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A Semana na Imprensa

Após anos de governo “desgastante”, eleitores buscam em Lula “normalidade”, diz revista francesa

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Com a reportagem “Lula, o eterno retorno”, a revista francesa l’Obs desta semana destaca a volta do ex-presidente à cena política e analisa o que motivou sua candidatura para a presidência. Para a publicação, além de uma nostalgia dos anos do governo do PT, o eleitor brasileiro que vota no candidato de esquerda busca “normalidade” após anos do governo “desgastante” de Jair Bolsonaro.

Mulher segura cartaz com a foto de Lula durante um comício realizado pelo Comitê Lula Presidente, em Portugal, em Lisboa, em de 10 de setembro de 2022.
Mulher segura cartaz com a foto de Lula durante um comício realizado pelo Comitê Lula Presidente, em Portugal, em Lisboa, em de 10 de setembro de 2022. © LUSA - ANTÓNIO PEDRO SANTOS
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Lula não promete uma revolução, na opinião da revista, apenas que os brasileiros possam “fazer um churrasco e beber uma cerveja”. Suas três palavras de ordem durante a campanha são até enfadonhas, afirma a reportagem: “previsibilidade, credibilidade e estabilidade”, o que poderia levar a acreditar que Lula será um presidente “normal”. “Ou não! Não há nada de normal na vida deste homem”, alerta a publicação.

L’Obs lembra que há pouco mais de quatro anos, Lula estava “morto” politicamente, “abatido” pelo gigantesco escândalo de corrupção e de lavagem de dinheiro revelado pela Operação Lava-Jato. Ironia do destino, o trabalho da Justiça foi possibilitado por reformas realizadas por ele e por sua sucessora Dilma Rousseff. “A grande novidade foi que a corrupção endêmica que gangrena a classe política brasileira foi finalmente revelada”, relata a revista, lembrando que Lula pagou caro e ficou preso por 580 dias por suposto enriquecimento pessoal.

Entre os casos de corrupção e a crise econômica, o Partido dos Trabalhadores e o próprio Lula sofreram uma rejeição de “inacreditável violência”.

Motivos para a volta

“Mas o que fez Lázaro sair do túmulo?”, pergunta o semanário, fazendo referência ao personagem bíblico ressucitado por Jesus. Primeiro, a decisão do Supremo de anular a prisão de Lula, em 2019 e, no ano seguinte, a retirada das acusações contra o ex-presidente, depois de evidências de irreguralidades envolvendo o ex-juiz Sérgio Moro. Em 2021, Lula retoma seus direitos civis e pode finalmente concorrer a uma eleição presidencial.

O filósofo e cientista social Marcos Nobre, entrevistado pela l’Obs, acredita que a prisão tornou Lula mais “introspectivo” e até o “reaproximou da religião”. “Eu tenho a impressão de que ele está mais isolado. Que ele consulta menos os outros”, diz Nobre.

Mas, de acordo com a revista semanal, o DNA político de Lula não mudou realmente. Ele continua sendo um homem de “alianças”, de “compromissos”. O ex-presidente é sobretudo um negociador, de acordo com Cláudio Couto, cientista político da Fundação Getulio Vargas, que não hesita em aceitar todos os apoios, de Geraldo Alkimin, Joaquim Barbosa, ruralistas e defensores do porte de armas que votam tradicionalmente em Jair Bolsonaro.

Nostalgia e Bolsonaro

Para a publicação, a nostalgia de muitos brasileiros dos anos de seu governo colocou Lula à frente das pesquisas. Durante seu mandato, a taxa de pobreza no Brasil caiu de 40% para 25%, a mortalidade infantil recuou e o salário mínimo aumentou, tudo isso levado pelo boom das comodities.

Dez anos depois, com as crises financeira e política, eleitores divididos e um recuo médio de 20% da renda per capta, o Brasil é um país no chão. “É possível compreender que alguns falem da volta do ‘salvador’”, explica a revista.

Outra razão para a volta de Lula é o próprio Jair Bolsonaro. Seus quatro anos de governo “instável”, “desgastante” e “incopetente” foram marcados pela inflação galopante, a negação da pandemia de Covid-19, o aumento do desmatamento e o isolamento internacional.

De acordo com a l’Obs, o trabalho de Lula será semelhante ao do presidente americano, Joe Biden: ele terá que governar bolsonaristas cujo líder recusa a derrota.  

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