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Brasil/Le Monde

“Guerra declarada entre Bolsonaro e Congresso brasileiro”, noticia Le Monde

O jornal francês Le Monde publicou em sua edição desse domingo/segunda-feira (2) uma matéria sobre a crise criada no Brasil depois que o presidente Jair Bolsonaro compartilhou o vídeo, supostamente criado por seus partidários, convocando para a manifestação a seu favor e contra os “poderes legislativo e judiciário”. Com chamada na primeira página, o vespertino afirma que o país vive “uma crise institucional grave”.

O presidente Jair Bolsonaro afirmou , durante sua live semanal no Facebook, que não está estimulando protestos contra o Congresso Nacional e o Judiciário. 28/02/2020
O presidente Jair Bolsonaro afirmou , durante sua live semanal no Facebook, que não está estimulando protestos contra o Congresso Nacional e o Judiciário. 28/02/2020 Live via Agencia Brasil
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A matéria é assinada pelo correspondente do diário no Brasil, Bruno Meyerfeld. Ele diz que este ano o Carnaval não conseguiu acalmar a política brasileira. Muito pelo contrário. Desde a Terça-feira Gorda, quando o caso foi revelado pela jornalista Vera Magalhães do Estadão, o compartilhamento do vídeo pelo presidente no WhatsApp agita o país e tem consequências imprevisíveis.

O clip de dois minutos, convocando para as manifestações de 15 de março, tem um tom “ultradramático”, descreve o correspondente. O vídeo apresenta “o presidente como ‘um trabalhador incansável, cristão, patriota’ e pede à população para ir às ruas defende-lo contra os ‘inimigos do Brasil’, isto é, o Congresso e o STF”, completa o texto.

Pouco importa o fato de Bolsonaro não ser o autor do clip e da mensagem não propor diretamente um golpe de Estado, aponta Meyerfeld. Grande parte da classe política brasileira, de ontem e de hoje, de esquerda como de direita, se insurgiu imediatamente contra o comportamento presidencial, a começar pelos dois ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.

Nas páginas do Le Monde, o deputado David Miranda, do PSOL, diz que “Bolsonaro cometeu um crime de responsabilidade, que, a cada dia que passa, avança para tentar instalar um regime autoritário e pede a abertura de um processo de impeachment no Congresso”.

Críticas do STF

Ainda mais grave, segundo o texto, foram as críticas do Supremo Tribunal Federal, a mais alta instância judiciária do país. Le Monde reproduz a fala de Celso de Mello, o decano do STF. De acordo com o ministro, o episódio revela “a face sombria do presidente da República que não conhece o valor da ordem institucional e ignora o sentido fundamental da separação entre os poderes”. Celso Mello deu a entender que o STF poderia se interessar pelo “escândalo WhatsApp”.

Para o correspondente do Le Monde, Bolsonaro, “assustado” com as reações, tentou acalmar a situação, multiplicando telefonemas para deputados e senadores indignados. Na verdade, a crise é “sintomática das relações tensas entre o presidente e o Parlamento”. O jornal enumera todos os atritos entre os dois poderes desde o início da era Bolsonaro: em maio de 2019, milhares de partidários do presidente se manifestaram contra o fim da ‘velha política’ encarnada pelo Congresso; em 18 de fevereiro deste ano, o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e braço direito do presidente, acusou os deputados e senadores de chantagistas.

Congresso recuperou legitimidade

“Com a inexperiência e o caos que reina no executivo brasileiro, o Congresso ganhou mais poder do que nunca” e bloqueou várias iniciativas presidenciais. O nome que aglutina essa ação é o do “hábil” presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, aponta Le Monde.

Os deputados brasileiros não se contentam somente em resistir. Eles também tomam a iniciativa e propõem as suas próprias reformas. Somente um em cada cinco projetos de lei votados em 2019 teria sido elaborado pelo Executivo, contra 70% na era Lula, compara o jornal.

A República brasileira passou de um presidencialismo pura a um semiparlamentarismo? questiona o jornal. Antigamente símbolo de corrupção, o Congresso foi “amplamente renovado em 2018 e recuperou em parte sua legitimidade”, analisa o cientista político e historiador da UERJ, Christian Lynch, entrevistado pelo Le Monde. O especialista ressalta, no entanto, que a ideologia que une a Câmara dos Deputados brasileira é “hegemonicamente conservadora e de direita”.

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