O "bem contra o mal"

Já o site da revista francesa Le Point entrevistou Frédéric Louault, professor do departamento de Ciências Políticas da Universidade Livre de Bruxelas, especialista em Brasil. Para ele, Bolsonaro conseguiu instaurar uma clássica visão populista no país do "bem contra o mal", polarizando ainda mais a sociedade. "O presidente deixa uma enorme conta econômica, social, ambiental, com incêndios na Amazônia e, no plano da saúde, mais de 700 mil mortos pela Covid-19 durante a crise sanitária, um número extremamente subestimado", aponta.

O jornal La Croix aponta uma outra falha do governo Bolsonaro: o abandono dos povos indígenas. A reportagem do enviado especial do diário a Manaus, Gilles Biassette, trata da vontade descomplexada do líder da extrema direita brasileira de explorar as terras da população nativa. 

O texto também lembra o assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Philipps, no Amazonas, há quatro meses. "Ao votar em 2 de outubro para escolher seu presidente, os brasileiros terão outras preocupações, como a inflação, o desemprego, etc. Muitos não pensarão nos homens mortos em junho. Mas esses assassinatos e outros cometidos nos últimos anos na Amazônia não estão desvinculados às decisões tomadas em Brasília", conclui o La Croix

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