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Le Monde compara Bolsonaro a Zemmour, polêmico candidato da extrema direita à presidência na França

O site do jornal Le Monde publica uma entrevista nesta quarta-feira (23) com o pesquisador brasileiro Miguel Lago. Para ele, o presidente Jair Bolsonaro e o candidato da extrema direita Éric Zemmour compartilham diversos pontos em comum e representam um perigo para a sociedade.

O candidato da extrema direita à presidência na França, Éric Zemmour durante comício em Saint-Quentin em 14 de janeiro de 2022.
O candidato da extrema direita à presidência na França, Éric Zemmour durante comício em Saint-Quentin em 14 de janeiro de 2022. AFP - BERTRAND GUAY
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"Zemmour é realmente o Bolsonaro francês" é o título da entrevista realizada pelo correspondente do Le Monde no Rio de Janeiro, Bruno Meyerfeld. Lago, que é professor da Universidade de Columbia, em Nova York, e da Sciences Po, em Paris, explica que como Bolsonaro, Zemmour se lançou na campanha eleitoral na França sem experiência política.

Outro ponto em comum entre os dois representantes da extrema direita seria o alcance da notoriedade através de suas opiniões, "dizendo o que pensam", e não através de ações. "Em 27 anos no Congresso, Bolsonaro não conseguiu aprovar quase nenhum projeto de lei. Mas ele sempre foi muito presente nas redes sociais e nas mídias, como Zemmour, editorialista e polemista de sucesso", diz. 

Além disso, o professor avalia que os dois representantes da extrema direita compartilham a mesma visão do mundo, que classifica como "paranoica", com a presença de "inimigos interiores". "No caso de Zemmour, são os 'cosmopolitas globais', pró-europeus e liberais, que conspirariam para substituir o povo francês. No caso de Bolsonaro, são os 'comunistas globalistas', ligados ao movimento LGBT, negros, indígenas ou defensores do meio ambiente, que enfraqueceriam o Brasil e o venderiam à potências estrangeiras", diz.

Segundo Lago, ambos se beneficiaram do apoio das elites e das mídias à radicalidade descomplexada, classifica por ele como um "modelo de negócio". "Nos dois casos, fizeram com que o negacionismo histórico e científico, a supremacia branca, a perseguição das minorias e a misoginia fossem ideias possíveis de serem debatidas. (...) A radicalização vende. Ela leva votos para as urnas, leitores para as livrarias e followers para as redes sociais. É uma armadilha que funcionou perfeitamente no Brasil e na qual a França está infelizmente caindo."

Intelectualidade separa Zemmour de Bolsonaro

No entanto, Lago constata várias diferenças entre essas duas controversas figuras políticas, sobretudo do ponto de vista intelectual. "Zemmour é um homem culto. Ele lê e cita Chateaubriand e Péguy, quando Bolsonaro provavelmente nunca abriu um livro em sua vida. Zemmour empurra o debate para a história, o regime de Vichy ou a colonização, quando Bolsonaro, formado em quarteis, conhece muito pouco a história de seu próprio país. Neste sentido, Zemmour é uma personalidade muito mais sofisticada que Bolsonaro", aponta. 

Sendo intelectuais ou não, o pesquisador adverte para o perigo para as sociedades ao permitir que personalidades como Zemmour e Bolsonaro ganhem espaço. Para ele, nenhum país sai ileso deste tipo de experiência política, que trazem consequências graves a longo prazo. 

"Uma vez que eles chegam ao poder, torna-se muito difícil erradicá-los. Vemos que Bolsonaro já está recusando o resultado das eleições brasileiras previstas para outubro de 2022. Mesmo que ele perca e deixe o poder, suas ideias continuarão prosperando. Os bolsonaristas representam 20% da população. Eles se estruturaram e vão ter peso na democracia durante anos", conclui.

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