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Política/Lula

Depressão vertiginosa que o Brasil atravessa também é herança da esquerda, diz Le Monde

O correspondente do jornal Le Monde no Brasil, Bruno Meyerfeld, questiona em uma análise publicada nesta terça-feira (19) se Lula será o "salvador" ou o "coveiro" da esquerda e até mesmo do Brasil.

Festival Lula Livre em Recife.
Festival Lula Livre em Recife. Ricardo Stuckert
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Apesar de ter se atribuído a missão imperiosa de "salvar o país", depois de deixar a prisão no dia 8 de novembro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não foi inocentado e está inelegível, pelo menos por enquanto, assinala o Le Monde. Entre várias considerações que o correspondente do respeitado jornal francês se propõe a analisar, a pergunta mais incisiva é se Lula tirou as lições do passado.

Para seus partidários, o líder petista representa mais do que uma alternativa ao governo de extrema direita de Jair Bolsonaro, diz o texto. "Ele é mais que um líder, que uma tábua de salvação: é uma paixão", constata o correspondente do Monde. Mas aos 74 anos, 40 anos de carreira política e oito anos de governo (2003-2010) na bagagem, Lula ainda tem condições de encarnar o futuro do Brasil?

Na avaliação do jornalista, o Lula que deixou a prisão não é mais o "Lulinha paz e amor", generoso e até ingênuo, como demonstrou algumas vezes. "Ele é um homem humilhado e revoltado, mais complexo e tempestuoso do que nunca, diferente daquele que dirigiu o Brasil no começo dos anos 2000." Lula mudou, e o Brasil mudou.

O líder da esquerda promete distribuir livros, empregos e dar acesso à cultura, mas se ele voltasse ao poder encontraria uma situação muito diferente do confortável crescimento que presenciou quando foi presidente. Ele teria de enfrentar um país endividado e mergulhado no marasmo econômico. Seria bem difícil aplicar uma política de "distribuição" nesse contexto, acredita o jornal. Além disso, o Partido dos Trabalhadores teria de enfrentar os poderosos lobbies de evangélicos, ruralistas e militares, que se aglutinaram em torno de Bolsonaro. Outro desafio, talvez o mais difícil, seria governar contra boa parte da população, radicalizada e adepta das ideias de extrema direita, "que vomitam que Lula e a esquerda são sinônimos de corrupção e insegurança".

Na avaliação do Le Monde, para encarnar algo de novo, e representar uma esperança contra a extrema direita, a esquerda brasileira precisaria fazer uma grande introspecção, talvez criar um novo partido, com novas caras. Explorar as causas da grave derrota de 2018 e fazer um inventário dos 13 anos passados no poder, incluindo os governos de Dilma Rousseff.

"Apesar dos progressos, de 40 milhões de pessoas terem saído da pobreza durante os governos petistas, a esquerda não soube (ou não quis?) fazer as reformas estruturais que o país necessitava. Por pressa ou por prudência, a esquerda não atacou os problemas fundamentais de educação, meio ambiente, saúde, segurança, polícia, instituições políticas e meios de comunicação. Lula encarnou a face mais luminosa, a mais generosa do sistema brasileiro, enquanto Bolsonaro representa hoje o viés mais duro e obscurantista. Lula melhorou o Brasil, mas ele não o modificou", assinala o correspondente do Monde. "Com isso, o grande retrocesso bolsonarista se revela ainda mais violento e fácil", acrescenta.

A depressão vertiginosa que o Brasil atravessa também é uma herança da esquerda, conclui o Le Monde.

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